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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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No Evangelho da Transfiguração do Senhor, Deus Pai nos diz: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!” (Mt 17, 5c). Esta realidade de escutar a Deus é ocasião propícia para refletir sobre o que o mundo, não a Igreja, celebra hoje, Dia Internacional da Mulher.

É tolice vangloriar-se de ser homem ou mulher, fato que, por si só, não traz qualquer vantagem, mas sim uma missão. Nesse sentido, o discurso sobre “igualdade de sexos” é coisa das mais absurdas. Ora, uma vez que não somos materialistas, podemos dizer que as mulheres já “partiram na frente”. Se acreditamos que o mais importante na vida está no mundo espiritual, tem vantagem quem é mais capaz de chegar à alma do outro.

Para o ilustrar, imaginemos o trato que os adultos têm com as crianças. Quando o pai, atrasado e às apalpadela, consegue enfim ter acesso ao mundo da criança, a mãe está lá faz tempo. É dela que parte, naturalmente, a primeira educação das crianças. Ora, das duas missões, qual é a mais importante, trazer dinheiro para casa ou educar a alma de um filho?

Não é isso, porém, o que se tem ensinado às mulheres. O Dia Internacional da Mulher foi inventado para as convencer de que seriam vítimas, homens “inferiores”, se permanecessem ao invés de lutar pelo “empoderamento”. Mas isso não passa de um jogo de linguagem manipulador. Afinal, quando a mulher sai de casa para trabalhar e ser igual ao homem, quem entra em casa é um funcionário do governo para lhe educar o filho.

O discurso de “empoderamento feminino” tem, na verdade, o efeito contrário ao que aparenta significar: subtrair à mulher o poder de educar os próprios filhos para o delegar ao governo e o submeter à influência de ONGs abortistas e LGBTs, de militantes marxistas e de ideólogos; numa palavra, terceirizar a educação dos filhos a funcionários de ideologias. Enquanto todos, homens e mulheres, correm sofregamente atrás do dinheiro, as almas de crianças e de jovens são entregues nas mãos dos “sábios” de hoje, especializados em levar pessoas para o Inferno.

Graças à trapaça linguística do “empoderamento”, as mulheres renunciaram ao maior poder que possuíam, a capacidade de serem as principais educadoras dos próprios filhos. Tendo esses fatos claros, é compreensível que fiquemos com raiva de nós mesmos por não tê-los enxergado antes. Quantos pais percebem tarde demais que entregaram, durante boa parte da vida, a educação dos filhos a gente sem valor!

Ora, a mulher não tem valor só por sê-lo. Ela vale o que valem suas virtudes, o seu amor a Deus etc. Assim também o homem. Que valor tem um satanista? um ditador? um assassino violento? um profano, sacrílego? Da mesma forma, a mulher que se envolve com feitiçarias, que faz pacto com Satanás etc. tem o mesmo valor que esses homens: nenhum. Há mulheres assassinas, corruptas e mentirosas; há mulheres que roubam, fazem o mal e vão para o Inferno.

Não há nada mais democraticamente distribuído do que o pecado, e isto a Igreja Católica faz questão de lembrar. Satanás, por outro lado, é especialista em criar grupos socialmente “imunes” ao Evangelho: os negros são vítimas, então não se pode dizer que os negros cometem pecados, isso seria preconceito; a “comunidade” LGBT é discriminada, então não se deve dizer que eles cometem pecados, isso seria “homofobia”; as mulheres são oprimidas pelos homens, então é errado lembrar a uma mulher todos os crimes e pecados que ela é capaz de cometer. Todo esse discurso serve a um único fim: a destruição, a perdição e a miséria de todos esses grupos. Enquanto a Igreja prega e pede virtude a todas as pessoas, esses blocos minoritários “etiquetados” como intocáveis já não podem receber a pregação do Evangelho; se alguém lhes disser que são — como todo e qualquer outro grupo — pecadores cínicos, será tachado de preconceituoso.

Pecadores todos somos, mas chamados para o Céu. Eu mesmo visto a carapuça: não podemos tratar os padres, por exemplo, como uma classe impecável. Verdade seja dita, se há pessoas neste mundo com a alma em perigo e maior risco de ir para o Inferno, são os padres, pois “a quem mais foi dado, mais será exigido”. Ora, imagine-se uma ideologia que nos impedisse de pregar aos padres… Um cenário tão absurdo quanto imaginar a Deus Pai dizendo: “Este é o meu Filho muito amado. Homens héteros, escutai-o. Mulheres, vocês não precisam de conversão, já estão prontas!” 

