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O Brasil precisa de nós!

Como iremos cumprir nossa vocação, se o nosso país não cumprir a sua? Por isso precisamos rezar pelo Brasil, porque queremos o bem comum universal, muito maior do que o bem comum político a ele subordinado, que é a glória de Deus!

Texto do episódio
11

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 6,12-19)

Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus. Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: Simão, a quem impôs o nome de Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelota; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que se tornou traidor.

Jesus desceu da montanha com eles e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e grande multidão de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. Vieram para ouvir Jesus e ser curados de suas doenças. E aqueles que estavam atormentados por espíritos maus também foram curados. A multidão toda procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele, e curava a todos.

I. Reflexão

No Evangelho de hoje, Jesus sobe à montanha e, depois de passar a noite em oração, escolhe os doze Apóstolos. Nós aqui no Brasil recordamos também a independência de nosso país. Todo o mundo falando do 7 de setembro etc., mas não tenho ouvido muita gente recordar que se completam hoje os 199 anos da independência, ou seja, iniciamos o 200.º ano de nossa independência. Mas o que significa isso espiritualmente? Primeiro, temos de entender o que é uma nação. O Brasil, como qualquer país, é uma organização de pessoas que buscam juntas o bem comum. É para isso que se institui um governo e se vai criando uma identidade nacional, e é isso que nos dá as condições civis, políticas, materiais, humanas etc. para realizar nossa grande vocação: a santidade e a salvação eterna. De fato, a esfera civil e política da vida interfere, e muito, em nossas práticas religiosas. Afinal, quem vive num país, por exemplo, em que a Igreja é perseguida não pode praticar com liberdade a religião verdadeira, o que certamente implica muitas dificuldades para o homem encontrar o caminho da salvação. Pensemos nos chineses. Na China, o católico é perseguido pelo simples fato de ser católico. Nos países islâmicos não se pode pregar o Evangelho nem converter ninguém, sob pena de prisão ou morte. Nestes lugares, não há condições sociopolíticas para que o Evangelho seja ensinado. Ele é pregado? Sim, é claro, mas com dificuldade. Não há conversões em massa. O que se vê no mais das vezes é uma conversão aqui, outra ali… Ora, exatamente por causa disso se dão muitas “desconversões”, ou seja, os fiéis acabam apostatando por não querer pagar o preço de seguir a Cristo, seja onde e como for.

Sim, a organização sociopolítica não deixa de influenciar a vida da Igreja. Historicamente falando, quais são hoje os países de maioria católica? Ora, os países cuja população é majoritariamente católica são aqueles que algum dia tiveram um governo católio e favorável à Igreja, ou seja, estados que proporcionaram outrora a liberdade necessária para que a Igreja difundisse o Evangelho e as pessoas se convertessem à religião verdadeira. Daí se vê a importância de rezar pela pátria. Trata-se de um dever de piedade não só para com os que governam, mas também para com os hierarcas da Igreja, para que tenham condições de cumprir mais facilmente sua missão, e para com nós mesmos, já que a nossa própria salvação pode ver-se impedida ou ao menos dificultada por governos ou leis anticatólicos. É importante para a salvação de nosso país e de nossas almas que rezemos para que no Brasil seja sempre possível gozar da autêntica liberdade religiosa [1], que está em pregar e viver a única religião verdadeira, a do santo Evangelho, guardado e ensinado pela Igreja Católica. Sem isso, como irão os brasileiros alcançar sua vocação divina, que é ser católico nesta vida para glorificar a Deus, Trindade santa, na outra?

Pois bem, se cada brasileiro tem o seu anjo da guarda, encarregado de o levar para o céu, e se a salvação não deixa de depender em alguma medida da organização sociopolítica, que a pode dificultar ou facilitar, então é evidente — e a Igreja sempre creu nisso — que há um anjo da guarda do Brasil. Afinal de contas, é conveniente que haja um anjo incumbido de coordenar todo o processo que possibilita aos vários anjos realizar sua missão: levar seus custodiados para o céu. Isso é óbvio, e a Igreja sempre acreditou que, onde há uma coletividade, um grupo, uma instituição etc. importante para a salvação das almas, ali há um anjo protetor que, por assim dizer, comunica a verdade e as graças divinas aos anjos dos indivíduos. Eis a perspectiva sobrenatural com que devemos celebrar esta data. Há 199 anos o Brasil tornou-se independente, e cada brasileiro é chamado a ser um grande santo. Mas como iremos cumprir tal vocação, se o nosso país não cumprir também a sua? Por isso precisamos rezar, sim, rezar pelo Brasil porque queremos o bem comum universal, muito maior do que o bem comum político a ele subordinado, que é a glória de Deus, nosso Senhor e Salvador, por quem fomos chamados a participar da bem-aventurança eterna.

