Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 21,29-33)
Naquele tempo, Jesus contou-lhes uma parábola: “Olhai a figueira e todas as árvores. Quando vedes que elas estão dando brotos, logo sabeis que o verão está perto. Vós também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Reino de Deus está perto. Em verdade, eu vos digo: tudo isso vai acontecer antes que passe esta geração. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar”.
Céus e terra passarão, mas as palavras do Senhor hão de permanecer para sempre. É Cristo, em primeiro lugar, a Palavra de Deus, pronunciada desde toda a eternidade, sem nenhuma corrupção d’Aquele que pronuncia nem d’Aquele que é pronunciado; é n’Ele e por Ele que o Pai criou todas as coisas, que não são mais do que distintas manifestações externas do amor e da sabedoria infinitas de Deus.
E embora tudo tenha sido feito pela mesma Palavra eterna de amor, o coração humano, seduzido pelo demônio, pode fechar-se à verdade que brilha em cada criatura e que proclama a grandeza daquele por quem tudo foi feito.
Mas, apesar do egoísmo que obscurece a nossa vista, também nós somos, radicalmente, expressão da bondade e da verdade divinas; também em nós foi impresso o selo da beleza e da bondade daquele que está acima de toda criatura. Deus pensou em nós desde sempre e quis trazer-nos a este mundo para que fôssemos um dom para os outros, luz para os que caminham nas trevas, proclamadores da verdade para os que andam perdidos no erro.
Ele deu-nos o ser para que, ancorados na sua Palavra, testemunhássemos em meio a este mundo, que passa e se desfaz, a perenidade do amor que Ele tem por nós e que deseja que tenhamos uns pelos outros. Ponhamo-nos hoje aos pés de Jesus Sacramentado e, invocando o auxílio de Maria Santíssima, peçamos ao Senhor a graça de reconhecermos que somos, mais do que tudo, luz e verdade, nascidos para amar e servir os demais.
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COMENTÁRIO
Quando isso sucederá? (cf Mt 24,32-41; Mc 13,28-32; Lc 21,29-33). — 1) Tempo da ruína de Jerusalém (v. 32ss). — V. 32s. Abre-se como que uma nova seção no texto. Da árvore de figo apreendei a parábola, i.e., ouvi a semelhança que vos proponho tirada da figueira: Quando os seus ramos estão tenros e as folhas brotam, sabeis que está perto o estio (θέρος, a parte do ano que dá início ao período de chuvas). Na Palestina, o figo, e não a amêndoa, que brota demasiado cedo (por volta de jan.), anuncia a chegada de um tempo mais ameno.
N.B. — O v. 29s de Lc traz a mesma semelhança, mas reelaborada de modo a torná-la compreensível fora da Palestina: Vede a figueira e todas as árvores. Quando produzem de si fruto (ὅταν προβάλωσιν, quando desabrocham [ramos ou frutos]), sabeis etc. Em outras palavras, a germinação de primavera é sinal da proximidade do verão.
— Em seguida, aplica-se o ensinamento: Assim também, quando virdes tudo isto, i.e., todos estes sinais do meu advento, sabei que o Filho de homem (em Lc: o reino de Deus) está às portas.
O v. 34, em particular, determina solenemente o tempo: Na verdade vos digo que não passará esta geração, sem que se cumpram todas estas coisas. Mc (v. 30) e Lc (v. 32) concordam literalmente, apesar de Lc omitir o pron. estas. É difícil porém explicar o sentido deste v. devido à amguidade do termo geração (γενεά) e da locução todas estas coisas (ταῦτα πάντα). Γενεά (de γένεσθαι), entre outras coisas, pode significar: (a) estirpe, tribo ou raça (cf Sl 111,2); — (b) os contemporâneos de uma determinada geração (= época); — (c) o próprio gênero humano, tomado conjuntamente por semelhança, não de natureza, mas de boa ou má índole, geralmente em sentido negativo (cf Mt 12,39; 16,4; Mc 8,38; Lc 9,41 etc.) [1].
Assim, conforme as acepções (a) ou (c), muitos interpretam o termo como “gênero humano”, outros porém como “povo judeu”; todas estas coisas seriam tudo o que até agora Cristo anunciou (cf Mt 24,5ss), mas principalmente o que se refere ao fim do mundo. O sentido da cláusula, portanto, seria esse: O gênero humano (ou: o povo judeu) não será extinto antes do advento do Messias. — Nesta hipótese, porém, Cristo não teria dito nada novo ou importante; com efeito, as passagens precedentes (v. 30) afirmam de modo claro e suficiente que os homens (os judeus inclusive) estarão vivos no tempo da parusia.
Outros preferem a acepção (b), i.e., interpretam-no como “os homens vivos na época de Cristo”; todas esta coisas seriam as descrições feitas anteriormente (cf Mt 24,14ss) da destruição de Jerusalém. Essa interpretação, levando-se em conta quer o contexto (sobretudo em Lc: está próximo o reino de Deus), quer o uso da expressão nos evangelhos, parece a mais correta. Cristo afirma, pois, solenemente que os homens seus contemporâneos verão a destruição da Cidade, com o que responde à primeira pergunta dos discípulos (cf Mt v. 3, Lc v. 7).
Uma minoria concorda com os últimos quanto ao sentido de geração, mas com os primeiros quanto ao sentido de todas estas coisas. Sustentam que o Senhor, interrogado pelos discípulos, lhes teria respondido de maneira propositalmente confusa, apresentando simultaneamente ambos os acontecimentos sob a mesma figura, a fim de ensinar aos primeiros fiéis cristão que a ruína de Jerusalém prefigura a catástrofe final do mundo. Logo, o sentido seria: “Antes de extinguir-se esta geração que ainda vive, acontecerão todas as coisas até agora anunciadas, algumas em realidade (i.e., as referentes a Jerusalém), outras (i.e., as restantes) como por imagem e figura” (cf Mt 23,26); além do que, os sinais de ambos os acontecimentos serão os mesmos em geral, tomados universalmente.
V. 35 (Mc v. 31, Lc v. 33). — Com solene επιφώνημα confirma Jesus a declaração precedente: O céu e a terra, dos quais não se pode conceber nada mais firme e estável, passarão, serão destruídos, imutados (cf 1Cor 7,31; 2Pd 3,7), mas as minhas palavras não passarão.
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