Ser mulher não é motivo de orgulho, não é fazer parte de uma classe especial. Porventura teria sentido comemorar o “Dia Internacional das Pessoas com Olhos Azuis”? Não. Não houve escolha; mas, uma vez que se nasce mulher ou homem, então há uma missão própria a um e ao outro. Não estou condenando mulher alguma por trabalhar, e a Igreja não quer que todas as mulheres voltem para casa para lavar pratos. Você, mulher, gostaria de se profissionalizar? De estudar em alguma faculdade? De entrar no mercado de trabalho? Que Deus a abençoe nesta escolha.

No entanto, recordemos que, durante séculos, foi natural às mulheres olhar para o mundo masculino e considerá-lo superficial, quando não absurdo. O próprio da feminilidade sempre foi reconhecer na vida doméstica, no seu próprio mundo feminino, o que realmente importa: a criação dos filhos, a educação capaz de os instruir a respeito da vida e, sobretudo, do caminho para o Céu. Durante milênios, a “frivolidade” de sair à rua para ganhar dinheiro, construir prédios, fazer política etc. foi parte do mundo sem graça dos meninos, sempre preocupados atrás de mil coisas.

De fato, por uma série de distinções hormonais, há diferenças significativas entre o cérebro masculino e o feminino. No dos homens, funciona melhor o lobo temporal (localizado na região das têmporas), parte cerebral especializada em organização. Basta observar um menino brincando: ele enfileira vários carrinhos, um atrás do outro, organizando-os de forma quase matemática, depois “destrói tudo” para então montá-los outra vez. No das mulheres, por uma distinção querida por Deus, funciona melhor o lobo frontal (na região da testa), responsável por lidar com pessoas. 

O homem tem mania de construir e organizar coisas: cava buracos, constrói prédios e pontes, monta foguetes; gosta, enfim, de fazer coisas. A mulher, por sua vez, quer educar e cuidar. Dê-se uma boneca a uma menina, e ela dirá: “Nossa! Ela está com frio! Vou cobrir. Ah, está com fome? Então vou fazer comidinha para você”. A mulher é capaz de identificar um brinquedo imediatamente como uma pessoa. O menino, ao contrário, geralmente faz o que eu fazia quando era criança: corta o cabelo das bonecas, tora o nariz e a orelha; destrói, enfim, porque aquilo é uma coisa, não uma pessoa. Quantas vezes apanhei por destruir as bonecas da minha irmã!

Ora, quem não vê que há diferenças inatas entre homens e mulheres? A ideologia de gênero falha fragorosamente diante do confronto com a realidade! Há, por exemplo, um documentário norueguês chamado Hjernevask (em português, “Lavagem Cerebral”, disponível no YouTube), que retrata o paradoxo da igualdade de gênero. Durante 40 anos, o país escandinavo tentou a ferro e fogo implantar no sistema educacional uma intrincada engenharia social com o fim de remover os “estereótipos de gênero”. Esperavam que, com o passar do tempo, não houvesse mais profissões tipicamente masculinas ou femininas. Não obstante o esforço do governo, o resultado foi um fracasso. Contrariando expectativas, o que aconteceu foi que, com “iguais oportunidades”, uma porcentagem ainda maior de mulheres escolheu profissões consideradas “femininas” (psicologia, pedagogia, enfermagem etc.), assim como os homens optaram majoritariamente por profissões “masculinas” (engenharia, computação e ciências exatas). 

Nesse sentido, ainda que tivesse a melhor das intenções, a ideologia de gênero é causa perdida, além de ser uma perda de tempo. A natureza põe em evidência que a mulher, de modo geral, gosta de lidar com pessoas, enquanto o homem gosta de lidar com coisas. Essa diferença entre os dois sexos, determinada por Deus, está no ser das coisas, e não há engenharia social no mundo que faça duas realidades intrinsecamente distintas se tornarem iguais.

