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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 1, 21b-28)

Estando com seus discípulos em Cafarnaum, Jesus, num dia de sábado, entrou na sinagoga e começou a ensinar. Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei.

Estava então na sinagoga um homem possuído por um espírito mau. Ele gritou: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus”. Jesus o intimou: “Cala-te e sai dele!”

Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu. E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: “Que é isso? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!” E a fama de Jesus logo se espalhou por toda parte, em toda a região da Galileia.

1. A excelência de Cristo em relação aos anjos, não obstante o rebaixamento da Encarnação (Hb 2, 5-9). — V. 5. Após fazer uma breve digressão moral (v. 1-4), o autor sagrado retoma o assunto que havia começado a expor no capítulo precedente. “Não foi aos anjos”, escreve, “que Deus submeteu o mundo futuro” (gr. τὴν οἰκουμένην τὴν μέλλουσαν), isto é, o tempo futuro, o tempo messiânico “do qual estamos falando”. Com efeito, o tempo presente, com todos os elementos de que consta, encontra-se sujeito ao império dos anjos, segundo a teologia judaica; mas, na nova economia do povo de Deus, isto é, no reino messiânico a que o autor da Epístola, fazendo uso do modo de os rabinos se expressarem, chama ha‘olam habba’ (lt. sæculum venturum), todas as coisas estarão submetidas direta e imediatamente a Cristo, não aos anjos.

V. 6-8a. “A este respeito, porém, houve quem afirmasse”, isto é, o rei Davi, em Sl 8, 5-6: “O que é o homem, para dele te lembrares, ou o filho do homem, para com ele te ocupares?” Este Salmo messiânico, como fica claro pela fórmula adversativa com que o cita o autor sagrado e as passagens Mt 21, 16, 1Cor 15, 26-27, Ef 1, 22, pertence provavelmente ao grupo de Salmos que, interpretados à letra, falam do ser humano em geral, mas cujo sentido só é pleno e perfeito se referido a Cristo. — E prossegue com o salmista: “Tu o fizeste um pouco menor (gr. βραχύ τι) do que os anjos” (Sl 8, 7). A locução βραχύ τι, por sua vez, admite uma dupla explicação: a) por um breve espaço de tempo (isto é, ao longo de sua vida mortal ou, para alguns intérpretes, no tempo da Paixão), Cristo foi menor do que os anjos, ainda que desde a concepção se lhe devesse a glória da divindade; b) enquanto homem, Cristo teve uma natureza inferior à dos anjos, embora Deus o tenha coroado “de glória e honra”.

V. 8b-9. Das palavras do Salmo: “e todas as coisas puseste debaixo de seus pés” (Sl 8, 8) infere o autor sagrado que todas as coisas estão sujeitas a Cristo, sem nenhuma exceção, “ainda que nem todas o estejam da mesma maneira, porque uma é a sujeição dos amigos; outra, a dos inimigos” (G. Estius, Comm. in Pauli epist.). — “Atualmente, porém, ainda não vemos que tudo lhe esteja submisso”, pois são muitos os que lhe repudiam a autoridade, desprezam a Lei e lhe perseguem os discípulos. No entanto, “Jesus, a quem Deus fez pouco menor do que os anjos, nós o vemos coroado de glória e honra, por ter sofrido a morte”. Trata-se de uma resposta à objeção anterior, a saber: conquanto o vaticínio de que todas as coisas estarão sujeitas a Cristo não se tenha cumprido integralmente, vemos contudo que a principal parte da profecia, que diz respeito à vitória e à glorificação de Cristo, já se cumpriu, donde se pode concluir que também há de cumprir-se a seu tempo o que falta à plena realização dos desígnios de Deus.

2. Os porquês da Encarnação e da Paixão (v. 10-18). — Pois bem, a afirmação feita ao final do v. 9 de que Cristo provou a morte pela graça de Deus em favor de todos dá ao autor sagrado a ocasião de explicar com mais detalhe o argumento exposto nesse mesmo versículo. Por isso, estabelece o princípio segundo o qual era conveniente que Cristo, encarnado pela salvação dos homens, padecesse segundo a carne, e o demonstra com base em três motivos: a) primeiro (v. 11-13a), para que assim os homens se tornassem seus irmãos (conveniência da Encarnação); b) segundo (v. 14-15), para destruir o império da morte e do diabo (conveniência da Paixão pela morte); c) e para que (v. 16-18), “tendo Ele próprio sofrido ao ser tentado”, fosse “capaz de socorrer os que agora sofrem a tentação” (conveniência da Paixão pelas tribulações). Vejamos por ora apenas o primeiro motivo: a união dos homens a Cristo, Filho de Deus encarnado, na qualidade de irmãos.

V. 10. “Convinha de fato que aquele, por quem”, como causa eficiente de infinita sabedoria (gr. δι᾽ ὃν), “e para quem” (gr. δι᾽ οὗ), como causa final última, “todas as coisas existem, e que desejou conduzir muitos filhos à glória” celeste, segundo os desígnios de sua presciência divina, “levasse o iniciador da salvação deles à consumação” (gr. τελειῶσαι), isto é, o glorificasse plenamente “por meio dos sofrimentos” (gr. διὰ παθημάτων). — V. 11-12. Assim, Cristo foi constituído por Deus sacerdote e Sumo Pontífice, com o fim de santificar o povo com o sacrifício cruento de si mesmo. Mas a própria natureza das coisas exige que o sacerdote seja da mesma natureza daquele por quem o sacrifício é oferecido, e por isso convinha que tanto Ele como os seus santificados descendessem de um único e mesmo ancestral (gr. ἐξ ἑνὸς πάντες, lt. ex uno omnes). Ora, que isso se verifique em Jesus Cristo, demonstra-no, entre outros, o seguinte testemunho da S. Escritura: no Sl 21, 23, que, segundo a Tradição unânime, se refere ao Messias pendente da cruz, Cristo não se envergonha de chamar irmãos aos que santifica com o seu sacrifício, a ponto de se lhe atribuírem as seguintes palavras proféticas: “Anunciarei o teu nome a meus irmãos”. Mas, se temos nele alguém que se quis fazer nosso irmão, temos também um Pontífice compassivo, que “está em condição de vir em auxílio dos que são atribulados” (v. 18), porque Ele mesmo suportou não só as nossas dores, mas também o fazer-se pobre e pequeno como nós, associados doravante à sua família.

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