Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 6, 43-49)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons. Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem uvas de plantas espinhosas. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio. Por que me chamais: ‘Senhor! Senhor!’, mas não fazeis o que eu digo? Vou mostrar-vos com quem se parece todo aquele que vem a mim, ouve as minhas palavras e as põe em prática. É semelhante a um homem que construiu uma casa: cavou fundo e colocou o alicerce sobre a rocha. Veio a enchente, a torrente deu contra a casa, mas não conseguiu derrubá-la, porque estava bem construída. Aquele, porém, que ouve e não põe em prática, é semelhante a um homem que construiu uma casa no chão, sem alicerce. A torrente deu contra a casa, e ela imediatamente desabou; e foi grande a ruína dessa casa”.
Com grande alegria, celebramos hoje a Memória de São João Crisóstomo, um grande bispo e doutor da Igreja que teve uma vida monástica e contemplativa e, justamente por sua experiência com Deus e com sua Palavra, tornou-se um pastor exemplar. É interessante notarmos que essa característica é uma realidade muito comum na vida dos santos; principalmente daqueles que pertenceram à época dos Santos Padres. Vale lembrar também que São João Crisóstomo é contemporâneo de um outro monge e bispo extraordinário: Santo Agostinho de Hipona.
João Crisóstomo era um jovem da comunidade cristã de Antioquia, na Síria — lugar onde os cristãos foram chamados por esse nome pela primeira vez. Ali, ele estudou em uma famosa escola de sua época e foi prodigioso como grande orador, de tal modo que, sendo ainda pagão, recebeu o apelido de “Boca de Ouro”, ou seja, Crisóstomos. No entanto, esse jovem foi atraído pela Verdade de Cristo e pediu o Batismo. Logo depois, abandonando a sua carreira, ele se dedicou à vida monástica e à oração, vivendo em comunidade, e após um tempo quis tentar algo mais radical: ser um eremita, um homem de profunda penitência.
Contudo, exagerando nos sacrifícios, João Crisóstomo prejudicou a sua saúde e teve de renunciar à vida monástica, voltando para Antioquia e sendo ordenado diácono, encarregado da caridade, da catequese e dos catecúmenos. Depois, embora não se sentisse digno e tivesse feito de tudo para o evitar, foi ordenado sacerdote e, como tal, mostrou mais uma vez a sua grande capacidade oratória, salvando a cidade com sua pregação, que exigia a mudança de vida, a ruptura com o mundo e a fidelidade e o amor a Deus, transformando desse modo as pessoas interiormente. Eis o perfil deste santo sacerdote.
A fama do padre João Crisóstomo não demorou a se espalhar e chegou até a capital imperial de Constantinopla, de tal forma que ele foi eleito bispo dessa cidade, na qual morava o imperador Acádio. Entretanto, para persuadi-lo a se tornar bispo, foi necessário bolar uma estratégia: Crisóstomo foi mandado para Constantinopla e, sem nenhum aviso prévio, foi sagrado bispo. Assim, começou o seu ministério e, ao mesmo tempo, o seu martírio.
Martírio porque tratava-se de uma cidade imperial, portanto, cheia de vaidades e pecados. João Crisóstomo, sendo sempre reto e justo, não poupou os poderosos, os influentes e os ricos, incomodando a muitos que, revoltados, uniram-se e fizeram um “concílio”, no qual ele foi condenado e exilado. Porém, o povo de Constantinopla, mesmo se sentindo perturbado com a pregação do bispo, exigiu que ele permanecesse. No entanto, pouco tempo depois, João foi mais uma vez exilado.
Então, com menos de 60 anos de idade, Crisóstomo morreu, perseguido por aqueles aos quais ele tinha entregue a sua vida na pregação e desafiado para que se tornassem santos e buscassem o Céu. Injustiçado e maltratado, João Crisóstomo a todos perdoou, e hoje é verdadeiramente um exemplo fantástico do pastor que se deixa levar pelo amor de Cristo, encontrado na oração, e que não dá trégua ao seu povo, como o bom pastor pede às suas ovelhas que se entreguem ao amor de Cristo, que transformou a ele mesmo e que quer transformar também essas ovelhas.



























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