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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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Estamos no quinto dia da nossa novena de Pentecostes, que é a nossa preparação para a grande festa do derramamento do Espírito Santo sobre nós. Assim, com Nossa Senhora e com os discípulos, nós perseveramos em oração, numa espécie de retiro espiritual, voltando-nos verdadeiramente para o Espírito de Deus.

Naquela manhã de Pentecostes, quando sobre Maria e os Apóstolos desceu o Espírito do Senhor, São Pedro saiu do Cenáculo e fez a sua primeira pregação. Bastava ouvi-lo para as pessoas perguntarem o que deviam fazer para se salvarem. Ora, a primeira resposta de Pedro é que elas deveriam, todas, arrependerem-se dos seus pecados e receber o Batismo. São Pedro foi enfático: “Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. A promessa é para vós e vossos filhos e para todos aqueles que estão longe, todos aqueles que o Senhor Nosso Deus chamar” (At 2, 38-39). Quando São Pedro fala sobre aqueles que estão longe, ele está pensando em nós — é claro que não estávamos em Jerusalém, mas essa promessa do Espírito Santo é para as nossas vidas. 

E o Espírito de Deus perdoa os nossos pecados e nos une a Cristo — como membros do seu Corpo. É importante observarmos que a Igreja sempre usou a metáfora do corpo para explicar a presença e a ação do Espírito Santo: Jesus é a cabeça, nós somos os membros e o Espírito do Senhor é a alma que une esse corpo — claro que se trata meramente de uma comparação. Quando eu digo que você tem alma, quero dizer que a alma é a forma substancial do seu corpo. Mas o Espírito Santo não é a forma substancial da Igreja, pois isso implica dizer que Ele é parte da Igreja — mas Deus não pode ser parte de coisa alguma, isso seria uma forma de limitá-lo. Aqui, portanto, fazemos uma comparação para dizer que o Espírito de Deus realiza na Igreja ações análogas àquelas que a alma realiza no corpo. Se a alma une todos os membros do corpo, então o Espírito Santo une todos os membros da Igreja — inclusive nós. 

Essa unidade real, plenamente verdadeira, acontece por meio tão somente de Cristo. Quando, no início da Missa, dizemos “O amor de Cristo nos uniu” — citando a famosa frase de São Paulo —, isso quer dizer que o Espírito vem até o seu coração e coloca, na sua vontade, o mesmo amor que está presente no coração de Jesus. 

Eis a grande maravilha: o meu coração e o coração de Jesus se fundem em uma só vontade. E isso de tal maneira que quando você progride no âmbito espiritual, quando mais o Espírito de Deus age em sua vida, você passa a querer o que Cristo quer. Esse é o motivo pelo qual nós passamos a fazer aquilo que Nosso Senhor faz. 

Tudo isso pode parecer complicado e excessivamente teórico, mas vamos explicar melhor: afirmar que o Espírito Santo é a alma da Igreja significa dizer, tomando como referência os primeiros discípulos em Atos dos Apóstolos, que eles tinham “cor unum et anima una”, ou seja, um só coração e uma só alma. Todos estão no mesmo lugar, com o mesmo propósito. Ora, não se trata de uma assembleia que, democraticamente, vota, apelando à concórdia. O Espírito está movendo todos os nossos corações na Igreja. Esse é o motivo pelo qual nossas vontades estão unidas à vontade suprema de Cristo. E isso de tal forma que, quanto mais você progredir na sua vida espiritual, mais poderá dizer, como São Paulo: “Vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). Toda a vontade é dele, nós somos apenas instrumentos. É como dizia Santa Elisabete da Trindade, nós vamos nos tornando como que uma “humanidade suplementar”, acrescida a Cristo. Na Encarnação, Deus tinha uma humanidade que Ele usava, a de Jesus; mas em Pentecostes, por meio do Espírito Santo, Ele começa a usar a nossa humanidade. 

Ora, tudo isso nos mostra uma só verdade: o Espírito de Deus, que é a alma da Igreja, nos une a Cristo; Ele não é outra coisa senão o Espírito de Amor — o amor de Cristo nos uniu. É assim que vamos nos tornando, cada vez mais, configurados a Nosso Senhor. 

Então, reflita sobre isso, pois essas coisas vão nos mudando interiormente. Isso porque a sua identidade começa a mudar, você vai entendendo para qual propósito você veio a este mundo, quem você verdadeiramente é. O mal do homem moderno é achar que ele é o que ele bem quiser ser. Mas estamos pedindo que esta novena de Pentecostes seja, realmente, uma descoberta: você só será você quando não tiver mais vontade própria e, assim, quiser aquilo que Cristo quer — tudo isso no poder do Espírito Santo.

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