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O santo que defendeu as imagens sagradas

“Outrora, nenhuma imagem havia de Deus, desprovido de corpo e de figura. Mas agora, depois que Deus foi visto na carne e viveu com os homens, em razão da parte em que se deu a ver, posso dele formar uma imagem” (São João Damasceno, De imag. I 16).

Texto do episódio
01

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 9,35–10,1.6-8)

Naquele tempo, Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando o evangelho do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade. Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse a seus discípulos: “A Messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi pois ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!” E, chamando os seus doze discípulos deu-lhes poder para expulsarem os espíritos maus e para curarem todo tipo de doença e enfermidade.Enviou-os com as seguintes recomendações: “Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo’. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar!”

I. Transcrição

Com alegria celebramos hoje a memória de São João Damasceno, presbítero e Doutor da Igreja. São João Damasceno é o último dos Padres gregos, autores de doutrina certa e de grande santidade que, na Antiguidade, na primeira parte da história da Igreja Católica, colocaram as colunas de nossa fé. São João Damasceno viveu numa época em que, claro, já estávamos em plena Idade Média e, portanto, a Antiguidade já estava sendo deixada para trás. A parte em que ele nasceu, na Síria, em Damasco (por isso ele é chamado Damasceno), já tinha sido invadida pelos árabes. Nós já estamos aqui diante da situação dos islâmicos tomarem parte do Oriente e de tentarem impor a sua religião na base da espada. Apesar disso tudo, São João Damasceno, que vivia na Síria, vivia perto da terra de Jesus, perto de Jerusalém, continuou firme na fé. Ele teve uma educação cristã bastante sólida. O seu pai, que era católico, comprou no mercado um escravo, um monge chamado Cosme, que tinha sido aprisionado na Sicília e fora trazido pelos árabes como escravo e estava à venda no mercado de Damasco. Quando o pai de João viu que aquele era um monge sábio, comprou aquele escravo e deu a ele liberdade, mas pediu ao monge Cosme (depois seria, também ele, considerado como um santo, São Cosme) que desse educação ao seu filho João.

Assim, São João Damasceno pôde receber uma educação esmerada, uma educação cristã extraordinária; mas não somente: uma educação na matemática, na música, na filosofia, nas letras… Assim ele, como um grande sábio, foi crescendo e foi ordenado sacerdote. Acontece que a Síria, ou seja, aquela região onde estava São João Damasceno, já não fazia mais parte do Império Romano do Oriente. Mas em Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, surgiu uma grande heresia: a heresia do iconoclasmo. O que é isso? O imperador Leão III Isauro tinha colocado na cabeça o seguinte: “Eu preciso reconquistar as terras que agora estão embaixo do poder dos muçulmanos, mas aquele povo que foi conquistado pelos muçulmanos e segue agora o islamismo vai ter grande dificuldade de se converter ao cristianismo se a gente for com esse negócio de imagens”. Por quê? Porque tanto os judeus como os muçulmanos abominam imagens, então nós precisamos “purificar” a Igreja. Leão Isauro foi lá, com o seu pouco conhecimento teológico, como os nossos protestantes modernos aqui do Brasil vêem que existe no Antigo Testamento uma proibição de se fazer imagem, e se há proibição de fazer imagem, “vamos lá, vamos começar a quebrar as imagens”. E veio a heresia da iconoclastia: começaram a quebrar as imagens porque, com isso, achavam que estavam agradando a Deus e que iriam, com isso, também atrair os benefícios e as benesses dos muçulmanos, que facilmente se converteriam para dar unidade religiosa ao império.