A mulher sempre considerou prioritário o mundo das pessoas, sem se importar muito com o mundo das coisas, tipicamente masculino. Até que vieram as feministas dar “razão”… aos homens! O feminismo pode ser entendido como um grupo de mulheres que se levantou para ridicularizar o mundo feminino em defesa da ideia de que, para elas serem “alguém”, devem ser iguais aos homens e preocupar-se antes de tudo com coisas: “Mulher, arranque a saia, vista uma calça comprida, arranje um emprego e mostre que você é uma empresária, uma engenheira capaz de fazer coisas, para que então você passe a ter valor”.

Décadas mais tarde, a maioria das mulheres nascidas sob a égide do feminismo sente-se insatisfeita. A razão é que as coisas próprias de sua natureza gritam em seu interior. A mulher gosta, por exemplo, de ter casa. Finda uma longa jornada de trabalho, ela chega insatisfeita com o que fez o dia inteiro lá fora e quer arrumar a casa. Isso não é mera “cultura”; está na própria constituição da mulher. Enquanto isso, para o homem a casa é basicamente uma toca. O que acontece com ele, se não for “civillizado”? Provavelmente, ao chegar do trabalho, largará o sapato na entrada, a camisa no sofá, o cinto no corredor, a calça na porta do quarto e a cueca no chão do banheiro. A toca é o lugar a que o homem volta para dormir; mas ele “não mora” ali. A mulher, pelo contrário, passa o dia fora trabalhando, mas quer a casa ao seu gosto, e por mais que o homem ajude nas tarefas domésticas, ela estará sempre insatisfeita, porque ele não consegue fazer as coisas do jeito certo.

Mais do que casa, a mulher quer filhos; mas a ideologia feminista segue colocando na mente das jovens um enorme e artificial pavor de ser mãe. É um medo com prazo de validade. Uma vez que esse pavor artificialmente incutido é vencido pelo chamado superior de sua natureza, as mulheres se vêem com 40 anos, querem ter filhos e não conseguem. Aos poucos, vão descobrindo que o receio que sempre tiveram da maternidade nada mais era do que o fruto de uma “engenharia social”. Toda mulher se sente realizada, ao tornar-se mãe. Ela foi feita para isso, e não para a mentira feminista de que a maternidade é uma “escravidão”. A maternidade é uma realização e uma missão. Para efeito de comparação, é como se um padre começasse a reclamar da “escravidão” do confessionário, quando, na verdade, é esta a sua missão, é parte constitutiva do ser padre.

Dito isto, podem as mulheres trabalhar? É claro que sim. Hoje em dia, com a economia está altamente distribuída, as mulheres são quase obrigadas a trabalhar, a fim de compor renda com o marido para fechar o orçamento doméstico. Entretanto, uma coisa é a mulher trabalhar porque deseja dar a sua contribuição, outra é viver uma vida dupla, em constante e dilacerante tensão. A mulher não é “menos” por querer ter casa arrumada, filhos e o poder de cuidar deles e de os educar. É mais; ela tem um ofício mais determinante que o do homem, que está correndo atrás de coisas.

As mulheres têm sido vítimas dessa ideologia, construída para convencê-las de que elas só terão valor, se tiverem seu próprio dinheiro, conquistado, de preferência, fora de casa. Por trás disso, está o fato de que, quando se sai de casa e se deixam os filhos “sem mãe”, entrega-se a educação deles a terceiros. Há inúmeros interesses dos que querem organizar creches para que se deixem os filhos lá o quanto antes, de modo que as crianças saiam logo de casa para ir à escola, de preferência em período integral. Quanto antes as crianças saírem de casa e quanto mais tempo passarem longe dos pais, mais fácil é ter acesso à alma delas.

Nos nossos tempos, tem-se difundido a ideia de que existem vários tipos de família; mas a Igreja Católica, intolerante, aceitaria somente um deles, a “família tradicional”. A verdade é que a sociedade atual não está aberta a nenhum tipo de família propriamente dita, mas sim a agrupamentos de pessoas que têm filhos, sem ter contudo interesse em educá-los, ou então que os eduquem segundo os valores em voga. O único inaceitável é a família como poder educador independente.

O mundo está desacostumado com a verdade, e a verdade é que, em sentido educacional, as escolas sempre foram um braço auxiliar da família, não um substituto. Foi a família que, desejando educar melhor os filhos, constituiu escolas que em tudo lhe prestassem contas. Os pais se reuniam, deliberavam que rumo a escola deveria tomar, e esta obedecia. Entretanto, de algum tempo para cá o poder foi tirado das famílias e entregue ao Estado, que tem nas escolas um dos braços de sua atuação. Agora é o governo que determina, por intermédio das escolas, o que é bom para os nossos filhos e quais valores eles devem assimilar.