No dia de hoje, elevemos a Deus uma grande ação de graças pelos bens que Ele já concedeu ao Brasil e continuará concedendo, e supliquemos a Cristo para que, por sua graça, sejamos cada vez mais dóceis aos seus projetos. Recorramos ainda ao anjo da guarda do Brasil e a Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a quem o Brasil é consagrado, para que eles nos levem com segurança para o céu, nossa vocação divina. Rezemos, rezemos muito! Deus tem um desígnio para o Brasil, um país que, infelizmente, nem sempre foi fiel à sua vocação. Batamos no peito e peçamos perdão ao Senhor, porquanto não fomos fiéis tantas vezes! Mas não deixemos de dar graças pelos bens recebidos nem de interceder pelo país. O Brasil precisa de nós, e nós precisamos do Brasil. 

II. Comentário exegético

Eleição dos Apóstolos (cf. Mc 3,13ss). — V. 12s. Naqueles dias, Jesus retirou-se para o monte (εἰς τὸ ὄρος, provavelmente o monte das bem-aventuranças) a orar e passou toda a noite na oração de Deus (gr. ἐν τῇ προσευχῇ τοῦ θεοῦ, lt. in oratione Dei), i.e. em oração a Deus, em razão da importância do que faria em seguida (cf. Mc 1,35). — Quando se fez dia, chamou, i.e. reuniu os seus discípulos, i.e. aqueles que o seguiam como Mestre; e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos (de ἀποστέλλειν = enviar, lt. mittere), a fim de exprimir o ofício deles, eleitos e enviados como legados de Deus e de Cristo, para dar testemunho da doutrina e (mais tarde) da ressurreição de Nosso Senhor (cf. At 1,21s). Mc. (3,13) diz que Jesus chamou a si os que ele (enfaticamente: gr. αὐτός, lt. ipse) quis, e assinala o duplo fim imediato desta eleição: 1) para que andassem quase continuamente com ele e, assim, se imbuíssem mais profundamente de sua doutrina, 2) e para os enviar a pregar como ajudantes de seu ministério [2].

Nome dos Apóstolos (cf. Mt 10,2ss; Mc 3,26-19). — O primeiro a ser listado, não pelo tempo em que foi eleito mas por sua dignidade, é sempre Simão (Shim‘on = obediente), chamado Pedro. Do fato de ele ser citado sempre em primeiro lugar nos quatro catálogos de Apóstolos cumpre concluir que, desde o princípio, Simão foi primeiro entre os doze, o que, de resto, é abundantemente comprovado por suas múltiplas intervenções na história evangélica (cf. Jo 1,40ss; Lc 5,1ss; Mc 5,37; Mt 17,1.4; 17,23; Lc 22,8; Mt 26,37.40; 14,28ss; Jo 21,7; Mt 26,33ss; Jo 6,69; 13,37.22-26; Mt 16,22ss; 18,21s; Jo 13,2ss; Mt 26,34.69ss; Jo 18,15ss; Mt 16,13-20; Jo 21,15ss; Lc 22,31s; 24,34).

2. André (nome gr.), irmão de Pedro, ambos oriundos de Betsaida (cf. Jo 1,44). Cf. Mt 4,18s; Jo 1,41-45; 6,8; 12,22.

3 e 4. João e Tiago (Maior), filhos de Zebedeu e Salomé, pescadores de Betsaida (cf. Mc 1,20). A ambos Cristo deu o nome Boanerges (hebr. benê regesh = filhos do trovão, cf. Mc 3,17, i.e. tonantes, impetuosos), quer pela índole forte deles (cf. Mc 9,37; 10,35; Lc 9,54), quer pela forma ardente com que pregavam. Aparecem frequentemente nos evangelhos (cf. Mt 4,21; Mc 5,37; Mt 17,1; Mc 35,41; Mt 20,20-24; Mc 14,33; Jo 21,2); João, de modo particular, na história da Paixão (cf. Lc 22,8; Jo 13,23ss; 19,26ss; 20,2ss; 21,20ss).