Ledo engano. São João Damasceno, que estava fora do império, vendo toda aquela movimentação, de lá começou a escrever cartas cada vez mais veementes contra a heresia da iconoclastia, explicando: “Assim como nós conhecemos a Palavra de Deus através da Escritura para aqueles que sabem ler, aquelas pessoas que não sabem ler encontram nos ícones e nas pinturas a sua Escritura”, ou seja, estão lá para evangelizar as pessoas, para que as pessoas conheçam as verdades de Cristo através das pinturas e dos ícones. E não somente: se nós veneramos os lugares sagrados por onde Jesus passou; se nós veneramos o Calvário, o Cenáculo, o sepulcro onde Jesus foi sepultado; se veneramos o santo lenho da cruz, por que não iremos nós venerar também aqueles ícones que pintam o rosto santíssimo de Nosso Senhor e que também retratam o rosto daqueles que são amigos de Cristo, os santos? Assim ele defendeu a confecção de imagens, dizendo que era uma grande traição, uma grande perfídia começar a quebrar as imagens.

O imperador Leão III não perdeu tempo. Embora João Damasceno não fosse seu súdito, ele arranjou uma daquelas cartas que foram escritas por João Damasceno, mandou que falsários imitassem a sua letra, e escreveu uma carta em que “João Damasceno” estava planejando fazer algo contra o califa, que era o rei que mandava na região da Síria onde morava São João Damasceno. Pois bem, de forma pérfida e traiçoeira, João Damasceno foi traído e acusado falsamente por aquela carta; foi condenado pelos muçulmanos e condenado, já que estava escrevendo coisas loucas contra o califa. O califa mandou que se lhe cortasse a mão. Nossa Senhora, no entanto, apareceu e milagrosamente curou a mão de São João Damasceno para que ele continuasse a escrever e continuasse a ensinar a verdade. Diante daquela verdade, é claro, os muçulmanos pararam de perturbar São João Damasceno, e ele se retirou a um mosteiro e foi ser monge. De lá daquele mosteiro ele saía constantemente para pregar o Evangelho e pregar o evangelho principalmente em Jerusalém.

Ali ele fez pregações extraordinárias, sobretudo a respeito da Virgem Maria, como grande Doutor da Igreja. São João Damasceno defendeu a ressurreição de Nossa Senhora, ou seja, o fato de que Nossa Senhora, na Assunção, foi levada ao céu ressuscitada, em corpo e alma gloriosos. É uma doutrina que ele atesta, dizendo que é antiquíssima, vem do tempo dos Apóstolos. Quando o Papa Pio XII proclamou o dogma da Assunção de Nossa Senhora, São João Damasceno foi uma das grandes colunas e um dos grandes argumentos utilizados pelo Papa Pio XII para proclamar o dogma da Assunção da Virgem Maria aos céus. Vejam esse grande Doutor, que faz com que nós nos voltemos para a Virgem Santíssima! O tempo do Advento é um tempo marcado pela presença de Nossa Senhora, e São João Damasceno, grande cantor da Virgem Maria, grande Doutor da Igreja, nos ensina não somente a venerá-la através da doutrina que ele tão belamente e fielmente impôs, mas também através dos hinos que ele compunha em honra da Virgem Maria e dos ícones que ele defendeu que fossem pintados em honra daquela que é toda bela e toda santa, Nossa Mãe do céu. Nós, que preparamos o Natal do Senhor junto com a Virgem Maria, abrimos o nosso coração para a vinda de Cristo, o Cristo que vem e dizemos com ela: Vem, Senhor, Jesus.

II. Comentário exegético

Início da missão apostólica. — V. 35. Jesus ia percorrendo todas as cidades e aldeias. ‘Descreve o evangelista o empenho de Cristo em percorrer todas, sem omitir nenhuma, cidades e aldeias, i.e. pequenos povoados, porquanto não desdenhava pregar nas pequenas cidades. Ensinando nas sinagogas, i.e. nos lugares destinados à doutrina e à pregação, pregando o Evangelho do reino celeste. Isto, com efeito, é próprio do Evangelho, diferentemente do Antigo Testamento, que prometia bens temporais na terra da promissão. E curando toda a doença e toda a enfermidade no povo’ (1). Nisto ‘se dá exemplo aos pregadores, para que não se contentem em pregar em somente um lugar: Eu vos destinei para que vades e deis fruto (Jo 15,16)’ (2).

