Os três grandes livros graças aos quais G. K. Chesterton se tornou mais conhecido no Brasil complementam-se mutuamente e constituem, de certo modo, uma única obra, na qual o escritor inglês prova todo o seu gênio apologético, bem como sua equilibrada visão do homem moderno e dos problemas que o angustiam. Trata-se de Hereges, de 1905; Ortodoxia, de 1906; e O homem eterno, de 1925. Nas próximas aulas, passaremos em revista o conteúdo de cada um desses livros, começando agora, como é natural, pelo primeiro.
Hereges não veio a lume como um livro propriamente dito, escrito numa sentada ou de acordo com um plano prévio. É fruto, na verdade, de uma série de ensaios filosóficos que Chesterton foi publicando no jornal Daily News. Os ensaios consistem fundamentalmente em críticas mordazes a alguns contemporâneos ilustres do escritor, sobretudo a Bernard Shaw e George Wells, e num diagnóstico preciso e quase profético de muitos males que, já em germe na distante Inglaterra do séc. XIX, chegariam a um grotesco paroxismo no séc. XXI.
Antes porém de adentrar as páginas de Hereges, é necessário perguntar-se por seu título. Que é, afinal, um herege? Dum ponto de vista,...