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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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Muitos se perguntam por que e como era possível que o Padre Pio apanhasse do demônio. Com efeito, entre as particularidades do santo de Pietrelcina estavam justamente os duros combates, às vezes “corpo a corpo”, com o inimigo. De regra, Satanás o atormentava com o único objetivo de corromper-lhe a fé e macular-lhe a alma. As artimanhas eram das mais variadas, indo da aparição em forma de mulher, para tentá-lo contra a pureza, à agressão física deliberada, para enfraquecê-lo no corpo.

Vários outros santos tiveram de lidar com perseguições demoníacas. S. Antão do Deserto, por exemplo, sofreu repetidas vezes ao longo da vida fortíssimos ataques do Maligno. Também o Cura d’Ars era atormentado com frequência. A certa altura, as investidas do demônio chegaram a tais extremos, que a cama do santo Vianney ardeu em chamas. “Não podendo pegar o passarinho”, debochou o padroeiro dos párocos, “o diabo queimou a gaiola”. Trata-se de verdadeiras lutas corporais, em que estes filhos de Deus se viram obrigados a enfrentar pessoalmente a terrível ira do inferno.

Mas como explicá-las, se os anjos são puros espíritos, desprovidos de corpo físico? Os teólogos costumam dar a essa forma de ação diabólica sobre os homens o nome de obsessão, para distingui-la da tentação e da possessão. Tanto a obsessão quanto a possessão são fenômenos bastante raros, ao contrário da tentação, que é o meio ordinário pelo qual o demônio atua sobre os homens. Pela tentação, o diabo nos instiga ao mal, por sugestões internas e, por assim dizer, psicológicas. Na possessão, o diabo invade o corpo de um homem, apossando-se de suas faculdades motrizes, e como se se tratasse de seu próprio corpo. Na obsessão, ele atormenta o homem exteriormente, mas de uma maneira surpreendentemente forte, sensível e inequívoca, com a intenção de abalar a fé da vítima. 

Poderíamos dizer que obsessão é uma espécie de “tentação potenciada”. O inimigo age de modo extraordinário, com mais clareza e intensidade. Embora existam diversos graus de obsessão, em todos eles o que busca o diabo é enfraquecer a alma da vítima.

A principal razão da obsessão demoníaca é a inveja do diabo. Ele não suporta ver as boas obras dos filhos de Deus, muito menos quando, por elas, lhes são arrebatadas as almas que com tanto esforço ele busca lançar no fogo do inferno. Quando o demônio via a caridade de um S. João Maria Vianney, de um S. Antão, de um S. Pio de Pietrelcina, sentia-se grandemente ameaçado, porque sabia do risco de perder as almas aprisionadas pelo pecado, caso elas dessem ouvidos aos seus sermões, ensinamentos etc. E por isso, sendo invejoso desde o princípio, os atormentava e, se preciso fosse, agredia.

Normalmente, porém, o diabo não age dessa maneira. Sem especial permissão divina, ele não tem poder para agredir-nos na carne. É Deus quem, misteriosamente, permite que ele assim se manifeste. Ao menos em princípio, essa “autorização” divina nos pode estranhar. Afinal, por que Deus daria ao demônio tamanho poder, autorizando-o a ferir um filho seu? Por causa de uma especialíssima eleição. Os santos que sofreram com tais fenômenos receberam uma missão em prol de toda a Igreja. O Senhor conhecia-lhes a alma e sabia do grande amor que lhe tinham. E como Deus pode tirar maiores bens de certos males, pode também colher, a partir do sofrimento temporário dos santos, frutos espirituais de salvação para toda a Igreja.

Além disso, ao permitir a obsessão, Deus concede às almas santas a oportunidade de darem provas de mais puro amor. Eis por que as almas atacadas dessa forma possuem, de regra, duas qualidades: a) em primeiro lugar, um alto nível de santidade, razão por que os diretores espirituais não precisam preocupar-se muito, já que os seus dirigidos apenas raramente sofrerão semelhantes ataques; b) por fim, um enorme desejo de cumprir a vontade de Deus, isto é, de corresponder com valentia à vocação ou à missão que dele receberam. São pessoas chamadas pela divina Providência a se configurarem, de modo muitíssimo particular, a Nosso Senhor, em sua luta cara a cara com o demônio. 

Conta-nos S. Atanásio de Alexandria um emocionante episódio da vida de S. Antão. Durante um dos costumeiros ataques do diabo, o santo anacoreta pedia insistentemente a Deus que o livrasse do Maligno: Kyrie eleison!, gritava em aflição. Passado um bom tempo de luta, tendo o santo clamado à exaustão por misericórdia, o diabo finalmente se afastou. Foi então que Cristo apareceu. Antão olhou para Ele e, entristecido, se queixou: “Senhor, onde estáveis quando eu mais necessitava de vós?” Jesus, pousando olhar com grande amor sobre ele, respondeu-lhe: “Antão, meu filho, estive aqui o tempo todo. Mas eu queria ver-te lutar”. 

Deus quer ver-nos lutar. E mesmo os que ainda não possuem tão heróicas virtudes são chamados a fazer frente ao diabo. Não fisicamente, mas em espírito, resistindo às tentações ordinárias, que são a principal arma do inimigo. Os santos são, por isso, sinais para nós: são como que sacramentais que nos recordam que é uma luta a vida do homem sobre a Terra. Porque não há outro caminho para o Céu, a não ser pela fortaleza, pela paciência, pela perseverança nas virtudes evangélicas, pela fidelidade constante, ainda que isso nos custe inúmeros sofrimentos.

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