Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 7,19-23)
Naquele tempo, João convocou dois de seus discípulos, e mandou-os perguntar ao Senhor: “És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?” Eles foram ter com Jesus, e disseram: “João Batista nos mandou a ti para perguntar: ‘És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?’” Nessa mesma hora, Jesus curou de doenças, enfermidades e espíritos malignos a muitas pessoas, e fez muitos cegos recuperarem a vista. Então, Jesus lhes respondeu: “Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e a boa nova é anunciada aos pobres. É feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!”
Comentário exegético
Pergunta de João Batista (cf. Mt 11,2-6). — V. 2s. Entrementes, chegava aos ouvidos João Batista, preso por Herodes na fortaleza de Maqueronte, a opinião (Lc 7,17: ὁ λόγος = lit. ‘a palavra’, i.e. notícias) de todas estas coisas (περὶ πάντων τούτων), a saber: não tanto dos milagres precedentes (Lc) quanto das obras de Cristo em geral (Mt). O santo Precursor chamou dois de seus discípulos e enviou-os a Jesus para que o interrogassem: És tu o que há de vir, ou devemos esperar outro? ‘Aquele que há de vir’ (gr. ὁ ἐρχόμενος) é denominação ou indicação do Messias, frequente na Sagrada Escritura (cf. e.g. Gn 49,10; Sl 117,26; Ez 21,27; Dn 7,13; Hab 2,3; Jo 6,14; Ap 1,4).
Questiona-se o motivo desta legação, sobre a qual muito divergem os aa, atribuindo-o uns a) ao Batista, que teria dúvidas sobre a identidade do Messias; outros b) a Cristo, a quem João quereria dar a oportunidade de manifestar-se publicamente; outros enfim c) aos legados. Esta é de longe a opinião da maioria dos aa. católicos, tanto antigos quanto modernos, que eximem o Batista de toda dúvida ou impaciência. O santo Precursor, nesse sentido, teria enviado legados a Jesus em razão de seus próprios discípulos, que não viam a Cristo como muito bons olhos (cf. Jo 3,26; Mt 6,14). Trata-se da interpretação mais conforme ao texto e ao conjunto da história evangélica: afinal, 1) a questão se refere à identidade mesma do Messias, não ao modo ou ao tempo de sua manifestação; 2) além disso, qualquer dúvida a respeito da dignidade de Jesus é incompatível com o múnus e a santidade do Precursor, além de tornar incompreensíveis os elogios que logo em seguida lhe fará o Mestre (cf. Mt 11,7ss).
Resposta de Cristo (cf. Mt 11,4ss). — V. 4s. De acordo com Lc (v. 21), na mesma hora em que os legados se puseram diante dele, Jesus realizou muitos milagres, ao que Mt alude implicitamente (cf. v. 4 gr. ἃ ἀκούετε καὶ βλέπετε = o que ouvis e vedes no pres.). Como resposta, o Senhor apela a estes sinais: Ide e contai a João o que ouvistes e vistes: Os cegos vêem… Ora, como os profetas, sobretudo Isaías, já tinham anunciado que essas coisas aconteceriam quando chegasse o tempo messiânico (cf. Is 26,19; 29,18; 35,5s; 61,1), era óbvia a conclusão: ‘Eis-me aqui, o Messias!’
V. 6. E bem-aventurado aquele que não encontrar em mim motivo de escândalo. Não se sabe ao certo por que Jesus acrescentou esta advertência. Se, com efeito, a legação foi feita em benefício dos discípulos de João, é razoável pensar que é a eles que se dirigem as palavras; se, como querem alguns, foi feita em atenção ao povo, contêm uma simples monição geral. Mas de modo algum, como foi dito, podem referir-se a João. Tomadas em sentido um pouco mais lato (ὅς = ὅτις, frequente no NT), dão continuidade ao v. precedente: ‘Não só chegou a era messiânica, mas também o Homem de quem não se devem escandalizar’.
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