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Como indefesos diante dos lobos

“Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Cuidado com os homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas.”

Texto do episódio
554

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 10, 16-23)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Cuidado com os homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas.
Vós sereis levados diante de governadores e reis, por minha causa, para dar testemunho diante deles e das nações. Quando vos entregarem, não fiqueis preocupados como falar ou o que dizer. Então naquele momento vos será indicado o que deveis dizer. Com efeito, não sereis vós que havereis de falar, mas sim o Espírito do vosso Pai é que falará através de vós.
O irmão entregará à morte o próprio irmão; o pai entregará o filho; os filhos se levantarão contra seus pais, e os matarão. Vós sereis odiados por todos, por causa de meu nome. Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo. Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo, vós não acabareis de percorrer as cidades de Israel, antes que venha o Filho do Homem.

No Evangelho de hoje, Jesus diz algo surpreendentemente aos Apóstolos: “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos” (Mt 10, 16).

Qual pastor faria isso com as suas ovelhas, enviando-as no meio dos lobos? Bem, Jesus usou essa metáfora por duas razões: para que os Apóstolos, quando viessem as dificuldades e o martírio, não pensassem que isso era algo que não estava no projeto divino; e para compreendermos que quem defende a Igreja verdadeiramente é Nosso Senhor, e não a nossa força humana. 

Se Jesus nos enviasse armados para nos defendermos diante dos inimigos, nós poderíamos achar que obtivemos a vitória sobre eles por causa de nossa capacidade de defesa. Entretanto, Cristo quer que coloquemos toda a nossa confiança nele diante da maldade do mundo e dos ataques do demônio. É por esse motivo que Nosso Senhor permite que sofrimentos nos aflijam. Não é porque Ele não nos ama ou não pode nos proteger, mas sim porque, uma vez que vencemos a batalha, enxergamos que a vitória é de Deus, e não nossa. 

Na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1, 26-29), há um comentário extraordinário a essa passagem do Evangelho. Nele, São Paulo diz que Deus escolhe aqueles que são fracos, pobres e ignorantes para que, uma vez manifestada a vitória, a glória seja claramente de Deus. Ele até mesmo diz: “Assim ninguém poderá gloriar-se diante de Deus” (1Cor 1, 29). Nesse contexto, percebemos que os Apóstolos são pessoas inermes e frágeis diante do mundo; mas Jesus lhes dá um conselho valioso, que serve como “arma” para se protegerem: “Sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mt 10, 16). 

Santo Tomás de Aquino, ao comentar este Evangelho, menciona três características da serpente que são interessantes como metáfora. Em primeiro lugar, a serpente defende a cabeça quando é atacada. Isso quer dizer que nós, cristãos, nunca devemos perder a reta razão, cientes daquilo que temos de realizar. Em segundo lugar, a serpente muda de pele, o que significa que os cristãos devem sempre buscar a conversão, sem se acomodar nos seus pecados. Em terceiro lugar, a serpente soube argumentar e convencer Eva na hora do pecado, e por isso também o pregador deve saber argumentar, levando as pessoas à verdade. No entanto, devemos ser também como as pombas: simples, puros e inocentes. 

Portanto, a nossa verdadeira arma é a argumentação, a qual irá ser usada,  inspirada por Deus e a serviço da nossa conversão, para que mantenhamos sempre a nossa intenção pura e reta. Dessa forma, estaremos iniciando maravilhosamente a nossa missão, caminhando na reta estrada que foi traçada por Nosso Senhor.

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