Como vimos na aula passada, Ortodoxia é um livro eminentemente autobiográfico, no qual Chesterton repisa o itinerário intelectual que o levou desde a percepção da loucura do pensamento moderno à compreensão da sensatez paradoxal do cristianismo. A partir de Descartes, o mundo precipitou-se numa heresia fundamental, que é o não reconhecer outra fonte de conhecimento além da razão, entendida como razão geometrizante, dedutiva, sedenta de uma certeza matemática. Trata-se, noutras palavras, de uma razão parcial, mutilada e, poderíamos dizer, caolha, incapaz de enxergar o valor do “mágico”, não no sentido de superstição, mas de surpreendente, de indedutível, do que só se pode conhecer por visão direta e simples, como a de uma criança.
Ao perceber os absurdos a que levava o projeto da modernidade, Chesterton dedicou-se à tarefa de elaborar uma visão de mundo que escapasse a esses parcialismos de que vimos falando, mas a filosofia que ele pensava ser descoberta sua era, na verdade, um mistério descoberto à humanidade. Era o cristianismo. Essa descoberta, porém, Chesterton não a descreve como resultado de uma dedução lógico-matemática, como se um pouco de paciência, somada a...