V. 36. Vendo Jesus as multidões, i.e. sua miséria não só corporal, mas sobretudo espiritual, compadeceu-se delas (gr. ἐσπλαγχνίσθη περὶ αὐτῶν), quer dizer, comoveu-se internamente, condoendo-se com sumo afeto e comiseração dos males daquela gente. Porque estavam cansadas e abatidas, i.e. afligidas por muitos males, como ovelhas que não têm pastor, que erram de um lado para outro, sem saber nem onde nem como encontrar o pastor e o restante do rebanho. Significa, portanto, que o povo judeu se desgarrrara por diversos gêneros de vícios e erros, vexado por diversos males causados pelos demônios, sem que houvesse um pastor que tomasse conta de sua salvação. Por isso disse Jesus aos discípulos:

V. 37s. A messe é verdadeiramente grande, i.e. do povo judeu, pois no meio dela fora semeada pelos profetas a palavra de Deus e a esperança do Messias. Por isso em Jo se diz dos judeus: Os campos que já estão branquejando para a ceifa (4,35), ou seja, já estão maduros, tendo recebido a doutrina evangélica, para passar da sinagoga para a Igreja como do campo para o celeiro, porque o fim da lei é Cristo. Eis por que, com respeito aos judeus, não se diz que os Apóstolos semeiam (o que mais lhes convinha com respeito aos gentios), mas que colhem o que já foi semeado; cf. Jo 4, 38: Eu enviei-vos a segar o que vós não trabalhaste etc. — Os operários, i.e. os segadores ou ceifeiros encarregados de trazer a messe de Israel para a Igreja pregando o Evangelho do Reino anunciado pela lei, são poucos, ou porque, antes dos Apóstolos, só houvesse Cristo e João Batista, ou porque fossem poucos os bons operários (3). — Rogai pois ao Senhor da messe (Jesus, segundo Crisóstomo, refere-se tacitamente a si mesmo, embora seja provável tratar-se do Pai, a quem o Senhor costuma referir todas as suas coisas) que mande operários para a sua messe. A Deus compete enviar, pois os que se intrometem em seu campo, sem ter sido legitimamente enviados, passam a foice em messe alheia e tornam-se réus de sacrilégio, como todos os hereges. Por isso são operários de Deus somente os que ele mesmo manda, porque só Deus lhes pode dar o título de operários e torná-los idôneos e fiéis (4).

A missão dos Apóstolos (Lc 9,1-6). — V. 1. Pois bem, como o Senhor visse as turbas cansadas como ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,36; Mc 6,34), movido de misericórdia, chamou os doze e, munindo-os de carismas apostólicos, enviou-os de dois em dois (para sua mútua consolação, diz Eutímio), a fim de percorrer a Galileia, pregar o reino de Deus e curar os doentes (cf. Mt 10,1; Mc 6,7; Lc 9,1). — Ora, ‘para que a esta missão não faltasse poder, ou para que a doutrina não fosse desprezada como novidade nem parecesse que se tinham arrogado o poder de pregar em nome de Deus, Cristo ajuntou-lhes os milagres como selo de sua missão e autoridade. Por isso deu-lhes o poder de expulsar os espíritos imundos. Chamam-se imundos, não por natureza, mas por vícios, já que se agradam com todo tipo de imundície. Aborrecem e perseguem a santidade, razão por que decaíram da pureza divina. Contudo, este poder de expulsar espíritos e curar doenças não era inerente aos Apóstolos como o é a Cristo, mas estavelmente atribuído e assistido pela divina vontade, a fim de que, pelos milagres, se lhes confirmasse enquanto legados a reverência, a autoridade e a fé, i.e. o que’ naturalmente ‘lhes faltava por inteligência, eloquência, riqueza, pompa, aparência’ etc. (5).

