Estamos no sexto dia da nossa novena de Pentecostes. Sabemos que o Espírito Santo é a alma da Igreja, mas essa metáfora usada há tantos séculos precisa ser esclarecida. Como dizíamos ontem, quando falamos que o Paráclito é a alma da Igreja, isso não quer dizer que Ele é parte de um composto, como nós — somos um composto de matéria e forma, corpo e alma. Só usamos essa comparação para dizer que o Espírito nos une ao Corpo místico de Cristo. Ora, Cristo é a cabeça; nós, os membros; e o Espírito mantém essa realidade unida. Mas há outra verdade revelada nessa analogia: assim como a alma é o princípio da vida, o Espírito é a vida da Igreja. 

A Igreja é um organismo vivo, porque o Espírito é o seu princípio de vida. Vejamos: quando dizemos que algo é dotado de vida, queremos dizer que há um princípio de ação agindo no seu interior. Vamos fazer outra comparação: eu moro no Estado do Mato Grosso e há muitas fazendas de gado por aqui. Suponhamos que você seja dono de um lote de terra e que tenha decidido deixá-la ao léu, com a sua própria vitalidade natural agindo por si. Ora, esse terreno não vai se transformar em uma fazenda de pecuária espontaneamente — no passado, nós tínhamos no Pantanal gado selvagem que crescia sem demandar cuidados, mas eram animais de baixa produtividade. Porém, se você decidir desenvolver a pecuária na sua terra, será necessário interromper o movimento natural de vitalidade, será preciso intervir. É preciso haver um princípio externo de organização. Trocando em miúdos: você terá de arranjar dinheiro, plantar capim, comprar gado, vacinar os animais, alimentá-los etc. Ou seja, a vitalidade da fazenda vem de fora — o seu lote de terra não é um organismo vivo. Ora, algo tem vida quando tem movimento em si mesmo. O princípio vital da fazenda veio de fora — os insumos, o dinheiro etc. Portanto, se a terra for abandonada, o negócio ficará caótico e, por fim, morrerá. 

Estou gastando todo esse tempo, na novena de Pentecostes, para explicar essa analogia com uma fazenda porque a Igreja tem, em si, um princípio de vida. Ora, a Igreja é uma sociedade distinta das outras. Isso porque, para promover a família, uma cidade, um clube, uma escola, uma universidade, o Estado brasileiro etc., ou você se esforça para trazer o princípio vital ou o negócio simplesmente perecerá sob o caos. Se você não buscar forças, sua família simplesmente esfarela — assim como o clube ou a empresa, porque tudo fica caótico. Mas não é assim que acontece com a Igreja. 

Temos a impressão de que, por meio da nossa evangelização, trazemos a Igreja à existência. Mas isso não é verdade, pois o princípio de vida do Corpo Místico de Cristo vem de dentro — é o Espírito Santo. É por isso que os evangelizadores deixaram as suas casas e atravessaram mares para converter os pagãos; os religiosos se entregaram na caridade para com os pobres, os órfãos e os necessitados. Essa é a ação interna do Espírito Santo — que acontece por meio dos sacramentos. Tudo isso implica também a hierarquia da Igreja, o Papa, os bispos e os padres — é o princípio interno. Evidentemente, há o princípio externo, que quer desagregar, “matar” a Igreja. Mas Jesus mesmo disse que “as portas do Inferno não prevalecerão” (Mt 16, 18) — por mais que, em certos momentos históricos, a Igreja aparentemente perca, Jesus garantiu que ela jamais morrerá, pois o princípio de vida é o Espírito Santo. As portas do Inferno não prevalecerão contra a Igreja eterna. 

Portanto, nós vemos que há um princípio de vitalidade que brota na alma da Igreja. E quando parece que a Igreja está sucumbindo sob as cinzas da extinção, quando você já não vê coisa alguma da sua vitalidade, mesmo assim há um braseiro ardente, escondido sob as cinzas; é o princípio de vida, o Espírito Santo. Por isso, nesta novena de Pentecostes, plenamente confiantes desta vida escondida dentro de nós, proclamemos: “Vinde, Espírito Santo”.