Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 9,18-26)
Enquanto Jesus estava falando, um chefe aproximou-se, inclinou-se profundamente diante dele, e disse: “Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe tua mão sobre ela e ela viverá”. Jesus levantou-se e o seguiu, junto com os seus discípulos. Nisto, uma mulher que sofria de hemorragia há doze anos veio por trás dele e tocou a barra do seu manto. Ela pensava consigo: “Se eu conseguir ao menos tocar no manto dele, ficarei curada”. Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse: “Coragem, filha! A tua fé te salvou”. E a mulher ficou curada a partir daquele instante. Chegando à casa do chefe, Jesus viu os tocadores de flauta e a multidão alvoroçada, e disse: “Retirai-vos, porque a menina não morreu, mas está dormindo”. E começaram a caçoar dele. Quando a multidão foi afastada, Jesus entrou, tomou a menina pela mão, e ela se levantou. Essa notícia espalhou-se por toda aquela região.
O Evangelho de hoje nos fala da ressurreição da filha de Jairo e da cura da mulher que sofria de hemorragia. Esse Evangelho é narrado pelos três evangelistas sinóticos, Mateus, Marcos e Lucas.
Acontece que a versão que nós vamos ler e meditar hoje é bastante abreviada, enquanto Marcos e Lucas nos dão mais detalhes. O evangelho mais saboroso — digamos assim — em detalhes é exatamente o evangelho de São Marcos, porque Marcos era secretário de Pedro, que esteve presente nos acontecimentos narrados.
Há pequenos detalhes como este: quando Jesus recebeu Jairo, a menina não estava morta ainda (para Mateus, ela tinha acabado de morrer); no meio do caminho, acontece a cura da hemorroíssa: “Quem me tocou?” (Mateus não narra nada disso), e o diálogo de Jesus com Pedro, testemunha ocular: “Senhor, há muita gente aqui”; depois, quando chegam finalmente à casa de Jairo, outro detalhe: Jesus entra com os pais da criança, Pedro, Tiago e João, e diz as palavras “Thalita kum”, “Menina, levanta-te”. Todos esses detalhes são da versão de São Marcos.
O que há de saboroso na versão mais resumida de Mateus, que não fora testemunha ocular nem esteve lá (embora ele narre de forma a não contradizer os outros evangelistas; mas se vê claramente que ele não tem a precisão de uma testemunha ocular)?
Pois bem, em primeiríssimo lugar, vemos que a morte está presente desde o início, e a fé do pai que vai até Jesus pedir por uma criança que já está morta é uma coisa comovente. Uma fé tão grande assim! Quem de nós já ousou fazer um pedido a Deus quando a morte já estava concretizada? Mateus nos faz meditar sobre essa fé. Jesus levanta-se e parte com os discípulos.
No meio do caminho, encontra uma mulher com hemorragia havia doze anos. Os outros evangelistas nos recordam que a menina morta tinha doze anos, e a mulher sofria de hemorragia havia doze anos. É um paralelo entre duas realidades, ou seja, também essa mulher, que há doze anos sangra, está morta de alguma maneira.
Como nós sabemos disso? Na versão abreviada de São Mateus, diz-se assim: “Se eu conseguir ao menos tocar no manto dele, serei salva”. Nossas traduções dizem ‘curada’, mas há de fato uma busca de salvação. Jesus imediatamente (não há diálogo, não há momento de tergiversação) volta-se ao vê-la e diz: “Coragem, filha, a tua fé te salvou”.
Esse resumo e esses detalhes nos levam a pensar mais do que em curas e em ressurreição física, mas numa realidade de eternidade, isto é, na morte eterna.
Primeiro, a fé, o encontrar-se com Jesus mesmo que se esteja em pecado. Encontre-se com Ele na fé. Não interessa se você está em pecado. Peça mais fé, peça a fé de Jairo, a fé de saber que Jesus pode arrancar-nos da morte, pode tirar-nos da situação mortífera em que nos encontramos, isto é, do pecado mortal.
Uma vez que vem a fé, vem depois a ousadia de ir até Jesus para tocá-lo: tocá-lo no Batismo, tocá-lo na Confissão, para que haja o perdão dos pecados.
Vemos que logo brota no coração daquela mulher o amor por Jesus, pois da fé se passa para o amor, que é o que verdadeiramente salva. “A tua fé te salvou”, sim, mas porque a mulher, ao tocar em Jesus como a esposa toca no esposo, com ousadia, recebe a graça divina e a capacidade de amar. É isso, finalmente, o que nos tira da morte.
Jesus pede que as pessoas se retirem do quarto, quase como o esposo na intimidade da alcova da esposa. Jesus quer falar de coração para coração: “A menina não morreu, está dormindo”, então Ele toma a menina pela mão e a levanta. Essa leitura espiritual pode ser aplicada a todos nós.
O sabor do resumo de São Mateus nos dá essa oportunidade de meditação. Não é uma leitura alegórica, no sentido de irreal; mas é algo bem concreto. Tenha fé e coragem! Aproxime-se dele e receba o toque da graça do amor que quer tirar-nos das trevas da morte e do pecado.
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