Os avisos que lhes deu o Senhor nesta ocasião constituem como que um código do múnus apostólico. É incerto, todavia, se Cristo lhes explicou de uma só vez tudo o que está contido neste sermão, ou se o evangelista, como de costume, reuniu num só lugar instruções dadas em vários. Como no sermão da montanha e nas parábolas, Mt parece deixar claro (cf. 10,5; 11,1) que Cristo dirigiu todo o sermão aos discípulos nesta mesma ocasião. — O argumento do discurso divide-se em dois capítulos: a) avisos referentes à missão galilaica (cf. Mt 10,5-15; Mc 6,8ss; Lc 9,3-6; 10,4-12); b) avisos sobre a missão universal dos Apóstolos e seus sucessores por todo o mundo (cf. Mt 10,16-42).

(Mt 10,5s) A estes doze enviou Jesus, como legados da altíssima missão de anunciar o reino dos céus, depois de lhes ter dado as instruções seguintes: 1.º preceito: Não vades (agora) para entre os gentios, ‘pois não chegou ainda o tempo de anunciar a todos a salvação. Cristo, no entanto, ordenou-lhes o contrário depois da ressurreição, uma vez que, segundo a sapientíssima ordenação de Deus, convinha que aos judeus, como aos filhos do reino para quem fora feita a promessa do Messias, falasse primeiro o Verbo de Deus. Como, porém, o rejeitassem e se mostrassem indignos da vida eterna, era justíssimo que o Evangelho fosse anunciado às gentes, como explica São Paulo (cf. At 13,46)’ (6). — Nem entreis nas cidades (πόλιν = cidade, sem art. def., i.e. em qualquer cidade) dos samaritanos, pelos mesmos motivos; ‘de fato, também eles eram gentios, pois vieram da Caldeia para a Judeia (cf. 2Rs 17,24), ou porque, devido a certo culto ao Deus verdadeiro e à expectativa do Messias (cf. Jo 4,20.25), eram vistos como algo intermédio entre judeus e gentios, razão por que o Senhor os menciona expressamente’ (7). — Ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel (8). Como dito, o Senhor assim ordenou porque foi aos judeus, em preferência aos outros povos, que Deus fizera a promessa do reino (cf. Gn 17,7; Rm 1,16; 15,8), e porque sabia que os judeus veriam com maus olhos que ele se dirigisse logo aos pagãos. 

NB — Que este preceito valha apenas para missão na Galileia é evidente pelo fato de Cristo mesmo ter ordenado aos Apóstolos que evangelizassem o mundo inteiro (cf. Mt 28,19; Mc 16,15; At 13,46 etc.).

V. 7. 2.º preceito: Pondo-vos a caminho, anunciai (aqui se dá um resumo da missão) que está próximo o reino dos céus, ‘para que se preparem pela penitência, como Mc complementa (cf. 6,12), o que compreende tanto a detestação da vida velha quanto o início de uma nova’ (9). — O primeiro preceito (v. 5s) foi sobre o lugar da pregação; este segundo é sobre matéria dela: ‘A mesma matéria que João Batista e o próprio Jesus pregavam é confiada à pregação dos Apóstolos, a saber: Está próximo o reino dos céus. É este, pois, todo o fruto da pregação: que os homens entendam, creiam, esperem e amem as coisas que são do reino dos céus. O qual, antes da vinda de Cristo, estava muito longe não só do ânimo dos homens, mas também de ser instaurado, de modo que nem os santos patriarcas a ele eram admitidos na morte. Na pregação do reino dos céus inclui-se a pregação do desprezo dos reinos da terra, dos vícios e de tudo quanto impede os homens de entrar no reino dos céus’ (10).

