São Lucas narra no capítulo 8, versículos 28-34, quando Nosso Senhor Jesus Cristo mandou que demônios saíssem de dois possessos e fossem para uma manada de porcos. Como é possível que demônios “saiam” e “entrem” em pessoas e animais?
Trata-se de uma curiosidade teológica, sobre a qual não existe uma palavra definitiva da Igreja, embora sobre algumas coisas sobre o demônio sejam verdades de fé, portanto, indiscutíveis. A primeira é a existência de Satanás e seus demônios, e a segunda é a ação deles no mundo. Todo o resto pertence ao campo da teologia.
O Catecismo da Igreja Católica, em seu número 395, explica como se dá a ação de Satanás no mundo e, para tanto, adota a posição teológica de Santo Tomás de Aquino. Primeiramente, diz que o poder do demônio “não é infinito”. E prossegue: “Ele não passa de uma criatura, poderosa pelo fato de ser puro espírito, mas sempre criatura.”
Sendo um espírito puro, as armas do demônio são espirituais, portanto, quando se diz que ele “entrou”, “saiu” ou “foi expulso”, a linguagem utilizada é a metafórica, ou seja, não descreve exatamente o fenômeno em si, mas se vale de uma alegoria, de uma semelhança. A ação demoníaca se dá, portanto, no espírito, provocando a alma da pessoa em suas faculdades periféricas.
O Catecismo prossegue dizendo que o Demônio “não é capaz de impedir a edificação do Reino de Deus”, portanto, Deus é mais poderoso que ele. E continua:
Embora Satanás atue no mundo por ódio contra Deus e seu Reino em Jesus Cristo, e embora sua ação cause graves danos - de natureza espiritual e, indiretamente, até de natureza física - para cada homem e para a sociedade, esta ação é permitida pela Divina Providência, que com vigor e doçura dirige a história do homem e do mundo.
Portanto, se o Demônio age no mundo é porque Deus assim o permite. Para explicar a perplexidade que se dá com a afirmação acima, o próprio Catecismo finaliza:
A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas ‘nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam’. (395)
Não se sabe por que Deus permite a ação do Demônio, mas tão somente que se Ele permite é que tem uma salvação, uma redenção, um propósito atrás disso. Trata-se de um grande mistério, mas como diz Santo Agostinho: “Deus onipotente, sendo sumamente bom, não deixaria mal algum em sua obra, se não fosse tão poderoso e bom que pudesse tirar até do mal o bem”.
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