CNP
Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
Todos os direitos reservados a padrepauloricardo.org®
Texto do episódio

Texto do episódio

imprimir

Podem-se distinguir dois tipos de ciúmes: o virtuoso, que é “ciúme” em sentido algo impróprio, e o desordenado, que é o que todos costumam entender por ciúme. O primeiro é aquele que Deus mesmo tem em relação às criaturas. Ele sabe que o homem, ao amá-lO de todo o coração e acima de todas as coisas, encontrará em Si a fonte da própria felicidade. É bom para o homem amar a Deus. Mas também o homem é capaz de sentir este “ciúme” santo. Quando o amor humano é não só verdadeiro, mas se alça pela graça às alturas do sobrenatural, tem em vista o bem do outro, enchendo-se de zelo, antes de tudo, pela sua salvação.

Entretanto, nem sempre o que se vê nos corações é este bom “ciúme”, mas um outro afeto, disforme e nocivo, que recebe propriamente o nome de ciúme. É frequente, com efeito, que o amor humano se veja motivado mais pelo egoísmo que pelo desejo de ver o bem do amado, ainda que à custa do próprio. Poderíamos dizer que, se o “ciúme” bom se preocupa em saber “como é que você fica?”, o ciúme mau, o ciúme que corrói tantas relações, se descompõe e descabela por saber “como é que eu fico?” O primeiro se dói pelo mal que o amado se faz; o segundo, fechado sobre si mesmo, pelo mal que lhe é feito.

Eis que por que o ciúme mau, isto é, o ciúme em sentido próprio, se baseia na falta de um reto amor próprio. Quem não se ama, ou se ama fora da ordem devida, costuma sentir-se inseguro, ameaçado, sempre carente das provas, nunca suficientes, de amor alheio. Para que haja pois um amor saudável aos outros é necessário primeiro saber amar-se a si mesmo. Daí dizerem os antigos que uma caridade em ordem começa pelo amor de si: Caritas bene ordenata incipit a semetipso.

Se é verdade que não se pode dar o que não se tem, é evidente que ninguém pode amar se não se amar. Do contrário, transforma-se a pessoa numa sorte de “sumidouro” que tudo quer tragar, sorver, capitalizar, como se não tivera fundo. Por não ter uma personalidade madura, um caráter centrado, um coração posto no lugar, o ciumento escora-se nos outros, como se o mundo fosse obrigado a fazê-lo feliz, a sentir o amor que nem ele se consegue dar. 

A dificuldade pois do ciumento está mais em si do que nos outros: falto de auto-estima, não vê o próprio valor, valor tão alto, tão precioso, que valeu o Sangue de um Deus feito homem… Sim, todos têm suas misérias; sim, às vezes os que amamos nos fazem mal, mas nunca podemos pôr em dúvida o amor que Deus nos tem, amor tão perfeito e eficaz, que torna boas e amáveis as próprias coisas que ama. Sim, o Amor nos ama e, amando-nos, faz-nos amáveis e dons para os demais: saibamos amar-nos pelo amor santíssimo que Deus nos tem, e assim saberemos pagar com a moeda da caridade as faltas de amor com que às vezes recompensam o nosso “ciúme”, faltas de que nós mesmos, tantas vezes, também fomos culpados.

Material para Download
Texto do episódio
Material para download
Comentários dos alunos

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.

270episódios