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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 2, 13-17)

Naquele tempo, Jesus saiu de novo para a beira do mar. Toda a multidão ia a seu encontro, e Jesus os ensinava. Enquanto passava, Jesus viu Levi, o filho de Alfeu, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: “Segue-me!” Levi se levantou e o seguiu.

E aconteceu que, estando à mesa na casa de Levi, muitos cobradores de impostos e pecadores também estavam à mesa com Jesus e seus discípulos. Com efeito, eram muitos os que o seguiam. Alguns doutores da Lei, que eram fariseus, viram que Jesus estava comendo com pecadores e cobradores de impostos. Então eles perguntaram aos discípulos: “Por que ele come com os cobradores de impostos e pecadores?” Tendo ouvido, Jesus respondeu-lhes: “Não são as pessoas sadias que precisam de médico, mas as doentes. Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores”.

1. A Palavra de Deus (Hb 4, 12-13). — O autor sagrado, por certa digressão, passa das penas cominadas por Deus para os prevaricadores a uma rápida descrição das propriedades do Verbo divino. — V. 12. Convém perguntar-se em primeiro lugar o que a expressão “Palavra de Deus” (gr. ὁ λόγος τοῦ θεοῦ) significa nessa passagem:

a) Muitos a interpretam como sendo a vontade de Deus revelada aos homens, ou seja, a palavra ou a mensagem que Deus lhes transmite, seja por exortações, promessas ou advertências. Os que seguem essa interpretação, com efeito, se baseiam em que, primeiro, o termo λόγος, no léxico teológico de S. Paulo, não costuma ser aplicado ao Verbo de Deus e, segundo, não é preciso afastar-se do sentido usual das palavras só porque algumas coisas se aplicam mais propriamente a Deus do que à sua palavra, uma vez que a locução “palavra de Deus” (lt. sermo Dei) significa, no fundo, o mesmo que “Deus que fala” (lt. Deus loquens).

b) Outros, entre os quais se contam Ecumênio, S. Tomás de Aquino, Caetano, Cornélio a Lápide etc., são da opinião de que é ao Verbo de Deus que S. Paulo se refere neste versículo, e isso por três razões: 1.ª) não consta que o nome λόγος, como forma de designar o Filho de Deus, tenha sido inventado por S. João nem que fosse de uso exclusivo dele; 2.ª) não há dúvida de que as propriedades aqui enumeradas pelo Apóstolo convêm perfeitissimamente ao Verbo de Deus; 3.ª) a cláusula final do v. 13, “é a ela (lt. ad quem) que devemos prestar contas”, refere-se evidentemente a Jesus Cristo, Verbo de Deus, pois o emprego do pronome relativo indica com toda clareza que se trata do mesmo sujeito das orações precedentes. — Contudo, não há por que negar, tendo em vista o contexto inteiro, que as propriedades que no v. 12 se dizem da Palavra eterna de Deus podem aplicar-se também à palavra promissória, exortatória, cominatória etc. de Deus.

“É viva (gr. Ζῶν),  eficaz [...]”, ou seja, não carece de atividade nem pode frustrar-se em seus efeitos, senão que alcança sempre o seu objetivo, quer na retribuição do prêmio aos justos, quer na aplicação das penas que prescreveu para os ímpios, seja ainda para atrair a vontade humana ao bem por meio de inspirações e auxílios interiores. — “[...] mais cortante do que qualquer espada de dois gumes” (gr. ὑπὲρ πᾶσαν μάχαιραν δίστομον), que é mais apta para cortar e atravessar a carne, “penetra até dividir (gr. ἄχρι μερισμοῦ) alma e espírito, articulações e medulas”, isto é, a) penetra até as operações mais ocultas pelas quais se caracterizam e dinstinguem a ψυχή (alma racional, princípio da vida natural), de um lado, e o πνεύμα (alma enquanto elevada pela graça), de outro; ou b), segundo uma metáfora tomada do corpo humano, penetra até o mais íntimo da alma e do espírito, das articulações, e medulas etc., ou seja, até os recônditos mais escondidos da interioridade humana em sua completude, inclusive os que nos são ocultos inclusive a nós mesmos.

V. 13. “Ela julga os pensamentos e as intenções do coração. E não há criatura que possa ocultar-se diante dela. Tudo está nu e descoberto (gr. τετραχηλισμένα) a seus olhos”: o verbo grego τραχηλίζω significa torcer ou tomar pelo pescoço ou incliná-lo a fim de matar mais facilmente uma vítima; em sentido metafórico, significa abrir, manifestar. — “E é a ela que devemos prestar contas” (gr. πρὸς ὃν ἡμῖν ὁ λόγος), isto é, à Palavra de quem vem tratando o autor sagrado ao longo da Epístola e à qual, como ao nosso Juiz, daremos conta de todas nossas ações, palavras e omissões nesta vida.

2. Cristo, Sumo Pontífice (Hb 4, 14-16). — Dito isto, o autor sagrado passa a tratar do sacerdócio supremo de Jesus Cristo: Ele, por ter sido constituído Sumo Pontífice entre Deus e a humanidade, foi verdadeiramente enriquecido de poderes sacerdotais. Pois bem, a dignidade sacerdotal de Nosso Senhor, à qual já fizera duas menções o autor sagrado em capítulos precedentes (cf. Hb 2, 17; 3, 1), deve excitar em nossas almas um duplo afeto: a) em primeiro lugar, de constância (“permaneçamos firmes na fé que professamos”), pois o nosso Pontífice é realmente grande, por ser Filho natural de Deus, e porque penetrou, não o Santo dos Santos, como Aarão e seus sucessores, mas o próprio céu; b) em segundo, de confiança, pois Cristo está sempre disposto a compadecer-se de nós, já que experimentou em si mesmo, graças à Encarnação, as nossas fraquezas e debilidades. De fato, “Ele mesmo foi provado em tudo como nós”, isto é, em todo gênero de dores e males da vida presente, como o cansaço, o ser injustiçado e perseguido etc., “com exceção do pecado” e, obviamente, da concupiscência que leva ao pecado. Assim, Ele quis sofrer o que sofremos para que, movido de misericórdia, viesse em socorro dos nossos males, quaisquer que sejam eles.

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