5. Filipe (nome gr.), também oriundo de Betsaida (cf. Jo 1,44). Sobre ele, cf. Jo 1,44-49; 6,5ss; 21,21s; 14,8s. 

6. Bartolomeu (= filho de Tolma ou de Tolomeu) é provavelmente a mesma pessoa que Natanael (do qual fala Jo 1,45-50; 21,2). A identidade entre eles é ignorada pela tradição mais antiga, mas passou a ser admitida por muitos latinos a partir de Ruperto de Deutz († 1129) e por vários exegetas do séc. XVI; de fato, o evangelista Jo., que não fala de nenhum Bartolomeu, enumera duas vezes a Natanael entre os Apóstolos (cf. loc. cit.). Os sinóticos, embora não façam qualquer menção a Natanael, falam todavia de Bartolomeu. Também é digno de nota que, nos sinóticos, Filipe e Bartolomeu e, no evangelho de Jo., Filipe e Natanael aparecem lado a lado ou na mesma narração. É, portanto, ao menos verossímil que este Apóstolo, assim como Pedro, Mateus etc., tivesse um duplo nome, de modo que era conhecido como Natanael (nome próprio) e como Bartolomeu (cognome, ou nome do pai).

7. Tomé (= δίδυμος, i.e. gêmeo, cf. Jo 11,16, da raiz hebr. te’ôm = duplicar). É mencionado em Jo 11,16; 14,5; 20,24-28; 21,2.

8. Mateus, publicano, que também se chamava Levi. Matthæus (gr. Μαθθαῖος ou Ματθαῖος) é, provavelmente, transcrição da forma hebr. Mattai, que significa presente ou dádiva de Deus (= donatus a Deo), à semelhança de Theodorus, Adeodatus (v. “Matanias” em 1Cr 9, 15). Alguns autores, de posição minoritária, derivam o nome do termo hebraico emeth (= fé), sob a forma Amittai (= Fiel, cf. Jn 1,1, vulg. Amathi), tendo o Aleph se perdido por influência do aram.

9. Tiago, filho de Alfeu (Halphai, conhecido por outro nome, ou talvez por pronúncia diversa deste mesmo nome: Cleophas [3]). É bastante provável que sejam a mesma pessoa este Apóstolo e o Tiago τὸν μικρόν (o Menor), i.e. o autor da Epístola Católica, contado por São Paulo (cf. Gl 2,9) entre as colunas da Igreja e conhecido na Igreja primitiva como “irmão do Senhor”.

10. Tadeu (talvez de taddajja’ = mama; para alguns, o mesmo que Θευδᾶς) em muitos códices e monumentos antigos é chamado Labbeu (do vocábulo lebb = coração, ou de Lebba, vilarejo da Galileia); é chamado por outro nome em Lc 6,6 e At 1,18: Judas de Tiago, ou seja, irmão de Tiago, como ele mesmo afirma no início de sua Epístola: Judas, servo de Jesus Cristo, irmão de Tiago etc.

11. Simão Cananeu, em Lc. Zelotes, i.e. seguidor fiel das tradições antigas, ζηλωτές (cf. Gl 1,14), que se traduz pelo vocábulo aram. Qan’ana’; outros derivam Cananeu de Caná da Galileia (o que daria, porém, καανῖος). A partir de Mt 13,55 concluem alguns autores que Simão Cananeu seria irmão de Tiago e de Judas.

