Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 11, 28-30)
Naquele tempo, tomou Jesus a palavra e disse: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
Vemos hoje a conhecida passagem do Evangelho de São Mateus, também conhecida como o grito do Redentor, em que Jesus diz: “Vinde a mim todos vós com os vossos fardos pesados, e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28).
Contudo, de que forma Cristo irá aliviar o nosso fardo pesado e nos dar descanso? Apresentando-nos uma proposta que pode parecer estranha: substituir o peso dos nossos pecados e egoísmos por um outro muito mais suave.
É importante sabermos que o pecado nos deixa tristes e extenuados. Sabe muito bem disso a pessoa que leva uma vida mundana, entregue a baladas, bebidas, sexo desregrado e drogas. Alguém assim sofre terrivelmente, porque desistiu de amar. O cansaço do pecado impede a pessoa de fazer o bem e tira a sua juventude. Ela, mesmo que seja jovem, torna-se “velha”, pois o pecado a desespera e a faz desistir, ainda que seja típico do jovem ter esperança.
Nessa situação, Jesus faz um convite para irmos até Ele, pois é o único que pode nos aliviar, tirando, das nossas costas, o peso do pecado e colocando, em seu lugar, o suave peso do amor. Sim, o amor também é um fardo pesado, mas é completamente diferente do peso do pecado, porque enche a vida de sentido e, portanto, de alegria, sabendo que somos amados e que precisamos retribuir o amor.
Mas onde vamos aprender a carregar o peso do amor de Cristo, que nos impele? Na “escola” do próprio Coração de Jesus. “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). Ora, o nosso coração não é humilde diante de Deus; é soberbo. Ele não é manso diante dos irmãos; é irado e agressivo. Por isso, Jesus, Deus que se fez homem, humilhou a si mesmo para nos ensinar que a humilhação é redentora. Aprendamos, portanto, que, quando nos humilhamos diante de Nosso Senhor, somos redimidos.
Jesus, que poderia castigar os pecadores com sua ira divina, reagiu com mansidão, aceitando as ofensas, perdoando e sendo amigo de todos. Por isso, precisamos ser extremamente gratos a Deus, tentando retribuir ao máximo esse seu divino amor tão misericordioso e aceitando carregar o doce peso da caridade de Cristo.
O que achou desse conteúdo?
Vivemos uma sociedade do prazer! No planeta Woodstock! Sexo, drogas e rock and roll! Precisamos sair deste mundo, e carregarmos a nossa cruz, com amor a Nosso Senhor Jesus Cristo!
“Vinde a mim todos vós com os vossos fardos pesados, e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28).
Amém 🙏 🙏 🙏
Aprofundamento Diário #41
17 de julho 2024
Primeira Leitura: Is 10,5-7.13-16 | Salmo: 93 (94) | Evangelho: Mt 11,25-27
Reflexão de hoje
Ser pequeno para pensar como Deus pensa
O Evangelho de hoje nos fala para quem Deus se revela e de quem Ele se esconde.
Existe um saber que vem da fé, que Deus coloca em nós por meio de um dom de sabedoria e revelação interior. Há também um conhecimento que o ser humano pode buscar e deve encontrar através da inteligência, da pesquisa, do esforço mental. Isso é muito importante, mas existe um grau de conhecimento que vai além disso. Esse conhecimento diz respeito a quem é Jesus, o que vale a pena buscar na vida, pelo que vale a pena sofrer, chorar, o que de fato é louvável e o que é um desperdício.
Este parâmetro que o ser humano utiliza para pautar a vida passa por um dom de Deus concedido aos pequeninos.
Versículos antes do Evangelho de hoje - Mt 11, 20-24 - que não foi proclamado por termos celebrado a festa litúrgica de Nossa Senhora do Carmo - Jesus diz: "Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida!". Estas são as cidades que Ele visitou e onde os discípulos tinham ido em missão. Ele diz que se os milagres realizados ali tivessem ocorrido em Sodoma e Gomorra, até elas teriam se convertido.
Voltando um pouco mais, ainda no capítulo 11 de São Mateus, vemos que Jesus envia os discípulos e eles voltam maravilhados, contando o que Deus havia feito através deles. O fruto disso, portanto, é a conversão, que está entre os versículos 20 e 24.
