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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 13,31-33a.34-35)

Depois que Judas saiu do cenáculo, disse Jesus: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo.

Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”.

A liturgia deste 5º Domingo da Páscoa, como toda liturgia desta fase final do tempo pascal, é uma liturgia que tenta nos preparar para Pentecostes, ou seja, é uma despedida de Jesus, que diz que irá enviar o Paráclito. É nesse ambiente da Última Ceia, então, que nós somos convidados a entrar. O Evangelho deste domingo é retirado do capítulo 13 de São João, que narra o início da Última Ceia.

Antes de comentar o Evangelho, vamos primeiro perceber a ideia que perpassa a Liturgia da Palavra deste domingo. Começamos a Primeira Leitura com São Paulo e São Barnabé em sua primeira viagem apostólica, na qual São Paulo começa a falar dos sofrimentos e das tribulações: “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no reino de Deus”. Poderíamos dizer que essa leitura fala mais da Paixão, ou seja, remete-nos aos padecimentos de Nosso  Senhor na Sexta-feira Santa.

 Já a Segunda Leitura, que é do Apocalipse, capítulo 21, fala da Jerusalém celeste. São João diz assim: “Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Eu vi a Cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do Céu de junto de Deus, vestida como esposa enfeitada para o seu esposo”, e ali São João coloca novamente aquilo que nós ouvimos na Segunda Leitura do domingo passado, em outro capítulo, mas com uma frase semelhante àquela: “Deus enxugará toda lágrima de seus olhos, a morte não existirá mais e não haverá mais luto, nem choro, nem dor, porque passou o que havia antes”. Então, a Segunda Leitura claramente nos remete à Ressurreição, na Páscoa, na glória do Céu.

Portanto, a Primeira Leitura nos fala da Paixão, dor, sofrimento, tribulação e perseguições que nós, cristãos, devemos enfrentar neste mundo; e a Segunda Leitura fala da Jerusalém celeste, a felicidade que virá, a alegria do Céu.

É com essa preparação para a paixão e ressurreição que nós adentramos o Evangelho, que se trata do primeiro capítulo em que São João narra a Última Ceia; mas antes de ler o Evangelho propriamente, vamos contextualizá-lo relacionando-o com o início do capítulo 13 de São João, que não está no Evangelho deste domingo, mas é importante para entender o ambiente no qual se passa isso que nós vamos ver.

Diz assim: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora”, hora de passar deste mundo para o Pai, “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Durante a Última Ceia, o diabo já tinha seduzido Judas Iscariotes para entregar Jesus, “e sabendo que o Pai havia posto tudo em suas mãos e que de junto de Deus saíra e para Deus voltava, Jesus levantou-se da Ceia…”. Aí se descreve o lava-pés e depois a traição de Judas. Jesus prevê a traição de Pedro, e é neste ambiente que, então, nós lemos o Evangelho deste domingo.

O Evangelho deste domingo começa deste modo: “Depois que Judas saiu do cenáculo, disse Jesus: ‘Agora foi glorificado o Filho de homem”. Vejam que contraditório! No momento em que Judas decidiu traí-lo, Jesus afirmou: “Agora foi glorificado o Filho de homem”.

Mas como foi glorificado?! Se Ele tivesse dizendo isso na manhã de domingo, depois da Páscoa, nós entenderíamos: Jesus ressuscitou, agora foi glorificado o Filho de homem. Mas não. Judas acaba de levantar o calcanhar para pisar o pescoço de Jesus — por assim dizer —, e Jesus diz: “Agora foi glorificado”. É aqui, queridos, que nós precisamos compreender: cruz e ressurreição, paixão e glória, estão sempre juntas. Não são duas realidades diferentes, são duas realidades sempre unidas; mas geralmente somente uma delas está em evidência, e é isso que precisamos notar.

Na Primeira Leitura, quando São Paulo diz que é necessário passar por muitos sofrimentos, o que está aparente e visível? Sofrimentos e perseguições, mas a glória de Deus também está lá, mas de forma invisível. Na Segunda Leitura, quando São João diz: “Vi um novo céu e uma nova terra”, o que está visível e aparente? A glória, o triunfo de Deus, mas o que está invisível e não tão aparente assim é o fato de que aquelas pessoas que estão na Cidade santa antes passaram pela grande tribulação, e como o Cristo que carrega as suas chagas gloriosas, também elas carregam as suas chagas. Da mesma forma, também os sofrimentos pelos quais nós passamos um dia serão gloriosos no Céu.