12. Judas Iscariotes (hebr. ’ish Qerijjoth = varão de Querioth, certa cidade da tribo de Judá, cf. Js 15,25). O traidor (προδότης) foi o único judeu (i.e. da região da Judeia) entre os Apóstolos; todos os outros eram galileus, pois a eles se dirgem os anjos: Homens da Galileia (At 1,11), e alguns homems que estavam em Jerusalém: Porventura não são Galileus etc. (At 2,7). Foi na Galileia que Jesus encontrou mais fé, e o traidor provinha da região que mais se opôs a Ele. A eleição de Judas ao apostolado demonstra que os homens se salvam ou condenam, não por necessidade de natureza (φύσει), mas segundo a medida em que cada um se mostra digno da salvação ou da perdição.

N.B. — Convém observar que: a) cada evangelista cataloga os Apóstolos segundo critérios próprios (e. g., citando-os de dois em dois, como Mt.; ou individualmente, como Mc; ou, como Lc., listando primeiro os irmãos e depois enumerando os outros um por um mediante a partícula καί). A distribuição de Mt., por aparecer antes da primeira missão, corresponde provavelmente à ordem em que eles foram enviados; — b) em todas as listas (inclusive na de At 1,13), os 12 são distribuídos em três séries de quatro nomes, a cada uma das quais preside sempre, nos quatro catálogos, o mesmo Apóstolo (1. Pedro, 2. Filipe, 3. Tiago), enquanto os demais, dentro de qualquer série, aparecem em ordens variadas. É evidente que esta distribuição não é causal.

Comentário espiritual. — 1. Era Judas bom ou mau ao ser eleito? — Responde Francisco de Toledo: Não se deve dizer que Judas, quando foi eleito, era mau, como sustentam alguns pensando ser essa a opinião de Agostinho (cf. tract. 27 in Ioan.), porque este, na verdade, não diz nada disso, mas que Judas foi eleito, embora Cristo soubesse que ele se tornaria mau. Por outra parte, que Judas ainda fosse bom, ensinam-no Cirilo (IV 3 = in Ioan. 6,71s: M 73,632) e Jerônimo (contra Pelag. III 3, n. 6: M 23,575). Outros se perguntam por que Jesus teria escolhido para o apostolado aquele que sabia ser seu futuro traidor. Ora, poder-se-ia perguntar igualmente, responde Toledo, por que Deus criou os anjos que sabia haviam de converter-se em demônios; por que criou Adão, se previra seu pecado; por que faz os homens que prevê se hão de condenar etc. Basta-nos saber que Deus não criou nenhum homem ou anjo para que peque ou faça o mal. Deve-se atribuir exclusivamente ao vício deles e à culpa do livre arbítrio que caiam em pecado; Deus, porém, usa o mal deles para o bem. Da traição de Judas, com efeito, da qual o próprio Judas foi causa livre e voluntária, Deus se serviu como de certo “instrumento” para a morte do Filho, como também se serviu do ódio e da iniquidade dos judeus, para que Cristo, morto por eles, vencesse a nossa morte com a sua (cf. in Ioan. vi n. 36; xii n. 20) [4].

2. Por que Jesus lhe permitiu traí-lo? — Dão-se várias razões. Diz e.g. Santo Ambrósio: “Elegeu-se também a Judas, não por imprudência mas por providência. Quão grande é a Verdade, que nem um ministro adversário a pode enfraquecer; quão grande é a bondade do Senhor, que preferiu arriscar conosco mais o seu juízo que o seu afeto! Assumira ele a fragilidade do homem, e por isso não recusou tampouco este lado da fraqueza humana: quis, pois, ser abandonado, quis ser traído, quis ser entregue por um de seus Apóstolos, para que, abandonado por um amigo, traído por um amigo, suportes pacientemente que erraste em teu julgamento, e assim perdeste teu benefício”. Nestas palavras Toledo identifica quatro causas finais: a) para mostrar a firmeza da doutrina de Cristo, em si mesma tão sólida, que, ainda que caia um dos Doze, nem por isso se torna menos digna de fé; b) para mostrar a grandeza de sua caridade para conosco, tão intensa, que não se negou nem a escolher para Apóstolo a quem sabia havia de perder-se nem a fazer o possível para o salvar, preferindo o amor à consideração dos homens, i.e. quis antes ser tido por tolo ou imprudente, como se não soubesse da sorte final de Judas, que não amá-lo e fazer quanto podia para o salvar [4]; c) para que, tendo assumido nossa fraqueza, passasse também pelo que é maximamente próprio dela: ser abandonado, traído e entregue pelo melhor amigo; d) para nos dar exemplo de paciência, i.e. para que suportemos pacientemente estas três coisas, se porventura um amigo ou alguém de confiança nos trair: α) que erramos ao escolher tal amizade, β) que perdemos os benefícios que lhe tivermos feito, γ) e que fomos traídos [5].

