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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 12, 18-27)

Naquele tempo, vieram ter com Jesus alguns saduceus, os quais afirmam que não existe ressurreição e lhe propuseram este caso: “Mestre, Moisés deu-nos esta prescrição: Se morrer o irmão de alguém, e deixar a esposa sem filhos, o irmão desse homem deve casar-se com a viúva, a fim de garantir a descendência de seu irmão”.

Ora, havia sete irmãos: o mais velho casou-se, e morreu sem deixar descendência. O segundo casou-se com a viúva, e morreu sem deixar descendência. E a mesma coisa aconteceu com o terceiro. E nenhum dos sete deixou descendência. Por último, morreu também a mulher. Na ressurreição, quando eles ressuscitarem, de quem será ela mulher? Porque os sete se casaram com ela!”

Jesus respondeu: “Acaso, vós não estais enganados, por não conhecerdes as Escrituras, nem o poder de Deus? Com efeito, quando os mortos ressuscitarem, os homens e as mulheres não se casarão, pois serão como os anjos do céu. Quanto ao fato da ressurreição dos mortos, não lestes, no livro de Moisés, na passagem da sarça ardente, como Deus lhe falou: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’? Ora, ele não é Deus de mortos, mas de vivos! Vós estais muito enganados”.

No Evangelho de hoje, Jesus fala da ressurreição dos mortos, doutrina sobre a qual é interessante refletir na véspera de Corpus Christi, festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por quê? Porque, na solenidade de Corpus Christi, adoramos um corpo, Deus feito homem. Sim, Deus criou para si um corpo e uma alma, unindo-os à pessoa divina do Verbo, segunda pessoa da SS. Trindade. É uma coisa ao mesmo tempo surpreendente e escandalosa. Afinal, há uma calúnia contra a Igreja Católica segundo a qual o catolicismo desprezaria o corpo, como se a Igreja fosse seguidora de Platão. Quem foi Platão? Um filósofo da Antiguidade para o qual os seres humanos seriam almas aprisionadas num corpo, o qual, no fundo, traria mais problemas do que vantagens. Para Platão, o bom e valioso era a alma. A filosofia platônica, de fato, fez sucesso durante muitos séculos, inclusive entre os cristãos. No entanto, ela nunca foi, em si mesma, nem uma filosofia cristã nem a forma de a Igreja Católica pensar. Na verdade, os católicos acreditamos que o homem é corpo e alma, de sorte que o corpo não é mau em si mesmo. De fato, não é o corpo que peca, mas a alma. Corpos, enquanto tais, não pecam. Se pecassem, também as vacas seriam capazes de pecado e precisariam confessar-se. Ora, não existe confessionário para vaca… Mas, sim, para homens, que são corpo e alma. O que decide pecar é a alma, assim como amar, crer em Deus, fazer as coisas etc. A alma é o centro das decisões e, portanto, a parte mais nobre do ser humano. É ela que nos dá méritos ou deméritos, é ela que nos faz grandes santos ou grandes pecadores. Sucede porém que a alma humana vive em contato com a matéria, que é o corpo, um instrumento para fazermos o bem ou o mal. Eis uma das grandes verdades do cristianismo, que ensina o mesmo que as melhores filosofias, a saber: o homem tem corpo, mas não é como os outros animais; tem alma, mas não é um espírito puro. Não somos anjos “amarrados” a macacos… Somos uma unidade, que deveria ser harmoniosa, entre corpo e alma. Assim é o homem, e a maravilha das maravilhas é que Deus resolveu fazer-se homem, ou seja, encarnar-se. Querendo redimir a humanidade e abrir para nós as portas do céu, Deus não se fez anjo nem animal. Fez-se ser humano. O Filho de Deus, o Verbo eterno, criou para si um corpo e uma alma, os quais estão tão intimamente unidos à segunda pessoa, que todas as ações daquele homem que nasceu em Belém, foi criado em Nazaré, pregou na Galiléia, foi crucificado em Jerusalém, são ações radicalmente divinas. Deus veio a nós na nossa humanidade, e a nossa humanidade foi elevada e unida a Deus! Jesus Cristo é Deus e homem, duas naturezas em perfeita harmonia. Ora, a parte mais frágil do homem, que é o corpo, foi não só assumida pelo Filho de Deus, senão que, por vontade divina, permanece neste mundo como âncora da presença de Cristo no nosso meio. Eis a maravilha! Quando o padre, na santa Missa, pega a hóstia e diz: “Isto é o meu corpo”, ali já não há mais pão, só aparência. Parece pão, e se levarmos uma hóstia consagrada a um laboratório, todo o mundo vai dizer que é pão. Mas a ciência natural só é capaz de investigar os acidentes, sem nunca chegar à substância das coisas. Somente o espírito vê com a inteligência a substância delas. O que está sob as aparências de pão é substancialmente o corpo de Cristo, um corpo localizado. É uma presença física e real, localizada na espécie de pão. Enquanto os acidentes estiverem lá, lá estará o corpo de Cristo e, estando o corpo, estão também o seu sangue, a sua alma e a sua divindade. Deus está fisicamente presente no nosso meio! É a maravilha que iremos celebrar amanhã na solenidade de Corpus Christi. No Evangelho de hoje, Jesus afirma aos saduceus que nós, no fim dos tempos, iremos ressuscitar. Não estaremos no céu apenas com nossas almas, senão que, quando houver a ressurreição dos mortos, assim como o corpo dos santos ajudou a alma a fazer o bem, também ele receberá a recompensa do bem que fez, e assim como o corpo dos condenados ajudou a alma a fazer o mal, também ele receberá a punição do mal que fez. Corpo e alma são, pois, partes essenciais da natureza humana, integralmente assumida por Cristo. Refletir sobre isso é uma ótima preparação para a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Nós, sem medo nenhum, podemos ajoelhar-nos diante de um corpo, um corpo vivo, escondido sob a aparência de pão, e dizer: “Meu Senhor e meu Deus”. É o mistério da presença divina no nosso meio através do preciosíssimo Corpo e Sangue de Jesus Cristo.

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