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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 10, 11-18)

Naquele tempo, disse Jesus: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. Pois ele é apenas um mercenário que não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. É por isso que o Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; essa é a ordem que recebi do meu Pai”.

Meditação. — 1. Jesus preparou os seus discípulos para serem “bons pastores” e derramarem o próprio sangue pela salvação de suas ovelhas. Foi assim que esses homens, inicialmente covardes, que negaram Jesus, puderam caminhar bravamente ao martírio; transformados pela graça e o exemplo do verdadeiro “Bom Pastor”, eles mesmos seguiram os seus passos e, como diz São Pedro, viveram para a justiça (cf. 1Pd 2, 24). “Justiça”, nesse contexto, quer dizer “santidade”. Os discípulos foram santos pastores porque caminharam nas pegadas do verdadeiro pastor, que dá a vida pelas suas ovelhas.

No Evangelho da Missa deste domingo, o tradicional Domingo do Bom Pastor, vemos esse retrato de pastor bondoso, que se sacrifica pelo rebanho, em contraposição ao mercenário, que age apenas pelo dinheiro e abandona as ovelhas ao menor sinal de perigo. Este é movido por interesses egoístas e deseja satisfazer a própria carne, ao passo que aquele age na caridade, pois “ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 13).

Jesus entregou-se por seus amigos na cruz, redimindo-os de suas misérias e conferindo-lhes uma vida nova — vida em abundância — para que, uma vez convertidos, fizessem o mesmo pelos outros.  “Também Cristo padeceu por vós”, recorda São Pedro, “deixando-vos exemplo para que sigais os seus passos”. E no que consistiu esse exemplo? São Pedro responde assim: “Ele não cometeu pecado, nem se achou falsidade em sua boca. Ele, ultrajado, não retribuía com idêntico ultraje; ele, maltratado, não proferia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (1Pd 2, 21-23). Com que constrangimento e gratidão São Pedro não deve ter escrito essas linhas? Ele mesmo, em cuja boca se encontrou falsidade um dia, exorta-nos agora ao arrependimento e a caminhar com Jesus na via da caridade.

Na verdade, o modelo de pastor proposto por Jesus é o do cordeiro imolado, como indica São João no livro do Apocalipse: “Porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os levará às fontes das águas vivas; e Deus enxugará toda lágrima de seus olhos” (7, 16). O Bom Pastor é uma vítima.

2. Todo cristão é chamado a ser pastor, segundo o seu próprio estado de vida, e deve sacrificar-se pelas suas ovelhas. Quando Jesus foi entregue aos algozes, cumpriu-se a profecia de Zacarias: “Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão dispersadas” (Mt 26, 31). A princípio, somos essas ovelhas desgarradas e errantes. E nós, que um dia saímos fugindo, olhamos agora para a cruz de Cristo e para a sua glória e podemos retornar, podemos nos converter, de modo que, pela sua graça, podemos também ser essas vítimas de expiação que atraem de volta ao redil as ovelhas perdidas da Casa de Israel. O pastor é um ponto de unidade, sem o qual se perde toda referência.

Em sentido estrito, apenas os bispos e presbíteros têm o sacerdócio ordenado e exercem a função de supervisionar as ovelhas. A palavra epíscopos quer dizer exatamente isto: vigia. Mas os demais fiéis leigos têm o chamado sacerdócio batismal e devem exercê-lo como verdadeiros pastores e cordeiros imolados. O pai e a mãe de família precisam sacrificar-se totalmente um pelo outro e por seus filhos, santificando-os dia a dia. Aquele que não quiser viver esse sacrifício acabará em uma vida extremamente egoísta e vazia, pois não dará frutos.

3. O sacerdote é a vítima por excelência, e essa realidade deveria ser a sua marca inconfundível. O celibato, por exemplo, é um desses sinais distintivos de imolação e dedicação total dos padres às ovelhas do Senhor. O padre não é um funcionário da Igreja — como no caso dos pastores protestantes —, mas uma vítima imolada. A batina “é sinal exterior de uma realidade interior: ‘efetivamente, o presbítero já não pertence a si mesmo, mas, pelo selo sacramental por ele recebido é ‘propriedade’ de Deus’” (Diretório para o Ministério e a vida dos presbíteros, II, n. 61). Daí o contratestemunho que muitos seminaristas e padres dão ao usarem o hábito eclesiástico apenas como um traje de gala. A batina deveria falar da sua imolação, não do seu poder aquisitivo.

Infelizmente, há um número grande de sacerdotes que perderam o sentido do sacrifício. E se o padre não é vítima, ele, de fato, age segundo uma estrutura de poder opressora. Esses padres que fazem do sacerdócio um status social acabam reproduzindo um estilo de vida contrário ao Evangelho, e não é espantoso que terminem desistindo da missão. Se o sacerdote não morre por ninguém, o seu ministério perde o sentido.

O padre deve, acima de tudo, ser um pai. Trata-se de uma questão de maturidade humana e espiritual. Que grande serviço não fazem, pois, as chamadas “mães espirituais” que rezam pelos sacerdotes, a fim de que Deus e Nossa Senhora os sustente em sua missão! Os sacerdotes mantêm-se de pé quando são sustentados pelas preces do seu rebanho, de modo que eles se unem como uma verdadeira família espiritual.

Peçamos, portanto, à Virgem Santíssima que nos ensine a ser bons pastores, pastores que dão a vida pelas suas ovelhas.

Oração. Ó Jesus, meu bom pastor e guia, dirigi meus caminhos para que, fortalecido por vossa graça, eu também seja capaz de dar a vida pelas minhas ovelhas, como um cordeiro imolado.

Propósito. — Rezar todos os dias um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e um Glória pelos sacerdotes de minha paróquia e por todos aqueles que se encontram em crise no próprio ministério.

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