Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo Marcos
(Mc 1,1-8)
Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Está escrito no livro do profeta Isaías: “Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho. Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas!’” Foi assim que João Batista apareceu no deserto, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados. Toda a região da Judeia e todos os moradores de Jerusalém iam ao seu encontro. Confessavam os seus pecados e João os batizava no rio Jordão. João se vestia com uma pele de camelo e comia gafanhotos e mel do campo. E pregava, dizendo: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias. Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo”.
Estamos no 2º Domingo do Advento, o tempo da esperança. No Evangelho de hoje, São João Batista se apresenta como aquele que prepara o caminho do Senhor que vem. Por isso, a Igreja prega durante este tempo a belíssima virtude da esperança — o esperar a felicidade eterna que Cristo vem nos dar.
No entanto, nunca foi tão difícil como agora pregar a respeito da esperança. Por que temos essa dificuldade? O que vamos explicar aqui se baseia num artigo da Suma Teológica, de Santo Tomás de Aquino (II-II, q. 20, a. 4). Santo Tomás nos ensina que existem dois grandes obstáculos para a esperança.
O primeiro deles é a dificuldade que se vivia, por exemplo, um século atrás, no tempo de Santa Teresinha do Menino Jesus. Na França daquela época, as pessoas se desesperavam porque a heresia do jansenismo apresentava o amor e a santidade como metas inalcançáveis. Então, no século XIX, Deus enviou justamente Santa Teresinha como um farol para mostrar o caminho da santidade.
Com sua “pequena via”, Santa Teresinha ensinou que devemos, sim, confiar em Deus; Ele quer que nós sejamos santos e amemos de verdade. Uma menina de 24 anos, numa França pessimista, que considerava impossível ser santo, olhava para a própria fraqueza e dizia: “Deus quer que eu seja uma grande santa, porque espera de mim um grande amor. Como não dou conta desse amor, Ele virá em meu socorro; Ele virá como uma águia, pegará o passarinho que sou, colocá-lo-á em suas costas e com ele voará em direção ao Sol”.
Grande confiança, grande esperança. Essa era a mensagem de Santa Teresinha, e como ela brilhou no coração das pessoas, enchendo-as da esperança de poder amar! Foi uma verdadeira escola de santidade, tanto que a Igreja se convenceu de que, realmente, Santa Teresinha foi uma grande teóloga e deu-lhe o título de “Doutor da Igreja”.
O Concílio Vaticano II proclamou o mesmo caminho que Santa Teresinha: a vocação à santidade é para todos. Todos precisamos ser santos. Ora, Deus não pede impossíveis; logo, se Ele nos quer santos, nos dará os meios de santificação.
Há cem anos, em resumo, pregar a esperança no Tempo do Advento era dizer: “A santidade existe. Deus quer que voemos como grandes águias. Paremos de nos arrastar como serpentes. Ele quer o nosso amor e não pede coisas impossíveis. Deus nos dá graça. Vamos voar, vamos amar”.
Hoje, as coisas estão diferentes. Não é como na época de Teresinha, que havia pessoas desesperadas, dizendo: “O amor é muito elevado; a salvação, muito difícil. Não vou conseguir”. Não, pelo contrário. Nos dias de hoje, as pessoas acham que a salvação é fácil. Se, na época de Teresinha, tinham medo do Inferno, hoje em dia pensam que o Céu é uma certeza, como se todos fossem se salvar: “Deus é amor, por isso não vai condenar ninguém”.
É impossível pregar a esperança hoje em dia, porque lamentavelmente as pessoas acham que já estão salvas. Se, na época de Teresinha, elas tinham medo de ser condenadas ao Inferno, hoje em dia já nem creem na existência do Inferno. É falta de esperança igualmente, mas com outra raiz, por outra razão: ninguém mais quer amar, ninguém percebe a necessidade de mudar de vida. Criou-se uma visão tão melosa e distorcida de Deus, que as pessoas acham que já estão todas salvas. Eis a miséria na qual vivemos hoje.
Estamos no Tempo do Advento, o tempo da esperança. Mas como pregar esperança a pessoas que não querem sair do lugar, que não esperam nada, que não esperam amar, que não esperam ser santas? De onde vem isso? Qual é a raiz do problema? Santo Tomás de Aquino diz que a raiz é a luxúria, ou seja, os pecados contra o sexto Mandamento. Sim, são os pecados sexuais que deixam as pessoas assim.
Aqui, poderíamos fazer uma longa reflexão sobre as raízes teológicas desse tipo de mudança, sobre as causas dessa ilusão, sobre os motivos que levam alguém que está no egoísmo a pensar que, do jeito que está, receberá o Céu. Poderíamos fazer uma grande reflexão teológica; mas não convém, não é esse o caminho. Vamos meditar a partir dessa luz que vem de Santo Tomás. A sexualidade, vivida como as pessoas a vivem hoje, isto é, de forma desregrada — por meio da masturbação, da pornografia e do adultério —, ela acaba tomando conta do coração, a ponto de convencê-lo de ser ela a única felicidade.
