Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 12,46-50)
Naquele tempo, enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo”. Jesus perguntou àquele que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
No Evangelho de hoje, Jesus pergunta: “Quem é a minha mãe, meu irmão, minha irmã?” e responde: “É aquele que faz a vontade do Pai que está no céu”. Como interpretar essa palavra de Cristo? Em primeiro lugar, é importante não ficarmos na superfície. Que seria uma interpretação superficial? Seria levar em conta somente o preceito moral, ou seja, uma espécie de moralismo: “Se você é obediente, você é irmão de Cristo”, ou seja, se cumpre as leis.
Mas o que Jesus, na realidade, está dizendo aqui é algo muito mais profundo. No Antigo Testamento, as pessoas pertenciam ao povo de Deus, ao povo eleito que seria salvo, a partir de vínculos de sangue. E esse vínculo de sangue se expressava através do ritual da circuncisão, ou seja, por geração. As pessoas eram geradas fisicamente, e esta aliança de sangue — de sangue derramado mesmo — fazia com que as pessoas pertencessem ao povo de Deus. Era um vínculo sanguíneo.
Acontece que Jesus veio para reformar isso, instituindo um novo povo de Deus. E qual é o vínculo de sangue que nos une? Não é mais o da circuncisão, mas é um outro sangue derramado. É o sangue de Cristo na Cruz. Ali, Nosso Senhor derrama seu sangue para fazer a vontade do Pai. O sangue que é derramado no Horto das Oliveiras é agora o novo sangue que faz de nós membros do Corpo de Cristo. Aqui está a realidade da nova família: esses são os novos irmãos e irmãs, as novas mães de Jesus. Ou seja, Jesus está dizendo a esses judeus: “Que vocês compreendam: daqui para frente, as coisas serão diferentes”. Nós não somos mais povo de Deus por causa de vínculos de sangue e de descendência. Não é mais isso que importa.
O que importa agora é o relacionamento com o Cristo. Ele cria esta nova família através do seu sangue derramado na cruz, através do seu sacrifício. Uma vez que essa família foi instituída pelo sacrifício da cruz, falta apenas uma coisa: aplicar às nossas vidas essa redenção da cruz, ou seja, cada um de nós precisa entrar verdadeiramente na Igreja e fazer parte dessa nova família — uma família espiritual.
Enquanto família espiritual, nós precisamos entender que Deus, com seus paternos conselhos, faz de nós família e quer nos ensinar um caminho novo, uma nova forma de nos comportarmos, uma nova moral, um novo jeito de ser e fazer a vontade do Pai; mas Ele nos dá, ao mesmo tempo, a graça para isso.
Quando nós somos batizados, aquele sangue de Cristo derramado na cruz, é aplicado à nossa vida pelo Batismo, pois começamos a fazer parte do Corpo Místico de Cristo. Nós passamos a fazer parte de um organismo espiritual diferente, não estamos mais sozinhos. Assim, realizamos a vontade de Deus não simplesmente através de preceitos morais que são colocados em nossos ombros, como no Antigo Testamento havia a Lei, para tentar preparar aquele povo de dura cerviz. Agora, existe o Cristo, que vive em nós e nos torna capazes de fazer a vontade de Deus.
Nesse sentido, Maria Santíssima era e é membro por excelência desse Corpo Místico. Se São Paulo podia dizer isso, quanto mais Maria não o pode dizer: “Vivo, mas já não sou eu; é Cristo quem vive em mim”. Esse é o sentido do Evangelho de hoje. Não é simplesmente um moralismo que diz: “Faça a vontade de Deus”; mas é algo mais profundo: existe um novo vínculo de família com Cristo. Ele derrama seu sangue na cruz e nos faz membros do seu Corpo.
Agora, temos — por assim dizer — uma energia nova dentro de nós, a graça de Deus, que nos torna capazes de fazer a vontade do Pai como Cristo a realizou na cruz.
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