A pequenez é o que nos faz entender as coisas corretamente. Cidades que viveram milagres e viram portentos, coisas que Sodoma e Gomorra não viram, não mudaram. Jesus concluiu, e não acho que Ele estivesse errado, que se Sodoma e Gomorra tivessem visto, vivido e recebido esses milagres, teriam mudado. Corazim e Betsaida, no entanto, não mudaram, mesmo tendo recebido o fruto da penitência e da conversão.
Ao mesmo tempo, Jesus tinha ao redor de si os seus discípulos e uma pequena multidão, incluindo os dois apóstolos que haviam mudado e progredido muito. Jesus e os discípulos também lidavam com os fariseus, saduceus, mestres da lei, herodianos e as polêmicas que surgiam. Onde Jesus passava, causava amores e ódios e também confusão.
O Evangelho de hoje começa com um louvor de Jesus: "Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos". (Mt 11, 25). Revelação é uma palavra que talvez alguns mais antigos entendam com mais propriedade, como no tempo em que se usavam aquelas máquinas fotográficas da Kodak ou Yashica. Comprava-se um filme e era preciso revelar a foto. Após fotografar, pegava- se o filme e colocava-se contra a luz para tentar ver a fotografia. Muitas delas nem eram reveladas.
Imagina quantos, ao ouvirem Jesus, ficavam com cara de nojo. Às vezes, durante a homilia, há pessoas que olham assim para o padre. Jesus via os discípulos na alegria, prontidão e disponibilidade, enquanto muitos ainda estavam amarrados e pesados com as coisas do mundo. Jesus está dizendo no versículo 25 que Deus esconde estas coisas dos que se consideram sábios e entendidos, desta sabedoria e entendimento próprios dos herodianos e dos fariseus.
Quantas pessoas escolhem buscar serem vistas como sábias e entendidas aos olhos de quem é totalmente o oposto do Evangelho? Essa é uma escolha que você também faz: de quem você quer o aplauso? Quem você quer que fique admirando você? Há pessoas de todos os tipos, e a gente agrada quem quer. Jesus está dizendo que as coisas do Reino, como a conversão e o próprio Jesus, estão escondidas dos sábios e entendidos, mas Deus as revelou aos pequeninos. Isso não é apenas esforço humano; é Deus que completa uma postura humana diante dEle.
Na prática, até hoje, quem de fato anda junto com Jesus? Somente quem é pequenino. São Paulo, na carta aos Coríntios, vai dizer que não entende por que os coríntios são tão problemáticos. Ele explica que Deus escolhe as coisas fracas para confundir as fortes, as coisas loucas para confundir as sábias. Ele diz: “Entre vós, não há muitos ricos, nem sábios, doutores e entendidos das coisas deste mundo; apenas um ou outro. A grande maioria de vocês eram o que? São o que? Gente que passa até despercebida.” Isso sempre foi e sempre será assim. A Igreja é um ajuntamento de gente comum. Deus suscita um ou outro um pouco fora da curva para agregar algo. As aptidões humanas importam e ajudam, mas uma comunidade, uma paróquia é a soma de muitos pequeninos, às vezes até no sentido humano mesmo.
Parece que aqueles que humanamente não são tão pequeninos olham para nós e pensam: “- Eu tenho mais o que fazer do que ficar no meio desse povo que reza.” Essa é a verdade. Mas esse ser pequenino é, sobretudo, uma postura da alma humana. Graças a Deus, existem pessoas de profunda cultura, sabedoria humana e potencial humano muito grande que são pequeninos. Como também existe um monte de gente que, humanamente falando, é muito pequenina e é chata, presunçosa, arrogante. Humildade não é uma condição social; a humildade é uma virtude, que às vezes é facilitada ou atrapalhada pelas condições humanas. Cada uma de nossas virtudes é ajudada ou atrapalhada por coisas muito humanas, mas a virtude propriamente dita é algo da alma.
