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Submeter-se ao jugo suave de Cristo Rei

Celebrar Cristo Rei significa reconhecer que precisamos nos colocar sob o jugo e a lei de um soberano “manso e humilde de coração”: Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos chama para si, toma nossas dores e ensina-nos o verdadeiro caminho para a felicidade.

Texto do episódio
01

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Jo 18, 33-37)

Naquele tempo, Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: “Tu és o rei dos judeus?”. Jesus respondeu: “Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim?” Pilatos falou: “Por acaso, sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?”. Jesus respondeu: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”. Pilatos disse a Jesus: “Então tu és rei?” Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”.

Neste domingo, celebramos a Solenidade de Cristo Rei. Mas antes de refletirmos sobre isso, é importante organizarmos algumas ideias, porque, ao ouvirmos falar de Cristo Rei, podemos ter a impressão de que seja uma realidade descontextualizada. Afinal, hoje em dia, onde ainda existem reis? São poucos os países que se organizam sob a forma de uma monarquia; e mesmo nesses casos, geralmente os monarcas são figuras decorativas, sem poder real de governo. Diante disso, será que a Igreja Católica não está insistindo em algo ultrapassado, como um regime medieval antiquado e anacrônico? 

Antes de refletirmos à luz da fé, vamos fazer uma análise à luz da razão. Observemos o seguinte: todas as sociedades humanas começaram como monarquias. Mas como isso aconteceu? Pensemos juntos: como surge uma sociedade? Ela começa com a união entre um homem e uma mulher. Eles formam uma família e têm filhos. No entanto, essa unidade inicial — marido, mulher e filhos — é bastante limitada e frágil.

As pessoas começam a perceber que outras famílias, outros casais com filhos, têm habilidades específicas. Cada pessoa tem capacidades que os demais não têm. Por exemplo, imaginemos um homem forte, bom em combates, mas com pouca inteligência estratégica. Por outro lado, há alguém mais astuto, capaz de antecipar eventos importantes: prever mudanças climáticas, dizer quando não é hora de caçar por causa da chuva, ou até antecipar os movimentos de outra tribo. Esse indivíduo destaca-se por sua capacidade de organização e liderança, que o faz, naturalmente, ganhar a confiança do grupo.

À vista disso, o que se sucede? Em uma sociedade humana, é natural que surjam líderes, e as pessoas, ao perceberem as qualidades desses líderes, terminam por se submeter a eles. Ou seja, uma sociedade forma-se com base nas excelências. É daí que vem o hábito de chamar um presidente de “vossa excelência”. Mas por que “excelência”? Ora, porque esses líderes destacam-se por ter uma habilidade ou uma capacidade superior, algo que outros não têm — a excelência os diferencia.

Quando alguém demonstra visão, habilidade, liderança, coragem ou força superiores, isso atrai a confiança dos outros. É uma questão de sobrevivência: as pessoas unem-se, escolhendo submeterem-se à autoridade do mais capaz. É assim que se forma uma organização; e tal submissão voluntária é o início de um povo organizado. Mas o que é um povo organizado? Vamos à definição de Santo Tomás de Aquino, no comentário que ele faz ao Salmo 2, geralmente associado ao reinado de Cristo — simbolizado no reinado de Davi. Segundo o Doutor Angélico, o povo é definido como “a multidão dos homens em sociedade, sob o consenso da lei” [1].

Ou seja, uma multidão de pessoas, um grupo, decide formar uma sociedade sob um consenso: submeter-se a uma lei. Mas de onde vem essa lei? Hoje, nas sociedades modernas, as leis normalmente são elaboradas por parlamentos. No entanto, nas sociedades primitivas, a lei surgia de alguém com habilidade, liderança e capacidade excepcionais. Essa pessoa assumia o papel de guia, estabelecendo as regras e liderando um grupo, formando, assim, um povo.

É importante notar que todas as sociedades originárias eram monarquias. Pensemos no chefe de uma estrutura tribal, o cacique. Ele é um presidente eleito a cada quatro anos? Não. É o primeiro-ministro de um parlamento? Também não. O cacique é um rei, alguém a quem as pessoas daquela comunidade submetem-se.

A sociedade, portanto, organizava-se em torno de líderes que tinham habilidades reais, virtudes genuínas e excelência verdadeira. Qual é o problema da nossa sociedade atual? Hoje, as pessoas matriculam-se em uma universidade e, porque pagaram, saem de lá com um diploma que atesta uma suposta habilidade, a qual, muitas vezes, não corresponde à realidade. Nossa sociedade tornou-se antinatural, desconectada desse princípio fundamental de organização.