Então, é importante não ter medo quando se apresenta de forma mais visível a cruz. Por quê? Porque temos de crer que ali está invisível a glória, e nos momentos de glória nós temos de entender também que ali está escondida a tribulação, porque, se houve glória, é porque alguém sofreu, alguém amou, alguém se entregou.

Então, a primeiríssima coisa que eu gostaria de partilhar com vocês neste “Testemunho de Fé” é uma ideia muito simples, mas ao mesmo tempo uma ideia da qual nos esquecemos: o “mistério pascal” é um todo. Nós estamos celebrando o 5º Domingo da Páscoa. É Páscoa, mas nós temos de entender o que é a Páscoa. Páscoa é Paixão, Morte e Ressurreição. Tudo junto; alguns acontecimentos mais visíveis, outros menos visíveis. Na sua vida, o que você está vivendo? Um momento de paz, de triunfo, de glória, de tranquilidade? Ah! não se deixe enganar: é necessário que haja no seu coração uma chaga — uma chaga gloriosa, se quiser —, mas uma chaga de amor, porque não existe nenhum caminho para a glória que não seja o amor.

Meus queridos, vejam, aqui está uma das coisas que a fé católica nos ensina, e a fé católica é tão luminosa!… Qual é a maior glória que está no Céu? Evidente que é a da Santíssima Trindade, na sua glória eterna e infinita. Depois da Santíssima Trindade, a da humanidade de Cristo, que está intimamente unida à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. A glória de Jesus, pelo amor de Deus, não tem comparação. Mas tirando a glória de Jesus e da Trindade, qual é a maior glória que existe no Céu? É a de Nossa Senhora. E a glória de Nossa Senhora, muitos artistas católicos tentaram retratá-la com os anjos gloriosos admirados, como que surpreendidos misticamente pela glória de Maria no Céu. Porque a glória de Nossa Senhora no Céu é muito maior do que a glória de todos os anjos e de todos os santos juntos.

E por que a glória de Maria é tão grande? Porque ninguém amou como ela amou. A glória no Céu é proporcionada e proporcional ao amor que nós tivemos por Deus aqui na terra e que teremos por Deus no Céu. O amor que nós temos por Deus aqui na terra e que teremos por Deus no Céu chama-se “graça”. Só somos capazes de amar porque Deus nos dá a graça de amar.

Uma das coisas mais ridículas que há neste mundo é a pessoa achar que, por suas próprias forças, é capaz de amar Deus, sem reconhecer que aquilo é uma grande manifestação da graça. Maria foi capaz de amar porque era cheia de graça, e a graça transbordante no Coração dela fez com que ela amasse a Deus mais do que qualquer criatura jamais amou ou amará.

Então, meus queridos, a primeiríssima coisa, então, que nos ensina o quadro geral dessas leituras deste domingo é o “mistério da Páscoa”, em que por trás de cada tribulação e dor existe uma glória escondida, porque em cada tribulação e em cada glória existe amor. O amor é aquilo que une o sofrimento, a dor e a tribulação com a glória, a luminosidade e o esplendor do Céu.

Então, em primeiríssimo lugar, aqui está o amor, e é isso que Jesus nos ensina. Jesus diz assim no versículo 34: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”.

Vejam, meus queridos, o que significa esse mandamento “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”? A primeira interpretação que podemos dar é a mais óbvia: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, e como foi que Jesus nos amou? Bom, Jesus nos amou morrendo por nós na cruz. Ele vai dizer no capítulo 15: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”, e Jesus vai dar a vida. Claro, essa é a primeira interpretação, e a mais óbvia.

No entanto, se pegarmos o sentido literal e histórico, vamos perceber algo diferente: estamos ainda no capítulo 13 do Evangelho, Judas acabou de sair do cenáculo, Jesus ainda não morreu na cruz e está dizendo assim: “Amai-vos como eu vos amei”, ou seja, referindo-se ao passado. Mas como Jesus amou os discípulos até agora? Ele não morreu na cruz ainda. Jesus passou três anos ensinando os seus Apóstolos, porque Ele sabia que, ensinando a sua verdade, estava criando no coração deles uma comunhão com Deus, fazendo com que eles fossem aos poucos configurando seus corações ao coração de Deus. Ninguém jamais viu a Deus; mas Jesus veio do Céu, e as coisas que Ele viu do Pai, as coisas que Ele aprende com o Pai, Ele veio aqui no-lo trazer. E Ele veio, em primeiro lugar, nos dar conhecimento porque, uma vez que recebemos esse conhecimento, brota e começa a arder em nosso coração uma chama viva de amor.