Ser pequenino diante de Deus é algo que muitas pessoas, em sua grandeza, alcançaram pela experiência da própria miséria e limite. Por exemplo, alguém muito rico pode pensar: “- Se não fosse Nossa Senhora interceder, meu filho teria morrido.” Ou alguém muito poderoso pode dizer: “- Se não fosse aquela missa, aquele padre, aquele acampamento, eu não teria conseguido.” A partir daí a pessoa se torna pequenina, ou seja, fica do tamanho certo diante de Deus. Diante de Deus, todos são pequeninos. Isso é algo que nunca podemos esquecer.
Jesus está dizendo que Ele revela, que Ele tira o véu, descortina um mundo, um horizonte de saber da fé que redimensiona nossa vida, nos colocando em outra postura e nos ajuda a ler as coisas do jeito certo.
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Na primeira leitura, Deus nos puxa a orelha através do profeta Isaías, fazendo uma profecia pesada a respeito do Assur. “Mas ele assim não pensava, seu propósito não era esse; pelo contrário, sua intenção era esmagar e exterminar não poucas nações" (Is 10, 7). Olha que interessante: Assur ficou grande, cumpriu um papel dentro da providência de Deus, mas não ficou pequenino diante de Deus. E aqui está o segredo de tudo na vida. Deus olha para nós, chama os anjos, os santos e fala assim: “- São Miguel, vem cá, olha lá o Padre Mario, olha lá a Dona Maria, olha lá a Cremilda, olha lá o Filisberto. Eu fiz "assim e assado" por ele em favor disso e daquilo…” Imagine que enquanto Deus está contando sua história, Nossa Senhora, São José, os Arcanjos estão olhando para Deus. Então, Ele diz a frase mais triste que pode ser dita sobre um ser humano: “Mas ele não pensava assim, seu propósito não era esse.”
Aqui está o que é a conversão, a salvação e a condenação. Falamos tanto de conversão, mas afinal, o que ela significa? Está aqui: “Mas ele não pensava assim.” Pronto, este(a) é o(a) desconvertido ou o não convertido ainda. Deus age, Deus entra nas nossas vidas, mas eu não penso da mesma forma. Esse pensar diferente de Deus é onde se encontra a conversão necessária. Pensar como Deus pensa, olhar como Deus olha, isso é conversão.
É por isso que, para muitas pessoas, a fé é algo pesado. Tem muita gente que não está fazendo coisas erradas, está fazendo o certo, mas continua triste, cansado, com a "língua de fora" dizendo: “- Eu não aguento mais, o cristianismo é um fardo, o catolicismo é uma coisa antiquada, que se não fizer tal coisa vai para o inferno né, fazer o que… E por aí vai”. Aqui está a imagem de cristãos azedos, cansados, pessimistas, desmotivados, que não têm vibração, que não têm sal, que nunca evangelizaram ninguém, que não se animam a dividir Jesus com ninguém, que não têm coragem de pegar uma homilia e mandar no WhatsApp dos outros. A pessoa não tem nada, mas aí você olha e vê que a pessoa é quase que ilibada, é um "chuchu", mas é sem sal, aguado(a).
Meu irmãos, você pode passar a vida inteira na religião, fazendo tudo o que Deus manda, por medo dEle. E uma certa dose de medo de Deus é importante, sim. Jesus mesmo falou: “Não temam quem mata o corpo, temam antes aquele que pode jogar sua alma no inferno.” É bom ter medo, o dom do temor. Mas veja bem, quando eu não penso como Deus pensa, eu obedeço sem alegria, sem fruto, sem profundidade e não produzo virtude. É possível fazer algo e não se apropriar do algo, assim como um robô.
Tem gente que passa a vida assim diante de Deus, porque não pensa como Deus pensa. Tem uma piadinha do Chaves que ilustra bem isso: "Chaves, sim, querido professor, me responda, eu tenho quatro laranjas, como uma, quantas me restam?" "Ah, é muito fácil, pergunte outra coisa". "Sim, Chavinho, é fácil, mas primeiro me responda isso". "Ah, mas isso é muito fácil, pergunte outra coisa". "Sim, Chaves, mas primeiro isso, eu tenho quatro laranjas, como uma, quantas me restam?" "Ah, mas o senhor tem quatro laranjas e come uma.." "Sim, quantas sobram, Chaves?" "Ah, é muito fácil, pergunte outra". "Chaves, primeiro me responda isso". "Tá, o senhor tem quatro laranjas? Aí o senhor vai comer uma…" "Isso, quantas sobram?" "Ah, eu sabia essa com maçãs…" Aí passa a vida inteira assim, só sabendo com a maçã e dizendo que não consegue fazer nada. Percebe?