Vida de pobreza (cf. Mc 6,8s; Lc 8,3; 10,4). — À pregação apostólica se reserva por ora o mesmo argumento que já fora pregado às turbas por João Batista e pelo próprio Cristo: Está próximo o reino dos céus; deve-se usar largamente o carisma de curas: 3.º preceito: Curai os enfermos, mas é proibido pedir qualquer recompensa pelo benefício recebido: 4.º preceito: Dai de graça o que de graça recebestes (v. 8) (11), o que, para alguns, é uma alusão ao costume dos rabinos de cobrar estipêndio pelo ensino da doutrina. Como razão se deduz destas palavras a proibição da simonia (12). Com efeito, os bens espirituais são mais valiosos do que qualquer preço temporal, como se diz da sabedoria: Não é dada pelo mais puro ouro, nem é comprada a peso de prata ( 28,15); Nem pus em paralelo com ela as pedras mais preciosas, porque todo o ouro em sua comparação é um pouco de areia, e a prata será considerada como lodo à sua vista (Sb 7,9).

Referências

Tomás de Vio Cateano, in Matt. 9,35 (ed. Lyon, 1639, vol. 4, p. 49).

Santo Tomás de Aquino, super Matth. X l. 5 (5.ª ed., Marietti, 1951, p. 125, n. 796s).

Cf. Id., ibid. (p. 126, n. 808).

Cf. Jansênio de Gantes, Tetrateuchus (ed. Bruxelas, Typis F. t’Serstevens, 1755, p. 88s). — Cf. Santo Tomás de Aquino, op. cit., loc. cit. (p. 126, n. 809): ‘Rogai pois ao Senhor da messe que mande operários, não interesseiros [questuarios = ambiciosos, mercenários] que corrompem com mau exemplo, para a sua messe, i.e. para a messe de Deus. Os interesseiros, com efeito, não são enviados para a messe de Deus, mas para a sua messe, porque não buscam a glória de Deus, mas o próprio interesse’.

Id., ibid.

Id., p. 91.

Id., ibid.

Cf. Id., ibid.: ‘Sob o que compreende toda aquela nação, que é chamada ovelhas do rebanho de Deus (cf. Sl 73,1), enquanto povo peculiarmente eleito por Deus; mas perdidas, porque todo o gênero humano se perdeu em Adão e se desgarrou como uma ovelha (cf. Is 53, passim), e porque, naquele tempo, os judeus estavam peculiarmente vexados e abatidos, como ovelhas sem pastor . . . Pela mesma causa e no mesmo sentido Cristo é chamado por Paulo ministro da circuncisão (cf. Rm 15,8), e ele mesmo (cf. Mt 15,24) afirma não ter vindo senão para as ovelhas da casa de Israel’. 

Id., ibid.

Tomás de Vio Caetano, in Matt. 10,7 (ed. Lyon, 1639, vol. 4, p. 49).

Cf. São Jerônimo, in Matt. 10,7s (PL 26, 62): ‘Para que não sucedesse de ninguém acreditar em homens rudes e nada eloquentes, ignorantes e iletrados que prometiam o reino dos céus, deu-lhes o poder de curar os doentes, limpar os leprosos, expulsar os demônios, a fim de que a grandeza dos sinais provasse a grandeza das promessas. E porque sempre os dons espirituais (se há dinheiro envolvido) envilecem, acrescenta-se uma condenação à avareza: Dai de graça o que de graça recebestes’.

Cf. J. Knabenbauer, Commentarius in Evangelium secundum Matthæum. 3.ª ed., Paris: P. Lethielleux (ed.), 1922, p. 440: ‘Quer, por conseguinte, que evitem cuidadosamente toda espécie de avareza . . . E sugere-lhes claramente algumas causas desta proibição. Ao dizer, como nota Jansênio, de graça recebestes, significa que eles não são os donos dos bens que receberam, como nós somos donos das coisas que adquirimos por um preço ou com trabalho; por isso a venda repugna à origem dos bens espirituais, que provêm da vontade gratuita de Deus; donde, faz irreverência a Deus e às coisas espirituais o que as vende, por fazer com que se torne não gratuito o que Deus, por meio dele, quer dar gratuitamente aos homens. Tampouco convinha que recebessem daqueles a quem tinham curado uma recompensa em sinal de gratidão, a fim de que a piedade não se convertesse em mercancia nem o que fora instituído para a glória de Deus e a salvação dos fiéis se tornasse ocasião de avareza’.

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