Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 10, 27-30)
Naquele tempo, disse Jesus: "As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão.
Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um".
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Há quem interprete a pregação de Jesus sobre o Bom Pastor, que perpassa todo o 10.º capítulo do Evangelho de São João, como um discurso meramente bucólico e pitoresco. Enquanto O ouvimos dizendo, "ninguém vai arrancá-las de minha mão" (v. 29), a nossa imaginação pode imediatamente conceber um pastor nos carregando sobre os ombros e cuidando ternamente de nós. A ilustração é verdadeira e não há problema algum em recorrer a essas imagens para ilustrar o que diz Nosso Senhor nessa passagem tão bela das Escrituras. O alcance das palavras de Cristo, entretanto, vai muito além. Ao empregar a analogia do pastor, Nosso Senhor alude a um duelo de vida e de morte (mors et vita duello, como canta a seqüência Victimae paschalis laudes), cujo ápice está justamente na Sua Paixão, Morte e Ressurreição — na Sua Páscoa.
É que, dando a vida por Suas ovelhas, Cristo Pastor dá vida a elas, e não uma vida simplesmente biológica, mas uma vida eterna. Fazendo isso, o Senhor se contrapõe às maiores ameaças do rebanho, que são os ladrões e os mercenários:
- "O ladrão vem só para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância" (Jo 10, 10). O ladrão vem de fora para matar, para levar as ovelhas à morte eterna. É imagem de Satanás e de tudo quanto ele usa de instrumento para levar as almas à morte eterna, que é o inferno. Jesus, ao contrário, vem dar vida às almas.
- "O mercenário, que não é pastor e a quem as ovelhas não pertencem, vê o lobo chegar e foge. Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida (ponit animam suam) por suas ovelhas" (Jo 10, 11-12). O mercenário não é senhor das ovelhas: está dentro, mas se põe a cuidar delas apenas pelo salário. É imagem do mau pastor, que, quando vê o lobo chegar, foge, e deixa expostas as ovelhas; que prefere sacrificar a vida das ovelhas a entregar a sua. Jesus, ao contrário, vem dar a Sua vida pelas almas.
Para participarmos dessa vida que Cristo nos veio trazer entregando a própria vida, porém, é necessário que fechemos os ouvidos aos ladrões e assaltantes e estejamos atentos à Sua voz, como Ele mesmo diz: "As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem" (v. 27). Na prática, isso significa escutar o Verbo eterno e alimentar a nossa fé nele — fé sem a qual é impossível agradar a Deus (cf. Hb 11, 6). O Pai revelou o Seu grande amor por nós, mas só desfrutaremos desse amor se acreditarmos. Tudo começa, pois, pela virtude da fé.
Cabe dizer uma última palavra acerca da natureza do sacerdócio católico, neste dia em que celebramos o Bom Pastor. O padre não é um funcionário, mas um homem chamado a configurar-se a Cristo, na dupla dimensão que é apresentada no Evangelho de hoje: no sacrifício, ao entregar a própria vida pelo rebanho, e na fecundidade, ao trazer-lhe vida eterna, especialmente pela celebração dos Sacramentos.
Peçamos a Deus, neste domingo, que nos envie sacerdotes santos e humildes, os quais, imbuídos do espírito do Bom Pastor, zelem fielmente pelo rebanho, ecoando não a voz perturbadora do mundo, mas a voz verdadeira e caridosa de Cristo.
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