CNP
Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
Todos os direitos reservados a padrepauloricardo.org®

Quem tem de mudar é você!

A oração cristã serve para mudarmos não a vontade de Deus, mas a nossa própria vontade. Se isso não acontece, o que somos é pagãos e não estamos rezando coisíssima nenhuma. Os pagãos, quando rezam, dirigem uma palavra aos céus tentando mudar Deus. Nós, cristãos, ao contrário, quando nos colocamos em oração, recebemos uma pala...

Texto do episódio
00


No evangelho de hoje (Mt 6, 7-15), Nosso Senhor nos ensina a orar. É preciso notar que existe uma grande diferença entre a oração dos pagãos e a oração dos cristãos. Os pagãos, quando rezam, dirigem uma palavra ao Céu tentando “mudar Deus”. Os cristãos, ao contrário, quando rezam, recebem uma palavra do Céu, porque Deus quer nos mudar.

A razão pela qual rezamos é porque estamos dispostos a ser movidos por Deus. A oração é isso: nos abrirmos para uma graça atual, e isso se dá pelo ato de fé. Para compreendermos melhor, imagine que todas as vezes que vamos rezar, se ao terminarmos a oração somos a mesma pessoa que começou a oração, então não estamos realmente rezando. Podemos até ter mexido a boca ou agitado as pernas e os braços, mas a oração não aconteceu. A oração consiste muito mais em Deus que nos fala e age em nós, do que nós que falamos a Deus.

Não é que existam dois tipos de cristãos: o místico, que ao rezar recebe graças do Céu e então alguma coisa extraordinária acontece porque ele é especial, enquanto o resto — pobrezinhos de nós — somos condenados a rezar como os pagãos, agitados, falando sem parar, tentando chamar a atenção do Céu até que, como se estivesse “cansado” ou “convencido”, Deus nos desse aquilo que queremos. Ora, esta última é uma oração pagã!

A oração cristã é igual para todos. Quando rezamos, precisamos saber que receberemos um toque da graça de Deus, e se ao rezar alguém não recebe esse toque, então, como dissemos anteriormente, sequer rezou. 

Você pode dizer: “Mas Padre, quando eu rezo eu não sinto nada!” Está tudo bem, não precisa sentir. Existem, claramente, alguns estágios na oração: quem está começando a sua vida de oração não sente o toque da graça de Deus; mas, se você estiver rezando direito e estiver pedindo a fé com devoção, continuamente, há muitos e muitos dias, se está clamando: “Jesus, eu creio no Vosso amor, mas eu não creio o suficiente. Senhor, aumentai a minha fé!”, tenha certeza: você irá mudar! Mesmo que não sinta na hora, um dia, quando olhar para trás, você conseguirá enxergar o que aconteceu e perceber o quanto mudou.

Esse pedido para que o Senhor aumente a nossa fé é algo que absolutamente todos nós podemos fazer: desde a criança pequenina que está aprendendo a juntar as mãozinhas para rezar, até o adulto que nem mesmo está em estado de graça. Mesmo quem estiver vivendo no pecado, se pedir a fé continuamente e com sinceridade, irá mudar. Sei que estou me repetindo nessa questão, mas é de propósito, pois é preciso insistir: todos podemos pedir a fé. É uma oração vocal inicial, um engatinhar na vida de oração.

Uma pessoa que se engaja nesta oração mais básica vai ter seu coração transformado! No entanto, o que geralmente acontece com grande parte das pessoas é que, quando vão rezar, ao invés de pedirem a fé para mudar sua vida, querem mudar o próprio Deus. Ora, mas esta é uma atitude de imensa soberba! É agir como se quisesse sentar o próprio Criador do Universo no banquinho escolar para dizer a Ele: “Olha, você não deve ser tão inteligente assim ou não conseguiu me escutar, porque ainda não me atendeu. Em todo caso, deixe-me então ensiná-lo como as coisas devem ser. É o seguinte: talvez o Senhor não saiba, mas estou precisando de algo e quero que me atenda…” Agimos frequentemente como se Deus ignorasse ou esquecesse as nossas necessidades. Estamos aqui fazendo piada sobre esse absurdo, mas as pessoas realmente agem dessa forma, como se precisassem lembrar o Senhor de seus anseios, ou como se pudessem mudá-lo e convencê-lo de algo. É como se dissessem: “Por favor, Deus, seja bonzinho e não malvado”. Consegue ver agora, mais claramente, o tamanho da blasfêmia que representa essa forma de rezar? Quem tem de mudar somos nós; e, se ao rezar não estamos dispostos a isso, então não estamos rezando. 

Novamente, muitos podem dizer: “Mas padre, eu não tenho capacidade de mudar, não tenho forças”. Pois bem, isso realmente é verdade. Não temos força alguma por nós mesmos, e se isso dependesse unicamente de nós, seríamos sempre pecadores condenados ao fogo do Inferno. Por essa razão, nós precisamos da graça atual. Deus quer nos ouvir, quer que nós peçamos, e por isso nos orienta: “não sejais como os pagãos, pois o Vosso Pai sabe do que precisais muito antes que vós peçais” (Mt 6, 7-8).

