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Celebramos hoje a aparição de Nossa Senhora das Graças a Santa Catarina Labouré, ocorrida em 1830, em Paris, mais precisamente na casa geral da Congregação das Filhas da Caridade, de São Vicente de Paulo. Nessa aparição, a Virgem Santíssima revelou a devoção à Medalha Milagrosa, na qual consta, de um lado, a imagem de Nossa Senhora das Graças pisando sobre a cabeça da serpente, e, de outro, o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria, junto a outros símbolos.

Para compreender o significado dessa devoção, é necessário tratarmos sobre o projeto de Deus na história humana, principalmente nos últimos quatro séculos. A partir de 1673, iniciaram-se as revelações do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, nas quais Nosso Senhor mostra seu coração sofrendo com os pecados dos seus consagrados (padres, bispos, religiosos e religiosas) e pede que a França seja consagrada ao seu Sagrado Coração. Seu pedido não foi atendido, e um século depois, em 1789, irrompeu a Revolução Francesa, que — embora seja apresentada distorcidamente como marco da vitória da razão sobre o absolutismo — na prática, consistiu em uma grande carnificina, realizada tanto por meio dos conflitos armados quanto pelas execuções na guilhotina.

Depois de implantada a mentalidade revolucionária, ocorre, em 1830, a aparição de Nossa Senhora das Graças, na qual ela nos ensina a invocá-la através da jaculatória “Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”. Na década seguinte, em 1846, Nossa Senhora em La Salette aparece chorando pelos pecados do clero e dos religiosos. E, em 1858, ela aparece em Lourdes, identificando-se como a “Imaculada Conceição”. No século XX, com a ascensão do comunismo, que é um dos mais terríveis frutos da mentalidade revolucionária, Nossa Senhora aparece em Fátima, em 1917, mostrando o seu Imaculado Coração.

Essas aparições do Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora são uma resposta do Céu à Revolução que se iniciou na França, mas que espalhou seus malefícios pelo mundo. A intervenção do Filho de Deus e de sua mãe Maria demonstram que a Revolução Francesa, com seus frutos, é uma realidade satânica — uma revolta da criatura contra o Criador — que precisa ser esmagada pela Virgem Santíssima.

Para compreender isso, é preciso observar que, na aparição de Nossa Senhora das Graças, Maria se apresenta com anéis em suas mãos, de alguns deles saem luzes e de outros não; esses últimos, segundo ela, são as graças que as pessoas deveriam ter pedido, mas não o fizeram. Tais graças não foram recebidas justamente porque as pessoas não tiveram a humildade para suplicar a intervenção sobrenatural. Essa falta de humildade faz parte da atmosfera revolucionária que paira sobre nós. As revoluções implantam no coração humano o sentimento de superioridade em relação a Deus. A humanidade repete em coro o “nom serviam” luciferino, a fim de ignorar as verdades de fé reveladas por Deus e confiadas à Igreja.

Nossa Senhora, a mais perfeita de todas as criaturas, e Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus que se fez homem, ensinam-nos que a salvação só pode ser alcançada por meio da humildade, como já advertia o apóstolo Pedro: “Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que, no tempo oportuno, Ele vos exalte. Lançai sobre Ele todas as vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós” (1Pd 5, 6-7).

Olhemos, pois, para o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria, dois corações humildes e sem mácula. Precisamos nos configurar a eles, pois não podemos crescer na fé sem humildade e pureza de coração; só assim conseguiremos, em nossas vidas, esmagar a cabeça da serpente.

Deus nos deu uma vocação sobrenatural. Mas, na nossa soberba e depravação, escolhemos rejeitar a Deus, ignorando o sobrenatural; com isso, acabamos negando a própria natureza humana e passamos a viver como animais irracionais, entregues aos instintos. Através de Nossa Senhora das Graças, Deus exorta a humanidade a recordar sua vocação sobrenatural. Nesse sentido, o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria são instrumentos de Deus para transformar os nossos corações, infundindo neles um amor sobrenatural.

Sejamos, pois, humildes e puros, obedecendo os mandamentos de Deus e suplicando a Ele que restaure a pureza em nós. Ouçamos Nossa Senhora das Graças e agarremo-nos a sua santa e milagrosa Medalha, não como um amuleto mágico, mas como um instrumento deixado pela Mãe do Céu para nos recordar que ainda não estamos pedindo as graças necessárias para a nossa salvação.

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