Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 5, 17-19)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra. Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus”.
Na véspera da solenidade de Corpus Christi, revela-nos Cristo que desde sempre foi intenção sua instituir o augusto sacramento de seu Corpo e Sangue, prefigurado de diversas maneiras e ao longo de vários séculos no Antigo Testamento. “Não penseis”, diz Ele, “que vim abolir a Lei e os profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. E como entre a Lei e os profetas encontramos não poucos símbolos e figuras do santíssimo sacramento da Eucaristia, não nos deve surpreender que Cristo os não tenha abolido, mas instituído nestes últimos tempos a realidade para a qual apontavam. Mas por que símbolos e figuras fala o Antigo Testamento deste que é, sem dúvida, o dom mais nobre e precioso deixado por Ele à Igreja Católica, ao qual todos os fiéis devem acorrer como à fonte da graça, para dali haurir as águas que jorram para a vida eterna? Ora, se na Eucaristia, como em todos os sacramentos, se podem distinguir três aspectos ou dimensões, a saber: (a) apenas o sinal sacramental, (b) a realidade junto com o sinal e (c) apenas a realidade por ele significada, não é muito que encontremos na Escritura três grupos de figuras referentes à Eucaristia sob um ou outro desses aspectos. Assim, pois, (a) se nos centramos apenas no sinal sacramental, que são as espécies de pão e vinho, veremos a Eucaristia prefigurada na oblação de Melquisedeque (cf. Gn 14, 18), nos pães da proposição, reservados a Aarão e seus filhos (cf. Lv 24, 5-9), e no pão cozido de Elias (cf. 1Rs 19, 6); (b) se nos centramos na realidade junto com sinal, que é o próprio Cristo, ou seja, o seu Corpo e Sangue presentes sob as espécies sacramentais, veremos a Eucaristia prefigurada sobretudo nos sacrifícios expiatórios do Antigo Testamento; (c) se, enfim, nos centramos na realidade mesma ali significada, que é a graça nutritiva (gratia cibans) com que Cristo conforta o que comunga, veremos a Eucaristia prefigurada especialmente no maná, que continha em si todo sabor e era dado aos peregrinos no deserto, assim como hoje é dada a Eucaristia aos peregrinos nesta vida. De todas essas imagens, porém, nenhuma supera a do cordeiro pascal, pois só ele — afirma S. Tomás (cf. STh III 73, 6 c.) — representava desses três ângulos, ao mesmo tempo, a SS. Eucaristia: (a) quanto ao sinal apenas, porque se comia com pães ázimos; (b) quanto à realidade junto com sinal, porque era imolado pelos israelitas, prefigurando a Paixão de Cristo; (c) e quanto à realidade apenas, porque com o sangue do cordeiro os filhos de Israel foram protegidos do anjo devastador e finalmente libertados da servidão no Egito. Aí temos uma pequena amostra da riqueza de imagens com que Deus quis preparar o seu povo para a vinda de um dos maiores milagres da graça, cuja solenidade queremos celebrar amanhã com profunda alegria e ação de graças: “Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento” [1].
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