Do que precisamos é de um verdadeiro empoderamento das famílias. Elas precisam ter autonomia para dizer: “Queremos a desregulamentação da educação. Governo, tire as patas de cima das escolas!” Não é preciso saber muito de histórias para entender que o governo, instituição de interesses materiais e imediatos, não serve para transmitir valores. Este múnus é próprio da família e da Igreja.

Qual é, pois, o cerne do que queremos transmitir, principalmente às mulheres, neste 8 de março? Que ser mulher ou ser homem é missão. Há entre eles uma diferença que se deve à própria estrutura da realidade criada. Nem o homem é melhor do que a mulher, nem a mulher do que o homem, senão que um e outro se complementam, sendo cada um deles líder natural no campo que lhe é próprio.

Em termos de importância ou de dimensão espiritual da vida, as mulheres têm por natureza a tendência a enxergar melhor as realidades da alma. Na liturgia antiga, a Igreja usava a expressão: “Oremos pelo ‘devoto sexu femineo’” (pelo “devoto sexo feminino”). Ora, se as mulheres são hábeis em lidar com pessoas; se Deus mesmo é um só em três Pessoas; se as virtudes são próprias de pessoas; se até o mundo dos anjos é feito de pessoas; se, enfim, a questão da salvação das almas diz respeito às pessoas, é evidente que a mulher tem natural vantagem sobre o homem no âmbito espiritual.

O fato de que as crianças nascem e se desenvolvem junto às mulheres dá a elas, então, não somente essa vantagem, mas a missão diante de Deus de serem grandes educadoras. Hoje em dia, há mulheres que se sentem “valorizadas” por ensinar em sala de aula trigonometria ou regra de três aos filhos de outros, mas não por estar em casa ensinando aos próprios filhos o que há de mais importante. (Antes de a criança entrar na escola, a mãe deve ser uma generalista, isto é, saber um pouco de tudo para responder às perguntas do filho.)

No dia da Transfiguração, Deus Pais mandou-nos escutar o seu Filho muito amado. A humanidade precisa ouvir a verdade de Deus. Esse é o projeto educacional que verdadeiramente importa e do qual a Igreja, constituída por Cristo para educar, para transmitir aos homens ideias e valores divinos e guiá-los no caminho da virtude e da santidade, é a grande promotora. As mulheres, as primeiras a conviver com os filhos em profundidade, são o real motor da Igreja nas famílias. Elas são as primeiras catequistas.

Ao fim desta exposição, é natural que as ideias aqui apresentadas pareçam a muitos corretas mas perturbadoras, por exigirem não só mudança de vida, mas uma transformação profunda na estrutura mesma da sociedade. No entanto, se não soubermos diagnosticar a doença, jamais encontraremos o remédio adequado. Não propomos soluções mágicas. Não se trata de incentivar todas as mulheres que trabalham a pedir contas no emprego e voltar para casa, o que criaria transtorno e confusão. Tenhamos calma. Não é preciso mudar nada, por enquanto. O que importa é entender onde está o problema.

O problema é que, sistematicamente, estamos saindo de casa e abandonando os filhos para serem educados por terceiros, não somente nas escolas, mas no Instagram, no TikTok, no joguinho on-line, no Netflix, afora outras tantas influências. Não nos enganemos: nossos filhos serão educados; se não temos tempo para eles, alguém terá. O que nos cabe, portanto, é sacrificar-nos para que eles possam viver o que Deus nos diz no Evangelho de hoje: saber que, em Cristo, são filhos muito amados do Pai e que pais e filhos devem escutar juntos o Filho muito amado.

Pais, eduquem seus filhos. Gastem tempo transmitindo-lhes a verdade. Parem de correr alucinados atrás de dinheiro, empregando toda força de vontade na busca de coisas materiais, por mais importantes que sejam. É preciso reorganizar a vida aos poucos. Tenham calma, pensem, reflitam, dialoguem com o esposo, com os seus filhos. Iremos construindo aos poucos uma solução para esse grande mal que nos aflige: perder a capacidade de escutar a Deus, o grande educador, por meio da Igreja e da família.

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