E por que isso acontece? Porque as pessoas não lideram com base em virtudes, habilidades ou excelências. Vivemos em uma sociedade que está apodrecendo moralmente, porque nossas comunidades estão sendo organizadas por aqueles que se destacam apenas na esperteza de enganar. Esse é o verdadeiro problema. Finge-se ter uma habilidade, saber algo, ser competente e preparado, mas, na prática, tudo não passa de ilusão. Uma sociedade natural organiza-se de forma mais genuína, como uma família. Este é o ponto crucial, a chave da questão: o que é, de fato, uma família?

Ora, uma família é um grupo de pessoas dispostas a ouvir os conselhos paternos de alguém que é não só seu pai, mas também seu senhor. Nesse ambiente, há alguém com virtude e excelência liderando o grupo. Em uma sociedade verdadeiramente natural, que busca a natureza das coisas, todos submetem-se ao líder virtuoso. Quando alguém enfrenta um problema aparentemente insolúvel, a resposta está nos conselhos dos sábios. E, quando um sábio oferece uma orientação, nós nos submetemos a ela.

A bem da verdade, não conseguiremos entender a Palavra de Deus se não tivermos ideias claras. O que está em jogo hoje é puro marketing, o que importa é gastar milhões em uma campanha eleitoral para criar uma imagem falsa de nós mesmos — e enganar o eleitorado. Essa sociedade é antinatural, pois a liderança não está sendo conquistada pelas virtudes, mas pela esperteza dos que se usam de artifícios para distorcer a verdade.

As sociedades naturais organizam-se com base nessas virtudes, e todos submetem-se ao líder virtuoso, porque isso é ser monarca. Agora, Deus fez-se homem, e quando o fez, Ele veio com um coração tão inteligente, sábio e bondoso, um coração tão extraordinário, que, ao conhecer o coração de Nosso Senhor Jesus Cristo, nós naturalmente desejamos submeter-nos a Ele. Nossa disposição será a de buscar em Jesus todas as respostas, já que, por nós mesmos, não sabemos o que deve ser feito. Nós aderimos integral a Ele, porque Jesus é Nosso Senhor. Isso é celebrar Cristo Rei.

Celebrar Cristo Rei significa reconhecer que precisamos nos colocar sob o jugo e a lei de alguém virtuoso e bom: Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele disse: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11, 28-30). Mas o que isso significa? São dois jugos: estamos cansados porque carregamos fardos pesados, e Jesus nos alivia colocando outro jugo, um jugo leve em nossos corações. Esse jugo é o amor, a caridade.

A lei de Jesus, o fardo que Ele nos convida a carregar, é o amor. Sucede, porém, que nós vivemos em um mundo marcado pelo egoísmo, longe do verdadeiro amor. Assim, ao invés de seguirmos os conselhos paternos de Nosso Senhor, acabamos seguindo as seduções do demônio. A quem iremos dar ouvidos? Aquele “amigo” que ensina a fazer o que é errado: trapacear, enganar os outros, tirar proveito, praticar sexo sem limites, beber desregradamente, usar drogas, mentir, roubar? Achamos que somos espertos porque seguimos pela via da desonestidade; mas, com isso, estamos aderindo ao pior tipo de submissão: tornamo-nos escravos de nós mesmos. 

Observemos com atenção: nossa sociedade reflete a típica mentalidade do adolescente. E o que caracteriza o adolescente? É aquela pessoa que não quer se submeter aos pais, porque acha que eles são antiquados, ultrapassados. Ele diz que não quer se submeter a ninguém, porque acredita ser livre e independente. Mas, na prática, o que acontece? Ao rejeitar os conselhos paternos dos pais, ele termina por se submeter ao grupo. Ele quer ser igual a todos, pertencer ao grupo, mas essa submissão coloca-o sob um fardo muito mais pesado do que o dos seus pais.

Jesus quer saber a quem estamos seguindo. Cativos em grilhões, seguimos o grupo, a moda do momento. De quem são os conselhos que nós escutamos? Podemos não ser membros de uma gangue, mas nos deixamos levar com grande facilidade pelos colegas da universidade — frequentemente, mais destrutivos. São os “moderninhos” que dizem ter ciência e conhecimento, mas que, na prática, apenas destroem a sociedade e a própria vida. Quem escolhemos seguir? A grande mídia, talvez? Em vez de seguir os paternos conselhos de Nosso Senhor Jesus Cristo — o amor encarnado, a sabedoria feita homem, o Deus de bondade e misericórdia que deu a vida por nós — acabamos nos submetendo ao fardo pesado de pessoas egoístas que nunca fizeram nada por nós.

