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Texto do episódio
232
Tunc milites praesidis suscipientes Iesum in praetorium, congregaverunt ad eum universam cohortem. Et exuentes eum, chlamydem coccineam circumdederunt ei. Et plectentes coronam de spinis posuerunt super caput eius et arundinem in dextera eius — Então os soldados do governador conduziram Jesus ao pretório e rodearam-no com todo o pelotão. Arrancaram-lhe as vestes e cobriram-no com um manto vermelho. Depois, teceram uma coroa de espinhos, puseram-lha sobre a cabeça e na sua mão direita uma vara (Mt 27, 27-29).

Passemos a considerar os outros bárbaros tormentos que aqueles soldados acrescentaram ao nosso já atormentado Senhor.

Reúnem-se todos os do pelotão e colocam-lhe sobre os ombros um velho manto vermelho, parodiando a púrpura real; nas mãos, uma vara figurando o cetro; e na cabeça, um feixe de espinhos em sinal de coroa, mas como se fosse um capacete que lhe cingia toda a cabeça. E já que, somente com as mãos, os espinhos não entravam ainda mais para perfurar aquela cabeça (já tão dolorida pelos golpes dos flagelos), servem-se de varas, e, cuspindo-lhe ao mesmo tempo no rosto, cravam-lhe com toda a força aquela cruel coroa (cf. Mt 27, 30).

Ó espinhos, ó criaturas ingratas, o que fazeis? Deste modo atormentais vosso Criador? Mas por que condenar os espinhos? Ó pensamentos iníquos dos homens, fostes vós que atravessastes a cabeça de meu Redentor. Sim, meu Jesus: nós, com nossos perversos consentimentos, tecemos a vossa coroa de espinhos. Agora eu os detesto e os odeio mais do que a morte ou outro mal qualquer. E a vós, ó espinhos consagrados pelo sangue do Filho de Deus, volto-me novamente, humilhado: transpassai a minha alma e fazei-a sentir sempre a dor de ter ofendido um Deus tão bom! E vós, Jesus, meu amor, já que tanto padeceis por mim, desprendei-me das criaturas e de mim mesmo, para que em verdade eu possa dizer que já não sou mais meu, mas somente vosso e todo vosso.

Ó meu aflito Salvador, ó Rei do mundo, a que vos vejo reduzido? A apresentar-se como rei de zombaria e de dor! A ser o escárnio de toda a Jerusalém! Escorre o sangue da cabeça transpassada do Senhor, sobre sua face e seu peito. Ó meu Jesus, me espanta a crueldade dessa gente: não satisfeita de vos ter esfolado quase da cabeça aos pés, agora vos atormenta com novos ultrajes e desprezos. Mas me espanto ainda mais com vossa mansidão e vosso amor, pois tudo sofreis e aceitais por nós com tanta paciência: “...injuriado, não injuriava; recebendo maus tratos, não fazia sequer ameaças, porém se entregava àquele que o julgava injustamente” (1Pd 2, 23).

Devia cumprir-se a predição do profeta: que o nosso Salvador seria coberto de dores e ignomínias: “Oferecerá a face ao que o ferir; será saturado de opróbrios” (Lm 3, 30).

Mas vós, soldados, não estais ainda satisfeitos? Depois de o terem assim atormentado e caçoado como rei, ajoelham-se diante dele e dizem-lhe aos risos: “Nós te saudamos, ó rei dos judeus!” E levantando-se, com risadas e escárnios dão-lhe mais bofetadas (cf. Mt 27, 29; Jo 19, 3).

Oh Deus, aquela sagrada cabeça de Jesus já estava toda dolorida pelas feridas dos espinhos; por isso, qualquer movimento lhe causava dores mortais: daí que toda bofetada ou pancada lhe eram de um tormento crudelíssimo. Levanta-te, ó minha alma, e ao menos tu reconhece nele o supremo Senhor de todas as coisas, como ele o é em verdade. E como rei de dor e de amor, agradece-lhe e ama-o, já que é para esse fim que ele padece: para ser amado por ti.

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