A fé nos foi dada não só para sentirmos medo do inferno, mas para nos libertar de nós mesmos, nos libertar de tantas coisas e sabermos que quatro laranjas menos uma são três laranjas. Isso é a fé. Mas ele não pensava assim.
Existe um processo em nós de revelação de Deus e das coisas de Deus. Ao sermos pequeninos diante de Deus, Ele vai se revelando a nós. E aqui está, então, o que é a conversão. Quando o assunto é casamento, Deus olha às vezes para a terra e vê quem é casado.
Deus pensa algo sobre esse matrimônio, sobre você e a seu esposo(a), você e sua esposa e o papel de cada um na vida do outro na etapa da vida em que vocês estão. Você está lá fiel, amarrado no toco, é ou não é verdade? A senhora está lá como uma escrava com os olhos fitos já há quase 50 anos, entretanto amarga, azeda, depressiva; ele distante, magoado e ferido. Por quê disso? Simplesmente por que estão ali, e, claro, às vezes nem estão fazendo o que é errado, mas não pensam como Deus pensa.
Deus pensa que você é a tampa certa dessa panelinha de ignorância, de teimosia, mas que tem lá suas qualidades. É assim que Deus pensa, que você com a sua docilidade, com a sua oração completa um pouco desse homem esforçado, porém um tanto bruto, simples. Deus pensa assim, mas e a senhora, pensa como? "Eu sou a escrava velha aqui…" e sai dizendo: "Isso filha, casa para você ver, depois você conta para a mãe..." Oh, minha senhora, se você pensasse como Deus pensa, parava até de tomar remédio.
E o mesmo vale para os homens também, que reclamam das mulheres: "- Padre, mas ela fala demais, tudo ela tem medo, eu não posso dividir as coisas que começa a chorar." E Deus te olha como aquele que, para ela, nessa etapa que vocês estão, é sinal de um Deus que é proteção, amor gratuito, que vê para além das aparências. Mas não é assim que ele se vê. Ele pensa assim: "- O que eu fiz da minha vida? Se eu soubesse antes o que é agora, teria ido embora antes do final."
Quando um padre vai para uma paróquia nova (e às vezes a paróquia não é muito animadora) ele pensa: "Meu Deus, o bispo me castigou. O que vim fazer neste fim de mundo?" Mas como é que Deus pensa sobre a mesma situação? Deus pensa: "Nossa, você é tão novo, não tem mais nada para fazer da vida, então vai trabalhar, mudar as coisas. Vai para cima, agarra que é teu." Isso que Deus pensa e pede. Pensar como Deus pensa é algo que muitas vezes contraria e tromba com o nosso saber presunçoso.
A vida tem um mistério que nos escapa, não é verdade? Está lá no profeta Isaías: "Os meus caminhos estão acima dos vossos, e o meu saber está tão acima do teu como o céu está acima da terra." Existe uma dimensão da vida que eu não sei, e porque não sei, não preciso ficar nem depressivo nem irado. Eu só não sei, e tudo que eu não sei, Deus sabe. E Ele sabe com amor, sabe com providência, sabe com propósito e destino, porque o caminho dEle está tão acima do meu como o céu está da terra.
Em Jeremias 33,31, está escrito: "Eu é que sei dos meus sonhos e desígnios para vós, do meu projeto para vós, projeto de vida, não de morte, de alegria, não de tristeza, de prosperidade, não de desgraça."
Quando vamos nos abandonando um pouquinho nessa nuvem do não saber das coisas, Deus vai conduzindo a nossa vida. Mas se formos tomados por esse jeitinho enjoado de ser, e se tudo que eu não sei ou tudo o que é contrário ao meu saber me irrita ou me amedronta, a vida fica muito rasa; e então, o inferno já começa aqui mesmo na terra. Portanto, consentir com o saber de Deus é essencial.
