Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 8, 1-3)
Naquele tempo, Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus. Os doze iam com ele; e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e várias outras mulheres que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam.
O Evangelho de hoje nos fala das piedosas mulheres que, curadas de maus espíritos e doenças, seguiam Jesus e, entre elas, menciona uma em especial: Maria, chamada Madalena, da qual expulsara o Senhor sete demônios. Ora, nestes sete espíritos malignos viu a tradição da Igreja uma referência aos chamados pecados capitais, cujos nomes toda a gente, católica ou não, sabe de cor: vanglória, inveja, avareza, ira, luxúria, gula e preguiça. Mas o que são, afinal, esses pecados? Pois bem, chamam-se capitais aqueles pecados dos quais brotam, como de sua raiz, e dependem, como de sua cabeça (caput, em latim), todos os outros pecados. Apesar de consagrada pelo uso, a palavra pecado não é, porém, a mais adequada para os designar, porque não se trata aqui de pecados propriamente ditos, mas antes de tendências ou propensões desordenadas, que, embora não constituam em si mesmas um pecado, nos induzem a ele e, pela repetição dos atos correspondentes, podem transformar-se em verdadeiros vícios. Os pecados capitais, nesse sentido, são como doenças espirituais que, em virtude do pecado original, nos afetam a todos em maior ou menor medida. Alguns, por exemplo, têm mais forte inclinação aos pecados de impureza, outros sentem maior atração pelos brilhos fingidos da avareza, alguns cedem com facilidade aos ímpetos da ira, outros ainda somente com muito esforço resistem às delícias da mesa etc. etc. Essas tendências, que todos trazemos marcadas em nossa carne, podem também ser estimuladas pelo mundo, com seus falsos atrativos e suas promessas de felicidade, e pelos demônios, que, com a penetração de sua inteligência angélica, bem conhecem os pendores desordenados que cada fiel tem para este ou aquele pecado. E, como o fizera a Maria Madalena, também a nós o Senhor quer curar destes maus espíritos: se bem é certo que, enquanto caminhamos neste mundo, teremos de lutar até o fim contra as solicitações da carne, do mundo e do demônio, temos a firme esperança de que chegaremos um dia, ajudados pela graça, à vitória definitiva e, coroados por Cristo, reinaremos com Ele, livres de uma vez para sempre de todo desejo impuro, de toda aspiração vaidosa, de toda rixa e inimizade.
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