Jesus morreu por nós; mas, quando Ele nos pede algo, muitas vezes achamos que está sendo injusto e exigente conosco. Reflitamos: alguém que entregou a própria vida por nós pediria algo que pode nos prejudicar ou nos fazer mal? Por que, então, não estamos dispostos a seguir os conselhos paternos de Jesus e submeter-nos a Ele como nosso Rei? Será que preferimos nos submeter a essa sociedade insana, a essa cultura da morte que destrói as famílias, arruína nossos jovens e causa tanto sofrimento? Jesus nos chama: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei” (Mt 11, 28). 

Como Nosso Senhor vai aliviar a nós, que estamos tão cansados? O que devemos fazer? E Ele nos responde: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). Esta é a realidade: nosso Rei é, antes de tudo, humilde e manso. Ser humilde significa reconhecer que precisamos seguir os conselhos paternos de Jesus, assim como Ele, o próprio Deus encarnado, foi humilde ao seguir a vontade do Pai. “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou” (Jo 4, 34), disse Ele. É nessa humildade que encontramos descanso.

Eis a verdadeira realeza de Jesus: Ele é Rei, e todos nós devemos nos submeter a Ele. Por quê? Porque Ele, antes de tudo, submeteu-se. Ele é Deus que se fez homem para nos mostrar o quanto precisamos ser humildes e submissos a Deus.

Contudo, mesmo que sigamos a lei de Deus com humildade e submissão, a realidade é que a vida nem sempre vai colaborar conosco. O caminho não será fácil. Iremos, por exemplo, ficar irritados com as contrariedades. Queremos seguir Jesus, mas parece que tudo conspira contra nossa vontade: surgem problemas, pessoas trazendo confusão, outros com reclamações e julgamentos, tratando-nos como se fôssemos estranhos. A sedução do demônio está à nossa volta; nossas próprias fraquezas nos desafiam, e tudo isso faz com que nos esqueçamos da mansidão. Mas Jesus nos diz: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”. Então, submetamo-nos a Deus com humildade e cultivemos a mansidão, pois contrariedades não vão faltar. “Tomai sobre vós o meu jugo, porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. Esse jugo é a lei do amor.

À vista disso, ou seremos servos, submetendo-nos à lei do amor e fazendo parte do povo de Deus, ou seremos escravos, submetendo-nos à lei do egoísmo e tomando parte de um outro povo que não é o de Deus. Como nos ensina Santo Tomás de Aquino, “o povo é a multidão dos homens em sociedade, submissos ao consenso da lei”, uma lei comum. O povo de Israel tornou-se o povo de Deus precisamente porque se submeteu à Lei do Senhor.

A Igreja é o novo povo de Deus, porque ela se submete à nova Lei, que é a lei da caridade e do amor, a qual deve reinar em nossos corações. Se nos submetermos à lei do amor, seremos um só povo, com um só Senhor, um só Rei, formando uma sociedade que se adequa à natureza das coisas, conforme Deus as pensou; e, ao mesmo tempo, uma sociedade sobrenatural. Isso acontece porque a lei do amor não é deste mundo, já que o amor é o Espírito Santo derramado em nossos corações.

Imaginemos um país onde as pessoas submetem-se à lei de Cristo antes de se submeterem à Constituição; um país onde as pessoas submetem-se à lei da caridade e do amor antes de se submeterem ao Código Civil, ao Código Penal ou ao Código de Trânsito, onde o amor reina nos corações. Esse não seria um país diferente? Não importa o regime que exista nesse país — se presidencialismo, parlamentarismo ou monarquia. O que realmente importa é que, ao submeter as pessoas ao reinado de Cristo, essa sociedade reorganiza-se de forma natural, porque prevalecerão a virtude, as excelências, os paternos conselhos.

Estaremos dispostos a seguir pessoas de verdadeira virtude, e não aquelas que vivem de aparências, nem essa loucura absurda de falsos líderes criados com base no marketing e na mentira, financiados por quem pagou mais para construir uma falácia maior. Somente sendo submissos a Cristo, teremos um país diferente. Vamos nos submeter a Cristo Rei e aprender d’Ele, pois o seu jugo é suave e o seu fardo é leve.

Notas

  1. Santo Tomás de Aquino, In Ps. 2, n. 1: “Populus est multitudo hominum juris consensu sociata”.

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