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Texto do episódio
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Exivit Pilatus foras... et dicit eis: Ecce Homo — Pilatos saiu… e disse-lhes: Eis o homem (Jo 19, 5).

Jesus foi novamente conduzido a Pilatos depois de sua flagelação e coroação de espinhos. Pilatos o olhou e, vendo como estava tão dilacerado e desfigurado, persuadiu-se de que o povo se moveria à compaixão só com vê-lo. Por isso, saiu para fora no terraço levando consigo nosso aflito Salvador, e disse: Ecce homo, como se dissesse: “Judeus, contentai-vos com o que já padeceu este pobre inocente”. Ecce homo: eis aquele homem que temíeis fazer-se vosso rei; ei-lo, contemplai a que estado está reduzido. Que temor podeis ainda ter agora que se acha num estado que não pode mais viver? Deixai-o sair para morrer em sua casa, visto que pouco lhe resta de vida.

Exivit ergo Iesus portans coronam spineam et purpureum vestimentum — E Jesus saiu, trazendo a coroa de espinhos e uma veste de púrpura (Jo 19, 15).

Olha também, minha alma, para aquele terraço e vê teu Senhor amarrado e conduzido por um carrasco: vê como está meio despido, ainda que coberto de chagas e de sangue; com as carnes dilaceradas, com aquele pedaço de púrpura que lhe serve unicamente de escárnio, e com aquela horrenda coroa que o atormenta sem cessar. Contempla a que foi reduzido teu pastor para te encontrar a ti, ovelha perdida.

— Ah, meu Jesus, sob quantos aspectos os homens vos fazem aparecer, mas todos são de dor e de infâmia! Ah, meu doce Redentor, vós causais compaixão até às feras, mas aqui não encontrais piedade! Eis o que responde essa gente: “Ao verem-no, os pontífices e ministros clamavam dizendo: Crucifica-o, crucifica-o” (Jo 19, 6). Mas que dirão eles no dia do juízo final, quando vos virem glorioso, sentado como juiz num trono de luz? Ó meu Jesus, também eu durante muito tempo exclamei: Crucifica-o, crucifica-o, quando vos ofendi com os meus pecados. Agora, porém, me arrependo de todo o meu coração e vos amo acima de todos os bens, ó Deus de minha alma. Perdoai-me pelos méritos de vossa Paixão, e fazei que naquele dia eu vos veja aplacado e não irritado contra mim.

Do terraço, Pilatos mostra Jesus aos judeus e diz: Ecce homo. Mas ao mesmo tempo, do alto do céu o Eterno Pai nos convida a contemplar Jesus Cristo naquele estado e diz também: Ecce homo. Ó homens, este homem que vedes tão ferido e vilipendiado, este é o meu Filho amado, que sofre dessa maneira por vosso amor e para pagar por vossos pecados: contemplai-o, agradecei-lhe e amai-o.

— Meu Deus e meu Pai, vós me dizeis que eu devo contemplar o vosso Filho. Eu, porém, vos peço que vós o contempleis por mim. Contemplai-o e, por amor desse vosso Filho, tende piedade de mim.

Vendo os judeus que, apesar de seus clamores, Pilatos procurava libertar Jesus, pensaram em obrigá-lo a condenar o Salvador, afirmando que, se não o fizesse, seria declarado inimigo de César: “Os judeus, porém, clamavam dizendo: Se soltares a este, não és amigo de César. Todo o que se faz rei, contradiz a César” (Jo 19, 12). E de fato acertaram, porque Pilatos, temendo perder as boas graças de César, toma consigo a Jesus Cristo e senta-se para dar a sentença e condená-lo: “Pilatos, tendo ouvido estas palavras, trouxe Jesus para fora e assentou-se no seu tribunal” (Jo 19, 13). Contudo, atormentado pelos remorsos de sua consciência, pois sabia que condenava um inocente, Pilatos volta-se novamente para os judeus: “E disse-lhes: Eis o vosso rei. Acaso hei de condenar o vosso rei? Eles, porém, clamavam: Fora! Fora! Crucifica-o” (Jo 19, 14-15). Replicaram os judeus, mais enfurecidos que na primeira vez: Eh Pilatos! Que nosso rei? Que rei? Por que esta insistência? Fora, fora! Tira-o daqui e faze com que seja crucificado!

— Ah, meu Senhor, Verbo Encarnado, viestes do céu à terra para conversar com os homens e para salvá-los, e estes não podem mais nem sequer ver-vos entre eles, e tanto se esforçam para dar-vos a morte e não mais vos ver.

Pilatos ainda lhes resiste e replica: “Hei então de crucificar vosso rei? Os pontífices responderam: Não temos outro rei senão César” (Jo 19, 15).

— Ah, meu adorável Jesus, eles não querem reconhecer-vos como seu Senhor, e afirmam não ter outro rei senão César. Eu vos confesso como meu Rei e Deus, e protesto que não quero outro rei para meu coração senão vós, meu Redentor. Infeliz de mim! Houve um tempo em que me deixei também dominar por minhas paixões, e vos expulsei de minha alma, ó meu Divino Rei. Agora, quero que só vós reineis nela: que vós ordeneis e ela vos obedeça. Com Santa Teresa vos direi: “Ó amado Jesus, que me amais acima do que eu posso compreender, fazei que minha alma vos sirva mais segundo o vosso gosto que o dela. Morra, pois, o meu eu, e em mim viva um outro que não eu. Ele viva e me dê vida. Ele reine e eu seja escravo, não querendo minha alma outra liberdade”. Oh, feliz a alma que pode dizer em verdade: “Meu Jesus, vós sois o meu único rei, meu único bem, meu único amor!”

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