Pode parecer surpreendente, mas não só contar piadas não constitui em si pecado algum, como faz parte de uma virtude humana, à qual Santo Tomás de Aquino dá o nome de "eutrapelia" (S. Th., II-II, q. 168, a. 2), expressão grega que quer dizer, literalmente, graça, bom humor, divertimento.
O Doutor Angélico reflete sobre essa virtude considerando que a alma, assim como o corpo, precisa de descanso, especialmente após alguma atividade mais trabalhosa. "É necessário buscar o remédio à fadiga da alma nalgum prazer", ele diz, "afrouxando o esforço com que nos entregamos à atividade racional". Esse prazer o ser humano o encontra nos jogos e brincadeiras, com os quais busca "a diversão da alma". Trata-se de práticas necessárias, "de tempos em tempos", para desanuviar a mente, recompor as próprias energias e continuar a séria jornada desta vida rumo à eternidade.
Como todas as virtudes, porém, também esta exige a aplicação de uma reta medida. Quem conta piadas deve tomar, sobretudo, um tríplice cuidado, como orienta ainda o Aquinate. O primeiro deles é o de não se comprazer em "atos ou palavras torpes ou nocivas", maliciosas ou maldosas. Com isso, proíbem-se brincadeiras indecentes, principalmente de matéria sexual, além de zombarias que rebaixam a dignidade humana e incitam o ódio ou o preconceito aos irmãos, pois isso seria pecar contra a benevolência devida ao próximo. Nas palavras do Apóstolo: "Nada de obscenidades, de conversas tolas ou levianas, porque tais coisas não convêm" (Ef 5, 4).
A segunda cautela a tomar diz respeito à "gravidade da alma", que não devemos perder nem quando nos divertimos. "Acautelemo–nos, ao querer dar descanso à alma", adverte neste sentido Santo Ambrósio de Milão, "para não destruirmos totalmente a harmonia, que é um como concerto das boas obras". A eutrapelia não deve ser vivida "entre parênteses", por assim dizer, como se fosse algo desvinculado das demais atividades de nossa existência. Ao contrário, é justamente por sermos filhos de Deus, chamados ao prêmio da bem-aventurança eterna, que podemos alegrar-nos e sorrir. Foi o que fizeram muitos santos e santas da Igreja, em suas passagens por esta terra, deixando entrever com isso a graça e a inocência das crianças, sem as quais o próprio Senhor advertiu que não entraríamos no Reino celeste (cf. Mt 18, 3).
Por fim, é necessário que os divertimentos em que tomamos parte aconteçam sempre nas "circunstâncias devidas", isto é, que aconteçam no tempo e no lugar apropriados, e que sejam feitos com as pessoas certas. Atendo-nos sempre a esses princípios, brincar não só nos será permitido, como fará brilhar em nós "a luz de um espírito virtuoso".
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