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Um modelo em meio à crise da Igreja

Por meio do Padre Pio, em cujas chagas vemos participada a Paixão de Cristo, Deus quis lembrar à Igreja, poucos antes de rebentar a maior crise de identidade do clero, em que consiste ser sacerdote: oferente e vítima, celebrante e hóstia.

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 9,18-22)

Aconteceu que Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?” Eles responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”.

Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”. Mas Jesus proibiu-lhes severamente que contassem isso a alguém.

E acrescentou: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”.

Celebramos hoje a memória do santo Padre Pio de Pietrelcina, São Pio. Por que esse santo é tão especial e tão fascinante? Padre Pio morreu em 1968 e foi um exemplo de sacerdote extraordinário, mandado por Deus — digamos assim — como um verdadeiro milagre divino na história, enviado para preparar um momento dramático da história da Igreja. Sim, nós atualmente estamos vivendo a maior crise sacerdotal de toda a história da Igreja.

Ou seja: nos últimos anos, a identidade do verdadeiro sacerdote católico foi atingida, mas não atingida por fora, de ataques protestantes, de teólogos que desde fora tentam entrar na Igreja, não; a crise sacerdotal que nós vivemos nos últimos tempos vem desde dentro, ou seja, os próprios sacerdotes católicos entraram numa espécie de “crise de identidade”. Num emaranhado de teologias modernas ou modernistas, o padre já não sabe mais quem ele é. Padre Pio, por uma antecipação providencial e divina, vem ser um farol do que é o sacerdócio.

O que fez Padre Pio de especial? A resposta, humanamente falando: nada. Padre Pio nunca foi superior de convento, nunca foi pároco, era simplesmente um vigário que celebrava Missa e confessava. Ouvia confissões, e tantas confissões! Celebrava Missas, e que Missas celebrava o Padre Pio! Eis aí as colunas do dia a dia sacerdotal apontados com toda a clareza.

Foi exatamente isso que foi jogado fora pela revolta protestante. Ao rejeitar o sacerdócio católico, Lutero jogou fora todo o sistema sacramental com o qual a salvação de Cristo é aplicada na vida dos fiéis.

Se você for olhar, dos sete sacramentos, aqueles que se repetem mais frequentemente na nossa vida são a confissão e a comunhão. Comunhão e confissão são o nosso caminho de santificação, e essas duas realidades não acontecem sem o sacerdote. O sacerdote é feito para celebrar Missa. Sim, o sacerdote é feito para ouvir confissões. Estas duas colunas são sustentadas por uma realidade espiritual que está na teologia do próprio sacerdócio católico. Nosso Senhor Jesus Cristo não é somente sacerdote, mas vítima.

Os estigmas do santo de Pietrelcina nos mostram algo também luminoso e especial. Nos dois mil anos de história da Igreja Católica, todos os santos estigmatizados eram leigos. Padre Pio foi o único sacerdote escolhido para carregar as chagas de Jesus, mostrando luminosamente que todo sacerdote não é somente sacerdote, é também vítima configurada a Cristo, junto com Jesus. Assim, Padre Pio se ergue com proporções históricas monumentais, ou seja, é um verdadeiro farol para a crise que viria na Igreja. E não somente isso: o próprio Padre Pio dizia e confessava: “Eu vim para os padres. Tudo isso que eu sou, tudo isso que eu sofro, eu o sofro pelos sacerdotes”.

A Santa Igreja Católica tem verdadeiramente uma coluna que é — poderíamos dizê-lo usando a expressão latina — a quæstio stantis aut cadentis Ecclesiæ, a questão de a Igreja ficar de pé ou de ela cair de vez: é o santo sacerdócio. O Padre Pio, mais do que tratados espirituais ou teológicos a respeito do sacerdócio, vem ser uma encarnação palpável, concreta e inquestionável daquilo que é o padre como pensado por Deus, ministro da Palavra e dos sacramentos; sim, homem que se oferece como vítima no altar, junto com o sacrifício de Cristo e conduz as almas pela Palavra de Deus através do aconselhamento no confessionário.

Padre Pio não era um grande pregador de multidões, mas que pregador era Padre Pio quando, com a Palavra de Deus, espada afiada de dois gumes, atingia as almas no confessionário numa pregação individual, pessoal e concreta! 

O altar e o confessionário, o sacerdócio e a entrega de vítima, que grandeza a deste grande santo! Que ele interceda por nós sacerdotes e por toda a santa Igreja, para que, como seus filhos espirituais, possamos um dia chegar à porta do Céu. Padre Pio prometeu que estaria à porta do céu e não entraria enquanto não entrasse seu último filho espiritual. É claro, ele entrou no Céu, mas que alegria saber que ele cuida de nós e nos espera para, junto com ele, festejarmos o grande sacrifício de Cristo no Céu, no altar do Céu, na catedral do Céu, no sacerdócio do Céu!

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