Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 3,10-18)
Naquele tempo, as multidões perguntavam a João: “Que devemos fazer?” João respondia: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!” Foram também para o batismo cobradores de impostos, e perguntaram a João: “Mestre, que devemos fazer?”
João respondeu: “Não cobreis mais do que foi estabelecido”. Havia também soldados que perguntavam: “E nós, que devemos fazer?”
João respondia: “Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!
O povo estava na expectativa e todos perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias. Por isso, João declarou a todos: “Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. Ele virá com a pá na mão: vai limpar sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará no fogo que não se apaga”.
E ainda de muitos outros modos, João anunciava ao povo a Boa Nova.
Meditação. — 1. A Igreja celebra hoje o 3.º Domingo do Advento, chamado também Domingo Gaudete devido à versão latina da antífona de entrada com que tem início a celebração: Gaudete in Domino semper, “Alegrai-vos incessantemente no Senhor” (Fl 4,4). A liturgia de hoje, rompendo com a tonalidade roxa e reservada do Advento, está toda marcada por tons alegres e jubilosos, despertados em nós pela perspectiva cada vez mais próxima do nascimento do Salvador: a) na primeira leitura, o profeta Sofonias diz: “Canta de alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel!” (Sf 3,14); b) também o hino de Isaías, que faz hoje as vezes do salmo responsorial, canta na mesma nota: “Exultai cantando alegres, habitantes de Sião!” (Is 12,2); c) a segunda leitura, enfim, retoma a antífona de entrada, ecoando a gozosa esperança de que o Redentor finalmente virá ao mundo: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos” (Fl 4,4).
2. O Evangelho, no entanto, parece destoar dessa modulação festiva em que a Liturgia da Palavra tanto insistiu até agora. Depois de pregar às multidões, João Batista aproveita o ensejo para esclarecer aos que o ouviam que o Messias não era ele, mas outro, que viria “com a pá na mão” para “limpar sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará no fogo que não se apaga” (v. 17), isto é, no juízo final, quando os maus serão precipitados no inferno. Poderíamos ser tentados a ver entre o tom “ameaçador” do Evangelho, por um lado, e o otimismo das demais leituras, por outro, certa incongruência: enquanto estas salientam a alegria de saber que o Senhor, cumprimento das promessas, virá trazer a salvação ao mundo, o Batista afirma que muitos se fecharão a esse dom de misericórdia e, por suas más ações, serão condenados pelo juiz como palhas lançadas ao fogo.
3. Mesmo aqui, apesar do panorama de iniquidades e pecados em que nos encontramos, deve ser grande a alegria dos nossos corações. E isso por três motivos:
a) Primeiro, porque a maldade é sempre “parasitária” do bem, como uma sombra, que só pode existir por contraste com a luz. Com efeito, por mais sombrios que sejam os dias de um cristão, em sua vida quer interior, quer exterior, há sempre um sol que brilha por cima das nuvens espessas da injustiça, do egoísmo e da maldade: Deus, que permanece sempre o mesmo e cuja luz não conhece ocaso. — b) Segundo, porque temos a garantia de que, após as amarguras e dificuldades desta vida, está à nossa espera um céu de vitória e glória eternas, onde nos serão enxugadas todas as lágrimas e gozaremos a companhia da corte celeste, dos anjos e santos, da bem-aventurada sempre Virgem Maria e seu esposo São José, bem como de todos os astros luminosos de santidade por quem tivemos devoção na terra. — c) Terceiro, porque a fé nos revela o mistério consolador da inabitação trinitária, pela qual as três pessoas da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, vêm habitar nas almas em graça, trazendo-lhes assim o céu inteiro, com todas as suas delícias e consolações, como atesta a experiência de inumeráveis místicos da Igreja, como Santa Catarina de Sena, Santa Teresa d’Ávila, São João da Cruz e Santa Isabel da Trindade.
Oração. — Ó Deus, que tendes o vosso trono acima dos querubins e cuja luz em nada diminui pela escuridão dos nossos pecados: infundi em nossos corações aquela alegria que o mundo é incapaz de dar e fazei-nos perseverar, constantes, em toda angústia e tribulação; para que, confortados pela vossa graça, saibamos aspirar ao prêmio eterno. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém.
Propósito. — Meditar sobre a alegria do véu e buscar fomentar ao longo da semana a devoção às três pessoas divinas, que habitam dentro de nós, especialmente após a comunhão.
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