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Se o mundo nos aplaudir, é porque traímos Jesus

Se amamos a Cristo, o mundo nos há de odiar, porque se perseguiram a Cabeça, não terão descanso até acabarem com os membros. Esta é a nossa vocação: lutar, com paciência e oração, num mundo que odeia os que o querem salvar de sua insensatez.

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 15,18-21)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo gostaria daquilo que lhe pertence. Mas, porque não sois do mundo, porque eu vos escolhi e apartei do mundo, o mundo por isso vos odeia.

Lembrai-vos daquilo que eu vos disse: ‘O servo não é maior que seu senhor’. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós. Se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto eles farão contra vós por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou”.

Continuamos a leitura do capítulo 15 de São João, capítulo extraordinário. Na Última Ceia, Jesus com seus amigos eleitos, diz: “Como o Pai me amou, assim eu vos amei”, mas diante de toda essa mensagem de amor, a respeito da qual nós já estamos refletindo há alguns dias, existe o outro lado da moeda: existe o fato de que, se o Pai nos ama tanto, se Jesus nos ama tanto, se nós devemos nos amar uns aos outros tanto, o mundo nos odiará. Essa é a consequência inevitável.

No entanto, parece que a gente desaprendeu essa verdade, ou seja, parece que a gente quer ler o capítulo 15 de São João somente até o versículo 17; quando começa o 18: “O mundo vos odeia”, não queremos mais ler. “Não! Nós vamos agora… Nós temos um novo método pastoral. Estamos no mundo moderno. Agora o mundo vai nos aplaudir magicamente!” Quer dizer, de dois mil anos de cristianismo em que nós fomos escorraçados, martirizados, perseguidos, difamados, maltratados pelo mundo, de repente, parece que nós somos mais inteligentes do que o divino Mestre, mais inteligentes do que o próprio Deus que nos revela as coisas, e nós inventamos um método pastoral em que, se nós formos “fofinho”, o mundo vai nos aplaudir!…

Meus queridos, se o mundo nos aplaudir, é porque nós traímos Jesus. Isso é uma verdade líquida e certa. Se o mundo nos aplaudir, é porque nós somos Judas, não fazemos parte dos Onze. É consequência evidente. Vejam as palavras do Cristo: “Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro odiou a mim”. Se o mundo odeia Jesus, e você é membro do Corpo dele, o que você acha que vai acontecer? Certamente, o mundo não irá mandar coraçãozinho para você.

“Se fôsseis do mundo, o mundo gostaria daquilo que lhe pertence; mas, porque não sois do mundo, porque vos escolhi”. Atenção! Eis a eleição de Cristo. Até agora, pode parecer tudo muito “romântico”: “Jesus me escolheu. Ai! Eu sou amigo de Jesus. Ele me escolheu. Eleição!” Ótimo, mas exatamente essa escolha tem uma consequência: “porque vos escolhi”, por causa dessa eleição, “eu vos apartei do mundo, eu vos separei do mundo”. Se você realmente é cristão, você sempre será diferente do mundo. O mundo sempre vai olhar para você como um esquisitão, como um exótico, como um marciano, mesmo que esse mundo seja a sua família, mesmo que o mundo seja o seu pai e a sua mãe, mesmo que o mundo seja a sua esposa, seu esposo, seus filhos, seus irmãos ou seus colegas de trabalho.

O mundo não precisa estar tão distante. Não precisa ser o “poder global”. O mundo pode ser o sujeito que está sentado ao seu lado e, o que é pior, o mundo pode estar dentro de nós. A mundanidade pode estar dentro de nós, porque nós não queremos nos apartar do mundo. É como se nós quiséssemos manter os pés em dois esteios: um pé dentro do barco e o outro no barranco, quiséssemos ser de Jesus mas, ao mesmo tempo, não entrar em conflito com o mundo.

Se há eleição, deve haver afastamento do mundo. Isso é consequência evidente: “Lembrai-vos daquilo que vos disse: o servo não é maior que o seu senhor. Se perseguiram a mim, também perseguirão a vós. Tudo o que eles farão contra vós, não é por causa de vós”. A pessoa diz: “Ah, estão me perseguindo!” Na verdade, ninguém está perseguindo você, mas Cristo em você: “Farão por causa do meu nome”. Estão perseguindo Jesus, e é uma honra, é uma alegria sabermos que o Cristo é mais uma vez perseguido e crucificado em nós porque, se com Ele morremos, com Ele ressuscitaremos. Então, saibamos que os mundanos sempre odiaram e odiarão a Cristo. E nós devemos responder, mas não na mesma moeda: eles nos odeiam, nós precisamos amá-los, querer a conversão e salvação deles, um por um, dando a vida pela salvação de cada um.

* * *

Ódio do mundo (Jo 15,18-21). — V. 18. Se os discípulos constituem com o Mestre uma só coisa, não admira que participem da mesma sorte: Se o mundo (em sentido pejorativo) vos odeia, não vos turbeis (cf. 1Jo 3,13), mas sabei que primeiro (πρῶτον ὑμῶν, antes do que a vós; ou, segundo outros, mais do que a vós) me odiou a mim. Grande e inefável consolação! — V. 19. Consola-os do ódio do mundo de outra forma, mostrando-lhes qual é a origem e a verdadeira raiz deste ódio: os discípulos não são do mundo, por isso não serão acolhidos pelo mundo, porque o mundo ama tão-somente os que seguem seus princípios e costumes. Os discípulos, escolhidos por Cristo e a Ele conformados, tornaram-se adversários do mundo: “Os cristãos vivem no mundo, mas não são do mundo” (Ep. ad Diog. 6, 3). Mas não há por que sofrer — antes, pelo contrário, devem alegrar-se — por isso.

V. 20. As coisas, com efeito, não poderiam ser de outra forma. Como vos disse já outras vezes (cf. Jo 13,16; Mt 10,24ss): “O servo não é maior que seu senhor”, i.e., não está em condição superior; não há, pois, por que esperar ter melhor sorte que a minha… Ora,  se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós; mas, pela mesma razão, se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. — Estas últimas palavras costumam ser explicadas de dois modos: a) a sorte dos discípulos seguirá a do Mestre: às vezes vos perseguirão, às vezes guardarão vossa palavra, i.e., aceitarão vossa pregação; b) muitos, porém, as entendem em sentido contrário: Assim como não guardaram minha palavra, tampouco guardarão a vossa.

V. 21. A razão última do ódio do mundo será o nome de Jesus: Tudo isto eles farão contra vós por causa do meu nome, i.e., porque sois discípulos de Cristo (a quem odiaram primeiro) e dais continuidade à minha obra (cf. Mt 10,22; 24,9; Mc 13,13; Lc 17,21): “Aos cristãos se condena pelo nome, não por algum crime” (Tertuliano). — Por outro lado, o ódio que o mundo tem a mim se deve a que não conhecem aquele que me enviou, i.e., porque não querem reconhecer que o Pai me enviou.

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