"Mas acaso gloria-se o machado, em detrimento do lenhador que com ele corta? Ou se exalta a serra contra o serrador que a maneja? Como se a vara movesse quem a levanta e um bastão erguesse aquele que não é madeira." (Is 10, 15). Imagina o machado achar que é mais importante que o lenhador. Imagina uma bola de futebol achar que ela é mais importante que o pé do sujeito que chuta. Tem sentido isso? Mas nós, queridos, muitas vezes fazemos isso. Nos arrogamos das coisas que produzimos, das coisas que alcançamos
Podemos suar tanto a camisa, gastar tanto a inteligência e até conseguir o que queremos, mas quem nos deu essa inteligência? Quem nos deu essa força moral de saber esperar? Quem nos deu uma luz interior para entender o que tanta gente não entende? Tantos por aí batendo cabeça, por exemplo, com dinheiro. Sua família deve ter alguém assim, perto de você deve ter. Você fala: "- Gente, mas fulano(a) vive devendo, vive não sei o quê, não consegue se organizar." Aí você pensa: "- Eu não, padre, eu não tenho luxo. Para mim não tem esse negócio de marca, eu não tenho essas coisas, mas graças a Deus fui organizado, não devo nada para ninguém, juntei, comprei, paguei." Parabéns, graças a Deus! Eu sei que isso te custou algum esforço, mas quem te deu esse "pino" a mais na cabeça que a tua cunhada não tem na cabeça? Quem te deu essa dosezinha de juízo que o teu irmão não tem? É Deus quem dá. Nós gastamos e exercitamos, mas a matéria-prima quem deu foi Deus.
Você não acha um mistério você ser essa pessoa incrível que você é? Ou você acha que é só esforço? É um esforço em cima de uma graça. Você nunca contemplou esses mistérios? Você nunca parou para pensar e aceitar que, sem explicação, a gente não sabe o porquê e nem como?
Você já reparou como tem gente rasa? Pessoas que, por mais que você peça, não conseguem dar mais do que aquilo. Como a gente sofre com isso, né? Quando você pega a BR para andar de carro, andando a 80, 100, 120 km/h, e de vez em quando aparecem na estrada aqueles tratores que ocupam uma pista e meia, andando a 20 ou 25km/h. Aí você segue de carro atrás deles, mas em algum momento começa a se irritar, porque eles estão te atrasando. Pense bem: adianta ficar buzinando para um trator desses andar mais rápido? Ele não consegue andar mais rápido, ele anda a vinte por hora mesmo. O que precisa ser feito é ultrapassar e seguir em frente. Tem sentido exigir que um trator esteja a 80, 100km/h? Ele não anda nessa velocidade.
Acho que você e eu já encontramos pessoas que são como esses tratores. Elas andam a vinte por hora na estrada da vida, e a gente fica lá se perguntando por que não vão mais rápido. Talvez você já tenha constatado isso, olhando com honestidade e verdade para algumas pessoas. Isso não é ser preconceituoso ou arrogante, é apenas reconhecer uma realidade. Às vezes, você ama de paixão, mas a pessoa é um trator, não vai mais rápido que aquilo. Não consegue entender mais do que já entende e tudo bem.
Às vezes, a gente se acha mais profundo ou mais rápido do que muitas pessoas, e isso é uma graça. Quem deu isso a nós? Se você não acolher e não trabalhar em cima disso, não adianta nada. Porém, depois de tudo muito bem trabalhado, reconheça quem foi que deu essa graça: é Deus que dá essa graça.
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Voltando ao Evangelho, em Mateus 11, 26-27, Jesus diz: "Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar." Para conhecer a Deus, Jesus precisa revelar e Ele diz que revela a quem quiser.
Será que existe alguém a quem Jesus não quer revelar Deus? Claro que não, Ele quer revelar Deus a todos. Jesus quer revelar Deus a todos, porque é esse mesmo Jesus que conta a parábola do semeador, onde diz que o semeador saiu a semear e jogou a semente para todo lado, até onde nem tinha terra. Jesus está todo dia, o dia inteiro, na vida de cada um de nós querendo revelar o Pai, revelar Deus.