Deus só está esperando você pedir; mas pedir o quê? Pedir o que você precisa. Não pedir o que você quer. É diferente. Muitas vezes, o que queremos não é necessariamente aquilo que precisamos. Quem de nós, pai ou mãe que precisa educar um filho, não passou pela seguinte situação:

— Mãe, tô com fome! — gritou a criança.

Ou seja, fez a “oração vocal” e “pediu a graça”, mas quando a mãe vai lhe dar a comida escuta, num muxoxo:

— Não quero isso, mãe. Eu quero pudim!

— Não, meu filho. Pudim agora não. Você vai comer arroz, feijão e carne.

— Ah, mas eu quero pudim!

— Não, meu filho, você não sabe o que precisa…

— Ah, mãe, mas eu quero!

— Filho, você quer pudim, mas não é isso que você precisa. A mamãe ouviu que você está com fome, e por isso estou dando o que você precisa, e não o que você quer. 

Assim também é Deus: Ele nos dá o que precisamos, não o que queremos.

Precisamos entender que a verdadeira oração é infalível. Todas as vezes que vamos rezar, Deus é infalível; Ele nunca deixa de nos atender. Quando se faz a verdadeira oração cristã, não existe a situação: “Hoje eu rezei e Deus não me atendeu”. O que acontece é que Deus nem sempre dá aquilo que queremos, mas sempre dá o que precisamos. Então, precisamos pedir! Essa intervenção divina nos dá principalmente o que necessitamos para a nossa alma — que é aquilo que em Teologia chamamos de graça atual.

A graça atual é uma intervenção de Deus através de nossa oração, de tal forma que o mínimo que Ele faz quando rezamos é justamente fortalecer o nosso ato de fé, que é o que nos faz crescer espiritualmente. E o que é o ato de fé? É quando, por exemplo, ao ouvirmos uma palavra de Deus, como está na Bíblia ou no ensinamento da Igreja, a nossa vontade diz para a nossa inteligência: “Creia! É Ele quem está falando”. Quer dizer que se é Deus que está falando, então é verdade, e ponto final. Este ato, porém, por mais simples que pareça, não é possível sem uma intervenção divina, em que Deus ilumina a nossa inteligência e convida a nossa vontade. E ainda que não notemos isso, é o que Ele está fazendo conosco neste exato momento.

O ato de fé acontece na inteligência e na vontade, que são duas coisas que os animais não possuem. Deus nos toca interiormente, iluminando a nossa inteligência — “Isso é verdade!” —, e convidando a nossa vontade — “Eu quero isso: quero amar essa verdade. Quero amar a Deus e a sua verdade”. Pode ser que, enquanto acompanha essa pregação, abram-se os olhos da alma de alguma pessoa e ela seja iluminada, fazendo esse ato de fé: “Deus é bom! Eu não preciso convencê-lo, Ele já sabe o que eu quero. Ah, meu Deus! Eu creio que o Senhor é bom, e sei que me dará o que preciso”. Aquele que fizer esse pequeno ato de fé, ainda que não tenha notado, teve a sua inteligência iluminada e a sua vontade convidada a responder; e ainda que com de forma inicialmente bem sutil e imperceptível, Deus está fazendo alguma coisa em sua alma.

É certo que todas as vezes em que comemos, aquele alimento está fazendo alguma coisa em nosso corpo. Algumas vezes, notamos isso na hora: quem não está acostumado a tomar um guaraná ralado de manhã, que possui muita cafeína, quando toma pela primeira vez sente até mesmo palpitações — o efeito é notado no mesmo momento em que se ingere o alimento. Outras comidas, porém, não têm seu efeito notado na hora, mas estão nos alimentando mesmo assim.

Uma vez que a oração muda o nosso coração, rezemos dispostos a deixar que Deus modele o barro. É Ele que vai nos “fazendo”, vai nos transformando e nos dando o que precisamos. Quanto mais vamos crescendo na vida espiritual, mais vamos sabendo o que devemos pedir. Vimos que a criança não sabe o que precisa, mas o adulto é capaz de abrir a geladeira e dizer: “Preciso deste e daquele nutriente”. Mas é preciso que seja um adulto maduro, que cresceu em sua consciência. Assim também é a vida da fé. Quando avançamos na vida de oração, começamos a saber o que pedir porque nos acostumamos com a mão de Deus, e já sabemos qual é a vontade dele e o que Ele quer que peçamos. Essa é a verdadeira e madura vida de oração!

Rezemos e confiemos no Bom Senhor. Ele quer nos transformar e amadurecer na fé. Todas as vezes que rezamos existe uma graça atual agindo; portanto, não devemos esperar que apenas desejos materiais se resolvam com a oração, mas que o nosso coração mude. “Buscai primeiro o reino de Deus e tudo mais vos será acrescentado” (Mt 6, 33).

Material para Download

O que achou desse conteúdo?

Mais recentes
Mais antigos
Texto do episódio
Material para download
Comentários dos alunos