Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 20, 1-9)
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido tirada do túmulo.
Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”.
Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou.
Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte.
Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou. De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos.
Não é possível compreender o que é a salvação que celebramos na Páscoa, sem antes entendermos a perdição em que entrou o homem pelo pecado. Não se pode entender a dinâmica da vida sem entender o que significa a morte.
Em sua dimensão física, como se sabe, a morte veio ao mundo como castigo. Ela não estava prevista no plano original do Criador, mas entrou na vida do homem por uma realidade muito mais trágica: o pecado, que tem como consequência terrível e irremediável a morte eterna. De fato, muito pior que a alma separar-se do corpo pela morte é que ela se separe de Deus eternamente. Por isso, São Roberto Belarmino chama o inferno de “morte imortal”:
“Ó vida mortífera! Ó morte imortal! Se és vida, como matas? Se és morte, como duras? Assim, pois, nem de morte nem de vida podes ser chamada, porque ambos esses momentos algum bem possuem: a vida tem a quietude e a morte tem fim. Tu, porém, nem a quietude nem o fim possuis.” [1]
Só quem se dá conta da gravidade que tem essa segunda morte é capaz de compreender o verdadeiro sentido da morte física: Deus a permite — bem como as doenças, misérias e sofrimentos deste mundo — para que o homem se humilhe, tome consciência de sua condição e se volte para o Pai. Não se trata de um castigo de condenação, mas de uma pedagogia de salvação.
O Verbo encarnado venceu ambas as mortes do homem: a física, unindo o Seu corpo e a Sua alma, na Ressurreição; e a espiritual, unindo de modo inquebrantável a Sua divindade à Sua humanidade, através do mistério da união hipostática. Participar definitivamente dessa vitória da Ressurreição só nos será possível no fim dos tempos, quando acontecer a ressurreição da carne, a qual confessamos na oração do Credo. Neste exato momento, porém, já podemos participar da vitória de Cristo sobre a morte, unindo a nossa alma com Deus através da fé.
Para tanto é preciso, em primeiro lugar, estar em estado de graça. Quem ainda não foi batizado, receba o Batismo; quem já é católico mas caiu na desgraça do pecado mortal, reconcilie-se com Deus pelo sacramento da Confissão. Antes de qualquer coisa, portanto, volte o filho pródigo para a casa de seu pai.
Depois, é preciso exercitar a virtude da fé. O Evangelho deste domingo diz que São João, apenas entrando no sepulcro vazio, “viu e acreditou” (v. 8). Mesmo não tendo ainda compreendido as Escrituras, eles tiveram fé. Mesmo não tendo ainda visto o Cristo Ressuscitado, eles creram. Trata-se, na verdade, de uma constante de todo o tempo da Páscoa, que Jesus Se disfarce diante de Seus discípulos: na ausência do túmulo, no aspecto do jardineiro, no caminho de Emaús, na beira do lago operando mais uma pesca milagrosa etc. Age assim o Senhor porque quer dos homens a fé, e esta — preleciona São Gregório Magno — “é sem mérito quando a razão humana e a experiência lhe servem de provas” [2].
Também hoje o Cristo Ressuscitado espera de nós a fé. A festa da Páscoa não é só a passagem de Cristo da morte à ressurreição, mas a Sua visita em nossa casa, o suave toque de Sua graça em nossa vida, mormente através do sacramento da Eucaristia. Timeo Deum transeuntem et non redeuntem: Santo Agostinho dizia temer o Deus que passa e não volta mais. Não permitamos que esta Páscoa seja como outra qualquer. Ao comungarmos neste domingo do corpo e sangue do Senhor, façamos um fervoroso ato de fé na presença de Cristo na Eucaristia e nos unamos Àquele que venceu a morte para nos dar a vida imortal. Amém.
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