Sim, “não ardia o nosso coração enquanto Ele nos ensinava pelo caminho?”, dizem os discípulos de Emaús. Mas isso que os discípulos de Emaús disseram na tarde da ressurreição, os Apóstolos podiam dizê-lo em relação àqueles três anos de ensinamentos: “Não ardia o nosso coração quando Ele subiu a montanha pela primeira vez e disse: ‘Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus’? Não ardia o nosso coração quando Ele contou aquela parábola do filho pródigo? Não ardia o nosso coração quando Ele, no meio das polêmicas com os fariseus e os judeus, falou de sua morte por amor a nós? Não ardia o nosso coração quando, na Última Ceia, Ele nos chamou de amigos? Não ardia o nosso coração quando Ele, olhando para João aos pés da cruz, disse: ‘Eis aí a tua Mãe’?”

As palavras de Jesus são espírito e vida. É isso que o próprio Jesus nos diz: “Minhas palavras são espírito e vida”, mas não as palavras impressas no papel, não as palavras pronunciadas, nem mesmo as palavras pronunciadas por Ele andando aqui na terra, não as palavras que Ele possa ter dito historicamente; mas sim as palavras que iluminam o nosso coração quando Ele, aqui na terra, fala; quando outros pregadores falam; quando a gente lê as Escrituras; quando nós meditamos a Palavra de Deus; ou quando simplesmente, no silêncio e na quietude, Ele nos fala de forma inefável.

O “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” significa, em primeiro lugar, meus irmãos, que nós precisamos levar as pessoas para a verdade de Deus. Nós não podemos supor, só porque nós pregamos o Evangelho, que os sete bilhões de habitantes no planeta já estejam experimentando Deus que fala no silêncio do coração. Não, não é assim que funciona. Não é assim que funciona e não é assim que funcionou, existe todo um processo a ser feito.

Se você, meu irmão, minha irmã, quer amar os irmãos como Jesus nos amou, você precisa ter a paciência que Jesus teve com aqueles Apóstolos durante três anos, ensinando pequenas coisas ou grandes coisas, ensinando coisas que às vezes ardem e iluminam o coração, mas às vezes também passam despercebidas. Aquilo que Jesus ensinou durante três anos foram sementes plantadas que depois só brotaram de verdade, com todo o vigor, quando o Espírito Santo foi derramado em Pentecostes. Enquanto isso, os Apóstolos eram amados por Jesus porque Jesus ensinava.

Esse é o primeiro passo; aí, depois que o nosso coração vai ardendo com a verdade da fé, vamos vendo o nosso coração se transformar, e tornamo-nos capazes de dar a vida pelos amigos, para levá-los para o Céu. Eis uma vida transformada, em que o “amai-vos uns aos outros” realizou-se de forma bem concreta. “Nisto todos reconhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros”.

Resumindo aquilo que meditamos neste “Testemunho de Fé”: em primeiríssimo lugar, meus queridos, paixão, morte e ressurreição estão unidas pelo amor. Se você está vivendo um momento de maior dor e paixão, não deixe de lembrar o amor que está lá, porque ali está escondida a glória; se você está vivendo um momento de consolação e de glória, não deixe de enxergar o amor, porque ali estão escondidas também as tribulações pelas quais você passou ou passará. Nesta realidade do amor, que é a razão de ser de nossa vida porque é o que nós faremos no Céu, amaremos a Deus e essa será a nossa glória.

Precisamos começar a amar concretamente, e amar concretamente é amar como Jesus nos amou. Primeiro, Ele teve paciência conosco, fazendo a Palavra de Deus arder em nosso coração. Essa palavra, que ilumina a inteligência e convida a vontade, aos poucos vai transformando o coração, e as pessoas vão amando de forma concreta, até darem a vida pelos irmãos. Novamente aqui o amor, o amor que está lá presente, tanto no intelecto que é iluminado pela fé como na vontade que, ardente, se entrega por amor a Deus e aos irmãos.

É Jesus que nos prepara para vivermos o nosso Pentecostes. Quando e como será? Isso está escondido no calendário e nas datas de Deus. Mas será, porque Ele o quer. Ele é Amor e quer o nosso amor.

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