Sciens Iesus quia venit hora eius ut transeat ex hoc mundo ad Patrem, cum dilexisset suos, in finem dilexit eos — Sabendo Jesus que era chegada sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus, amou-os até ao fim (Jo 13, 1).
Sabendo Jesus que estava perto o tempo de sua morte, no qual deveria partir deste mundo, e já tendo até então amado imensamente os homens, quis dar-lhes as últimas e maiores provas de seu amor. Eis que então, sentado à mesa e todo inflamado de caridade, volta-se para seus discípulos e diz: “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco” (Lc 22, 15).
“Meus discípulos, sabei que não desejei outra coisa durante minha vida inteira senão comer convosco esta última ceia, porque depois dela terei de sacrificar minha vida por vossa salvação.” — E isto dizia também a cada um de nós.
Então, ó meu Jesus, desejais tanto dar a vida por nós, miseráveis criaturas vossas? Ah, esse vosso desejo inflama imensamente os nossos corações a desejar padecer e morrer por vosso amor, já que tanto quisestes sofrer e morrer por amor de nós. Ó amado Redentor, fazei-nos compreender o que quereis de nós, que só desejamos comprazer-vos em tudo. Suspiramos por agradar-vos, para, ao menos em parte, corresponder ao grande amor que nos tendes. Aumentai sempre em nós esta chama bendita, que nos faça esquecer o mundo e nós mesmos, para que de hoje em diante não pensemos senão em contentar o vosso enamorado Coração.
Põe-se à mesa o cordeiro pascal, figura de nosso Salvador. Assim como o cordeiro era consumido naquela ceia, assim também no dia seguinte o mundo veria sobre o altar da cruz, consumido de dores, o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo.
Itaque cum recubuisset ille supra pectus Iesu — Reclinando-se aquele discípulo sobre o peito de Jesus… (Jo 13, 25).
Oh, como sois feliz, amado João, que, apoiando a cabeça sobre o peito de Jesus, compreendestes então a ternura que este amoroso Redentor alimenta em seu Coração para com as almas que o amam.
Ah, meu doce Senhor, quantas vezes me favorecestes com tal graça. Sim, também eu conheci a ternura do amor que me tendes, quando me consolastes com luzes celestes e doçuras espirituais; e apesar de tudo isso, não me conservei fiel a vós. Ah, não me deixeis mais viver assim tão ingrato para convosco. Eu quero ser todo vosso, aceitai-me e socorrei-me.
Surgit a coena, et ponit vestimenta sua; et cum accepisset linteum, praecinxit se. Deinde mittit aquam in pelvim, et coepit lavare pedes discipulorum, et extergere linteo, quo erat praecinctus (Jo 13, 4-5).
Ó minha alma, contempla o teu Jesus, como se levanta da mesa, depõe as suas vestes, toma uma toalha branca, cinge-se com ela e, colocando água numa jarra, se ajoelha diante de seus discípulos e começa a lavar os seus pés.
O rei do universo, o Unigênito de Deus, rebaixa-se para lavar os pés de suas criaturas!
Ó Anjos, que dizeis? Seria já um grande favor se Jesus lhes permitisse lavar com suas lágrimas seus pés divinos, como permitira à Madalena. Mas não, ele quis lançar-se aos pés de seus servos, para deixar-nos no fim de sua vida este grande exemplo de humildade, e mais este sinal do grande amor que consagra aos homens.
E nós, Senhor, continuaremos a ser sempre tão soberbos que não poderemos suportar uma palavra de desprezo, uma pequenina desatenção sem nos ressentirmos subitamente, sem que nos venha o pensamento de vingança… nós, que por causa dos nossos pecados, merecemos ser esmagados pelos demônios no inferno?
— Ah, meu Jesus, com vosso exemplo as humilhações e os desprezos se-nos tornaram muito amáveis. Eu vos prometo de hoje em diante querer suportar por vosso amor qualquer injúria ou afronta que me for dirigida.
O que achou desse conteúdo?