Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 12, 54-59)
Naquele tempo, Jesus dizia às multidões: "Quando vedes uma nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece. Quando sentis soprar o vento do sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. Hipócritas! Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente? Por que não julgais por vós mesmos o que é justo?
Quando, pois, tu vais com o teu adversário apresentar-te diante do magistrado, procura resolver o caso com ele enquanto estais a caminho. Senão ele te levará ao juiz, o juiz te entregará ao guarda, e o guarda te jogará na cadeia. Eu te digo: daí tu não sairás, enquanto não pagares o último centavo".
No Evangelho desta 6.ª-feira, Jesus nos exorta, pela pena do Evangelista São Lucas, a examinarmos os "sinais do tempo presente", ou, para usar a expressão mais usual, os "sinais dos tempos" (σημεῖα τῶν καιρῶν) de que fala São Mateus (cf. Mt 16, 3). Nosso Senhor se refere nesta passagem ao tempo da salvação. Para compreendermos o sentido profundo deste Evangelho e destas palavras algo misteriosas, é importante notarmos que Cristo não se dirige aqui aos discípulos, isto é, à Igreja, aos que já creem e compreendem, ainda que confusamente, quem é Jesus e qual a sua missão. Cristo fala às multidões. E chama hipócritas a estes não crentes que, embora tenham inteligência para reconhecê-lO, fazem-se no entanto de cegos à sublimidade de seus discursos, à evidência de seus milagres, à extraordinária beleza e harmonia com que nEle se realizam as profecias. Podem predizer a chuva que se avizinha ou o calor que se aproxima, mas não podem abraçar a fé de que Cristo dá abundantes sinais e garantias; rejeitam-na não porque lhes falte inteligência, mas porque não querem mudar de vida e conformar-se às exigências da Boa-nova.
Por isso, Jesus nos convida a aproveitar o tempo presente, o tempo de agora, para enfim nos convertermos. O tempo de crer em Cristo é o hoje, que Deus, misericordioso e paciente, nos oferece com generosidade. Avaliemos, pois, o tempo de nossa vida; vejamos em que momentos Deus nos manifestou claramente a sua visita, a sua vinda ao nosso encontro, à nossa casa. Não passamos nós por sofrimentos que bem nos convidavam a abandonar o nosso orgulho e repudiar os nossos pecados, a nos unirmos e associarmos, com um amor entranhado, à Paixão de Jesus Cristo? E quantas foram as vezes em que deixamos tais oportunidades escorrerem por entre os dedos? Jesus cruza todos os dias o nosso caminho. Aproveitemos, sim, todas essas ocasiões, todos esses tempos de graça que Ele nos concede, a fim de nos tornarmos verdadeiramente cristãos. Amemos enquanto ainda estamos "a caminho", porque, se perdermos o tempo de Deus, o adversário nos entregará ao Juiz, cuja cólera justa e santa recairá sobre nossa preguiça e negligência.
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