Dos livros que fizeram a fama de G. K. Chesterton, o mais conhecido é sem dúvida Ortodoxia. Há, no entanto, um problema com esta obra que, mais do que desdourá-la, manifesta a sua genialidade, e é o fato de não haver nela uma única linha desperdiçável. O livro articula-se, é certo, segundo uma lógica clara e consequente, mas é difícil individualizar seu núcleo, seu eixo cardeal: são tantos os pensamentos profundos de que está repleto, que nenhum parece ser o mais importante, em torno do qual girariam os demais. Daí a dificuldade de resumi-lo, de compendiá-lo na forma de uma tese única, apoiada em uns quantos argumentos e com algumas conclusões de segunda ordem.
Seja como o for, o que, sim, se pode dizer com toda a certeza de Ortodoxia é que se trata, como dito logo no prefácio, da autobiografia espiritual de Chesterton, isto é, de uma descrição dos caminhos intelectuais que o levaram a descobrir ou, antes, a ser descoberto pelo cristianismo. O livro, é verdade, foi escrito em 1908, antes de sua conversão do anglicanismo à fé católica 14 anos depois; mas a quem o lê atentamente é mais do que claro que, ao menos em espírito, no que respeita às verdades e valores...