Coenantibus autem eis, accepit Iesus panem et benedixit ac fregit, deditque discipulis suis et ait: Accipite et comedite: hoc est corpus meum — Enquanto estavam ceando, tomou Jesus o pão, benzeu-o e partiu-o, e deu-o a seus discípulos, dizendo: Tomai e comei: Isto é o meu corpo (Mt 26, 26).
Depois do lava-pés, ato de tão grande humildade cuja prática Jesus recomendou aos discípulos, ele retomou suas vestes e, sentando-se novamente à mesa, quis dar aos homens a última prova da ternura que nutria por eles: e esta foi a instituição do Santíssimo Sacramento do altar. Para tal fim, tomou um pão, consagrou-o e, distribuindo-o aos seus discípulos, disse-lhes: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. Recomendou-lhes, em seguida, que se recordassem de sua morte por amor deles, todas as vezes que comungassem (cf. 1Cor 11, 26).
Jesus procedeu então como um príncipe que amasse muito sua esposa e estivesse para morrer: escolheu entre suas jóias a mais bela, e chamando a esposa, disse-lhe: Vou em breve morrer, minha esposa. Para que não te esqueças de mim, deixo-te esta jóia em recordação: quando a olhares, recorda-te de mim e do amor que te dediquei.
São Pedro de Alcântara escreve em suas meditações:
Nenhuma língua [criada] pode declarar a grandeza do amor que Cristo tem [...] por cada uma das almas [que estão em estado de graça, porque cada uma delas é também sua esposa]. Por isso, querendo este Esposo partir-se desta vida, para que essa sua ausência não desse [à sua esposa] ocasião de esquecer-se dele, deixou-lhe em recordação este Santíssimo Sacramento, no qual ele mesmo permanece, não querendo que entre ele e sua esposa houvesse outro penhor que despertasse a sua memória, senão ele mesmo.
Compreendamos, pois, o quanto agrada a Jesus que nós nos recordemos de sua Paixão: foi exatamente para isso que ele instituiu o Sacramento do altar, para que fizéssemos contínua memória do imenso amor que nos demonstrou na sua morte.
Ó meu Jesus, ó Deus enamorado das almas, até onde vos arrastou o amor que tendes aos homens? Até vos fazerdes seu alimento! Dizei-me o que mais podeis fazer para obrigar-nos a vos amar? Vós vos dais todo a nós na Santa Comunhão, sem nada vos reservar; é, pois, justo que nos demos também a vós sem reserva. Procurem os outros o que quiserem: riquezas, honras e o mundo. Eu quero ser todo vosso, não quero amar coisa alguma além de vós, meu Deus.
Vós dissestes que quem se alimentar de vós, viverá só por vós: “Aquele que come de mim, viverá também por mim” (Jo 6, 58). Visto que tantas vezes me admitistes a alimentar-me de vossa carne, fazei-me morrer a mim mesmo, para que eu viva só para vós, só para vos servir, só para vos agradar. Ó meu Jesus, eu quero colocar em vós todos os meus afetos, ajudai-me a ser-vos fiel.
São Paulo nota o tempo em que Jesus instituiu este grande sacramento e diz: “Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e disse: Tomai e comei, isto é o meu corpo” (1Cor 11, 23).
Oh Deus! Naquela mesma noite em que os homens se preparavam para dar morte a Jesus, o amoroso Redentor nos preparava este pão de vida e de amor para nos unir todos a si, como havia declarado: “Quem come a minha carne, permanece em mim e eu nele” (Jo 6, 57).
Ó amor de minha alma, digno de um infinito amor, vós não podeis dar-me maiores provas para me fazer compreender o afeto e a ternura que me consagrais. Pois bem, atraí-me todo a vós: se eu não sei dar-vos meu coração inteiro, arrancai-o vós mesmo de mim. Ah, meu Jesus, quando serei todo vosso, como vós vos fazeis todo meu, pois que vos recebo neste sacramento de amor? Ah, iluminai-me e revelai-me sempre mais os vossos belos atributos, que vos fazem tão digno de ser amado, para que eu me abrase sempre mais em amor por vós, e me esforce em comprazer-vos. Eu vos amo, meu Sumo Bem, minha alegria, meu amor, meu tudo.
O que achou desse conteúdo?