É por isso que muitos têm raiva da Igreja e se sentem revoltados ao ouvir falar de pecado sexual. Estão profundamente convencidos de que é impossível ser feliz sem sexo.
De fato, quando se lhes propõem a castidade, a pureza ou a fidelidade conjugal, sentem-se como que injuriados: “Com que direito o sr. vem nos impor esse discurso intolerante, negando-nos a possibilidade de sermos felizes?” Nem é o Céu o que está em discussão. O problema está na premissa: “A felicidade está na gratificação sexual”; logo, negar a gratificação sexual e afetiva é negar a possibilidade da única felicidade disponível.
Ora, é evidente que pregar a conversão e a mudança de vida a quem pensa assim é “enxugar gelo”, um trabalho tão impossível como cavar buraco na água. Não vai funcionar, porque é apresentar o Céu como a única felicidade possível a quem ainda crê que a felicidade é deste mundo.
Pois bem, Santo Tomás de Aquino diz que há duas formas de desesperar. Uma é a do século passado, do tempo de Santa Teresinha. Na época dela, o Céu era algo muito distante, muito difícil, muito árduo. A pessoa não dava conta de lutar e desistia. É o desespero que nasce de uma doença espiritual chamada acídia.
Não é isso que o mundo está sofrendo hoje. Existe um outro desespero, que nasce da ideia de que a felicidade, pelo contrário, não é algo árduo nem difícil, não é algo pelo qual se tenha de lutar. Na cabeça do homem moderno, a felicidade é “muito fácil”: basta ter relação sexual, usufruir dos prazeres carnais e ter acesso a sensações cerebrais agradáveis. O homem de hoje não tem medo de ser infeliz por perder o Céu. Afinal, nem sequer lhe passa pela cabeça que Céu e felicidade tenham algo a ver um com o outro. Para ele, a felicidade está aqui neste mundo. Mas o problema é justamente que a felicidade não está aqui!
Não precisa acreditar no Padre Paulo, na Igreja Católica, no Catecismo ou nos Papas; basta abrir os olhos para enxergar que, quanto mais as pessoas se afundam em práticas sexuais depravadas, em sensações cerebrais agradáveis (drogas, bebidas etc.), mais insatisfeitas elas ficam. Os consultórios psiquiátricos vão-se enchendo de síndromes, de depressões, de tendências suicidas… É claro, as pessoas estão investindo numa felicidade que não é humana. Sensações cerebrais agradáveis podem até ser a felicidade de um animal — um macaco, um cachorro —, mas não a de um homem. Podemos dar ao ser humano todo o prazer do mundo, mas não será o bastante. É uma ilusão.
Se estamos no Tempo do Advento e queremos ter verdadeira esperança, a primeira coisa que temos de fazer é desesperar de uma felicidade animal. Você não é só animal. Você tem cérebro como os animais, mas também tem alma. Exatamente por isso deve esperar a felicidade eterna.
Pare de bater a cabeça na parede esperando que se abra uma porta… Não há felicidade no sexo, em sensações agradáveis ou em consolações afetivas, porque também o afeto é cérebro. A felicidade não está ali, mas em Deus. Ele quer nos dar a felicidade, então vamos esperar a coisa certa.
É tempo de Advento, tempo de pedirmos a Deus que venha nos dar a felicidade, tempo de clamarmos por um salvador. Mas quem já se crê salvo não vai pedir um salvador… Como fazer um tratamento médico, se não se admite a doença? Como poderá pedir a vinda de Cristo salvador quem nem sequer enxerga que está perdido? A humanidade, durante séculos e séculos, esperou um salvador, porque enxergava que estava perdida, que a felicidade não estava à disposição.
Nós, que estamos nos reduzindo a animais, somos a mais desesperada de todas as gerações da história, porque nós nem sequer nos damos conta do problema.
A humanidade, em séculos passados, desesperava-se por quê? Porque agia como o filho pródigo: comia a lavagem dos porcos e, depois, queria voltar para a casa do pai. A humanidade deste século, porém, nem sequer se lembra da casa do pai. Ao contrário, ela busca se especializar nas formas mais requintadas de lavagem para porcos, acreditando que é a “única” comida à sua disposição, a “única” felicidade.
O Advento é o tempo da esperança, é o tempo de nos lembrarmos da casa do Pai. Enquanto estivermos aqui, caindo e comendo lavagem de porco, lembremo-nos da sua bondade e peçamos seu auxílio: “Vinde, Senhor!” Não fomos feitos para nos arrastar na lama do pecado, mas para amar e voar como águias.
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