Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 10, 1-12)
Naquele tempo, o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. E dizia-lhes: "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita. Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa nem sacola nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta casa!' Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós. Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: 'O Reino de Deus está próximo de vós'. Mas, quando entrardes numa cidade e não fordes bem recebidos, saindo pelas ruas, dizei: 'Até a poeira de vossa cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós. No entanto, sabei que o Reino de Deus está próximo!' Eu vos digo que, naquele dia, Sodoma será tratada com menos rigor do que essa cidade".
Neste dia em que nos lembramos de Santa Teresinha do Menino Jesus, proclamada padroeira das missões em 1927 por Pio XI, a Igreja muito sabiamente nos propõe o Evangelho em que Cristo envia como missionários os seus setenta e dois discípulos. Façamos, pois, uma leitura conjunta deste episódio e desta memória. É curioso pensar, num primeiro momento, que Santa Teresinha (cuja breve mas santíssima vida transcorreu no silêncio dum claustro e, portanto, longe das agitações do mundo) seja considerada a protetora da atividade missionária da Igreja. Num olhar mais pausado, porém, vemos que a missionariedade nada mais é do que um método de salvação. Trata-se, na verdade, não de uma estratégia de marketing pela qual se arrebanham adeptos e se faz a cabeça das pessoas, mas sim de uma forma de imitar a vida de Nosso Senhor. Jesus, com efeito, envia seus discípulos para o meio dos lobos; isso só se explica, todavia, se olharmos para a própria missão de Nosso Senhor. Cristo é o primeiro e verdadeiro Apóstolo: Ele, esvaziando-se de si mesmo, "deixa" o Pai e vem até nós como cordeiro, a fim de ser entregue aos lobos e imolado.
O método missionário, nesse sentido, é antes de tudo um modo de nos configurarmos a Jesus em sua entrega, em sua oblação, em sua Páscoa. É na Cruz e no sofrimento que a Igreja vai haurir as suas forças; é da Cruz, por conseguinte, que a ação missionária da Igreja deriva a sua eficácia. Daqui compreendemos em que sentido Santa Teresinha do Menino Jesus é fonte perene de inspiração e auxílio para todos os missionários. Ela, dentro da estreiteza do Carmelo de Lisieux, via dentro de si essa mesma vocação para a entrega total da própria vida em favor das almas. Ela sabia, e demonstra-o em suas orações pelo padre Roulland, em missão na China, que o caminho para a salvação das almas é a efusão do próprio sangue, à semelhança do sacrifício de Cristo, cujo Parecíssimo Sangue é derramado todos os dias em nossos altares. Santa Teresinha, se por um lado não podia associar-se às dores e ao martírio dos enviados de Jesus, quis, por outro, unir-se ao sofrimento do Deus-homem por meio de sua tuberculose, que a consumia, que a martirizava dia após dia. Embora escondida do mundo, Santa Teresinha nos deixou a lição de que o melhor método missionário é unir-se à Páscoa de Nosso Senhor e, com uma oração confiante e generosa, percorrer em espírito todos os continentes, arrebatando almas para Deus, para a vida eterna.
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