Referências

  1. A única verdadeira liberdade religiosa de que se pode falar é a de buscar e professar a única religião verdadeira, que não pode ser senão a católica. É portanto ímpia e absurda a noção de “liberdade religiosa” entendida como tolerância dogmática, que pretende reconhecer ao homem um suposto direito de pensar e falar livremente em matéria religiosa, ou de prestar a Deus o culto que se lhe afigurar melhor, conforme a variedade de lugares, culturas, povos etc. ou de desejos e preferência individuais. Ora, como o homem é social por natureza, motivo por que só rara e dificilmente pode alcançar bens superiores, como são os da religião, fora da sociedade, também à comunidade política enquanto tal incumbe o dever de professar a religião verdadeira. Com efeito, a comunidade não depende menos de Deus que o homem particular, porquanto não é outra coisa que uma associação de vários particulares; e não tendo o homem, elevado à ordem sobrenatural, outro fim último que Deus mesmo, a ser fruído intuitivamente, é evidente que os fins da comunidade política têm sempre razão de meio com respeito a tal a fim. É por isso que o estado, além do dever de ser católico, tem também o dever de proteger, defender e promover a Igreja, única instituição que direta e imediatamente ordena o homem a seu fim último.
  2. Mc 13,14, em gr., diz literalmente: E fez doze (Καὶ ἐποίησεν δώδεκα) para que estivessem com Ele etc., onde o verbo fez (ἐποίησε) equivale a constituiu, como se dá às vezes em hebr. (עָשָֹה).
  3. É possível que Alfeu e Cléofas (ou Clopas, Κλωπᾶς) equivalham ao mesmo nome: Chalpai (חֲלפי), pronunciado com maior ou menor suavidade.
  4. Cf. J. Knabenbauer, Commentarius in Evangelium secundum Matthæum, Paris, P. Lethielleux (ed.), 1922,3 p. 435. — A rigor, é impróprio dizer que Deus se valha de um mal moral ao modo de “meio” ou “instrumento” para obter certo bem. O mais adequado é dizer que Deus se aproveita do fato de um mal moral (previsto e não impedido) ter-se produzido como de uma ocasião favorável, mas não necessária nem como condição sine qua non, para obter certo bem. Em outras palavras, nenhum mal de culpa é em si mesmo meio ou condição sem a qual Deus não possa obter um determinado bem, ainda que Ele, por ocasião de tal mal, possa obter tal bem. Assim e.g. entre o mal da traição de Judas e o bem da redenção de Cristo há conexão causal de facto, mas não de iure, ou simpliciter necessária.
  5. Durante a Última Ceia, o Senhor prenuncia a traição de Judas justamente para que os discípulos não pensem que ele será traído sem seu conhecimento ou consentimento: Desde agora (lt. amodo, gr. ἀπ’ ἄρτι = desde este tempo) vo-lo digo, antes que suceda, para que, quando suceder, creiais que sou eu quem disse ser, i.e. o Filho de Deus (Jo 13,19s).
  6. Outros autores encontram ainda outras razões: e) para mostrar que não é a dignidade de estado que santifica o homem, mas a correspondência à graça; f) para mostrar que em toda multidão há sempre algum mau, inclusive na Igreja; g) para que ninguém, por melhor que seja entre os santos, se fie muito de si mesmo, porque todos, enquanto vivem, ainda podem cair; h) para mostrar que Deus dá graças e confere às vezes dignidades eminentes, mesmo sabendo que o homem irá abusar de seu livre-arbítrio e se perderá por causa destes mesmos dons: de sua parte, com efeito, Deus concede as graças necessárias, mas não impõe ao homem nenhuma necessidade, senão que o atrai e urge, sem porém coagi-lo.

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