Hoje é dia de Santo Inácio de Azevedo e seus companheiros mártires. Padre Inácio de Azevedo nasceu em Portugal, numa família nobre. Com 22 anos de idade, já era jesuíta e, aos 40 anos, foi enviado para o Brasil, ainda no século XVI, no final dos anos 1500. Ele veio ao Brasil e aqui ficou dois anos. Após esse período, tomou uma decisão: voltar para Portugal.
Vamos imaginar o que era o Brasil nos anos 1580, 1590. Ele chegou aqui com alguns poucos padres e, depois de dois anos, decidiu retornar a Portugal. Para quê? Ele voltou para conseguir, principalmente entre os jesuítas, que eram muitos, mais jovens seminaristas que viessem terminar sua preparação para o sacerdócio no Brasil.
Passado um ano e pouco, ele conseguiu organizar uma nova expedição, definitiva ao Brasil. Eles viriam ao Brasil para nunca mais voltar para sua terra, Portugal. Naquela época, não havia WhatsApp, Instagram, telefone, nada disso, então, ele voltou com mais 40 pessoas, sendo 32 portugueses, 33 contando com ele, e oito espanhóis. Chegando próximo ao Brasil, foram interceptados por piratas calvinistas que os mataram em alto mar. 40 mártires do Brasil, que nem chegaram a pisar aqui, mas vieram com o intuito de evangelizar.
Agora, vamos pensar: o que faz alguém escolher isso para a própria vida? O que faz alguém escolher esse caminho para si mesmo? O que faz alguém ser atraído por isso? E o que faz alguém ser tão livre deste mundo? Portugueses e espanhóis de 20 e poucos anos, que já tinham dado um passo muito interessante na vida, já eram religiosos, alguns padres, outros quase padres. Já destoava de 95% das pessoas, mas o que fazia, dentro desse grupo, esses indivíduos entrarem num barco, num navio – e quando falamos navio, temos a imagem dos navios modernos que vemos nos portos hoje, mas não, era um navio há 500 anos, imagina o tamanho e a segurança que tinham.. Enfim, entraram neste navio para ficar mais de um mês no mar até chegar num lugar chamado Brasil, para nunca mais voltar para casa. De onde vem essa liberdade, ou, se você preferir, essa loucura senão de uma revelação profunda do que é a vida, do que é o céu, do que vale a pena, do quanto custa, do quanto Jesus vale?
Olhando então hoje para o testemunho desses que foram assassinados dentro de um barco antes de chegar ao Brasil, olhemos também para nossa própria vida pensemos: nós também precisamos que Jesus nos revele o Pai e tire o véu da nossa cabeça.
Ao conhecer a história de um santo, de uma santa, de um mártir é preciso se animar, se motivar, mas também se questionar: o que tem nos amarrado? O que tem nos pesado? Por que temos chorado? Por que estamos sem sono? Por que estamos nervosos? O que nos move?
Sei que você não pensa "Nossa, que bando de doidos" quando conhece essas histórias dos santos. Imagino que você pense: "Nossa, que lindo!". Pois é, e essas histórias tão lindas,
especialmente a de hoje, junto ao Evangelho sobre os pequeninos e a revelação de Deus, o que nos questiona e nos diz?
Existe um grau de liberdade, de impulso, de alegria, que só quem é pequenino aos olhos de Deus pode receber, senão passamos a vida aqui como escravos, atormentados e atormentando os outros, porque consideramos precioso e imprescindível aquilo que, aos olhos de Deus, não tem valor algum. E se aos olhos de Deus não tem valor, aos nossos olhos também não deveria ter. Mas Assur não pensava assim, não é?
Que Deus nos liberte desse Assur que existe dentro de nós e nos conceda a graça da pequenez e da humildade.
obrigada padre Paulo Ricardo e equipe, por mim ensinar tanto.
Senhor fazei com que carreguemos o nosso fardo, sempre que necessário para remissão dos nossos pecados.
Amor de Cristo: Jugo suave e Peso leve que nos impele e descansa.
🙏
Uma beleza de homilia! Obrigada Pe Paulo Ricardo
Amém.