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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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O projeto de redenção de Cristo consiste numa transformação da alma pela qual o ser humano, depois de uma necessária purificação, une-se à Paixão de Jesus como um verdadeiro sacrifício. Nesta pregação para a Páscoa de 2016, feita a seminaristas, Padre Paulo Ricardo descreve a arquitetura desse processo, que deve começar por uma vida escondida como a de São José. A alma precisa orientar-se para a oração e a imolação, num grande esforço de ascese, a fim de que ela passe pela via purgativa e chegue a um estágio mais avançado da perfeição cristã.

A vida de oração é algo próprio de quem já chegou às segundas moradas, conforme nos ensina Santa Teresa de Jesus. Aos poucos, essa pessoa deve galgar os degraus do Castelo, entrando nas moradas seguintes, onde será convidada a um amor mais profundo. As terceiras moradas são, por isso mesmo, o lugar onde a alma terá a oportunidade de mostrar sua generosidade a Deus, entregando-se a uma mortificação bem ativa dos próprios defeitos, sobretudo no trato com os irmãos. Se se mantiver constante, Deus mesmo tomará as rédeas dessa alma, purificando-a de todas as suas imperfeições, até que ela possa atravessar o gargalo das quartas moradas, para alcançar a verdadeira santidade.

Vemos, portanto, que as terceiras moradas podem ser bem longas e desafiadoras, pois exigem muita constância e diligência. Elas estão normalmente divididas em duas fases: uma ativa, que diz respeito aos esforços da pessoa para livrar-se do apego ao pecado, e outra passiva, que consiste na intervenção de Deus para realizar as últimas purificações da alma.  Tudo se resume, afinal, ao Horto das Oliveiras, que é onde Cristo cumpriu no coração a suprema Vontade do Pai de redimir todos os homens. Do mesmo modo, as almas devem esforçar-se até que o Pai as configure à sua Vontade Divina.

Para mostrar como isso ocorre numa alma generosa, Padre Paulo Ricardo apresenta-nos a vida do Servo de Deus Guido Schäffer, um seminarista da Arquidiocese do Rio de Janeiro que morreu aos 35 anos de idade, num acidente quando surfava com amigos. Em 2015, o Vaticano aceitou a abertura do seu processo de beatificação. Os estudos da Congregação para a Causa dos Santos devem revelar como Guido serviu a Deus heroicamente, muito para além do comum de um jovem surfista. De fato, os testemunhos dos seus amigos e os próprios escritos de Guido Schäffer apresentam sinais claros de uma grande santidade, que precisou ser conquistada dia após dia.

Guido Schäffer nasceu no município de Volta Redonda (RJ), em 22 de maio de 1974, mas cresceu na capital fluminense. Apesar da educação católica que recebeu, ele infelizmente não escapou das tentações de muitos adolescentes, experimentando drogas, bebidas e outros pecados. “Ao rever a minha história com Jesus, pude perceber em mim quantos pecados já cometi: faltar missa no domingo, roubar, fornicação, masturbação, pornografia, bebedeira, droga, mentir, enganar, cobiçar as coisas alheias, desobedecer meus pais, orgulho, vaidade, egoísmo”, confessa ele humildemente em seu diário [1]. Tudo isso ele precisou enfrentar para tornar-se santo.

A grande mudança na vida de Guido veio por meio da Renovação Carismática Católica e dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, que o ensinaram o valor da oração e o desejo de ser santo. Depois disso, ele começou um processo ascendente de purificação, rezando e se mortificando para conformar-se à vontade de Deus. Ao mesmo tempo em que se reconhecia um miserável pecador, Guido Schäffer alargava seu coração para que Cristo transformasse aquele barro do qual ele era feito num vaso novo, santo e irrepreensível. Ele tinha as virtudes da humildade e da magnanimidade bem unidas, pois sabia, como diz Santa Teresinha, que Deus não pode inspirar desejos impossíveis.

Foi assim que aquele simples rapaz do Rio de Janeiro teve a sua vida restaurada por Jesus.  Guido Schäffer progrediu até conquistar o prêmio dos eleitos, tornando-se um modelo para todos os seus irmãos. Após o término da faculdade de medicina, ele iniciou um trabalho pastoral junto às Missionárias da Caridade, fazendo-se bem presente no meio dos mais pobres, a fim de levar até eles a graça de Nosso Senhor. Era essa a sua resposta ao chamado que Cristo havia feito ao jovem rico. Guido entregou tudo o que tinha — ou seja, a graduação em medicina — para tornar-se perfeito como o Pai. Tal desprendimento suscitaria mais tarde a sua entrada no seminário da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Guido Schäffer faleceu em 1.º de maio de 2009, sem ser ordenado sacerdote. A prancha que acertou sua nuca, provocando seu afogamento, tinha a seguinte inscrição: “Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram” (Mt 7, 14). Guido evidentemente passou por essa “porta estreita” de que nos fala o Evangelho, a custo de muita oração e ascese, de modo que a sua história é um testemunho valioso para nós, homens e mulheres marcados miseravelmente pelo pecado, que precisam render-se à vontade de Cristo. Guido nos ensina que a santidade não é apenas para alguns eleitos, mas para todo aquele que decide seguir o caminho do Céu. Imitemos, pois, os seus passos para também nós nos tornarmos apóstolos da Palavra e da Paz.

Notas

  1. A mãe de Guido explica, porém, que ao confessar, ele fez como fazem muitos santos, carregando nas tintas sobre os próprios pecados. Os roubos de que ele fala eram balas que furtava nas lojas quando criança. Depois, o relato das drogas se resume a dois cigarros de maconha que amigos surfistas lhe deram uma única vez. Em todo caso, ele precisou reparar tais ofensas a Nosso Senhor. Agradecemos à senhora Nazaré Schaffer pelos esclarecimentos.
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