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O amor para os humildes, a dor para os soberbos

Na vida espiritual, vale também o princípio de que, se não for por amor, será pela dor: de fato, são muitos os que só se convertem depois de muito sofrer, porque nem todos se abrem de início ao convite amoroso de Deus à mudança de vida.

Texto do episódio
641

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 14, 15-24)

Naquele tempo, um homem que estava à mesa disse a Jesus: “Feliz aquele que come o pão no Reino de Deus!” Jesus respondeu: “Um homem deu um grande banquete e convidou muitas pessoas. Na hora do banquete, mandou seu empregado dizer aos convidados: ‘Vinde, pois tudo está pronto’.
Mas todos, um a um, começaram a dar desculpas. O primeiro disse: ‘Comprei um campo, e preciso ir vê-lo. Peço-te que aceites minhas desculpas’. Um outro disse: ‘Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-las. Peço-te que aceites minhas desculpas’. Um terceiro disse: ‘Acabo de me casar e, por isso, não posso ir’.
O empregado voltou e contou tudo ao patrão. Então o dono da casa ficou muito zangado e disse ao empregado: ‘Sai depressa pelas praças e ruas da cidade. Traze para cá os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos’.
O empregado disse: ‘Senhor, o que tu mandaste fazer foi feito, e ainda há lugar’. O patrão disse ao empregado: ‘Sai pelas estradas e atalhos, e obriga as pessoas a virem aqui, para que minha casa fique cheia’. Pois eu vos digo: nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete”.

No Evangelho de hoje, Jesus nos fala em parábola daqueles que, convidados para o banquete do Senhor, ou seja, para o Reino dos Céus, não aceitam o convite, por isso têm seus lugares à mesa ocupados pelos humildes, retratados como aleijados, cegos e coxos, ou seja, pelos que abrem o coração à pregação da Palavra de Deus.

Há, no entanto, um terceiro e último grupo, o dos que são “obrigados” a participar da festa. Quer dizer então que Deus nos pode obrigar a entrar no Reino dos Céus?

Antes de responder à pergunta, é preciso entender que Deus nos pode falar de duas maneiras. A Palavra nos é dirigida, de início, como proposta de amor. Ainda que a escutem, os soberbos se recusam a aceitá-la com desculpas e pretextos. Já os humildes — os aleijados, cegos e coxos da parábola — são os que têm o coração verdadeiramente aberto para acolher as palavras de Cristo. É como eles que devemos agir. 

Feito, porém, o convite de amor, o dono da casa nota haver ainda lugares vazios, e o Evangelho diz que ele ordena a um criado: “sai pelas estradas e atalhos e obriga as pessoas a virem aqui” (Lc 14, 23).

Noutras palavras, aos que não vêm ao banquete convidados pelo amor, Deus os convida também pela dor, ou seja, pelos acontecimentos trágicos da vida, grandes ou pequenos, que Ele permite a fim de que o homem caia em si e se converta. Quantas pessoas, com efeito, antes de enfrentar uma doença, uma tragédia ou até mesmo a morte, vivem esquecidas de Deus, mas são “obrigadas”, depois delas, a se voltarem para Ele.

As desgraças e contratempos da vida, em suma, são um meio eficaz de Deus chegar ao coração do homem, chamando-o a si e “obrigando-o” a ocupar o lugar que lhe está reservado nas núpcias do Cordeiro, porque nenhum dos assentos que Deus preparou para os eleitos ficará desocupado. Vinhateiro paciente e cuidadoso, o Senhor dá tempo inclusive aos que ainda são maus e perversos, porque não tem limites o seu perdão e é grande o seu desejo de colher do coração de todos frutos de vida eterna.

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