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Texto do episódio
1753

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Lc 1, 39-56)

Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.
Então Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.

Com alegria, celebramos neste domingo aqui no Brasil a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Mas, afinal, o que podemos aprender com esse acontecimento da vida de Maria? Qual é verdadeiramente o fruto espiritual desse grande mistério de ver Nossa Senhora gloriosa, ressuscitada, em corpo e alma junto de Deus?

Terminados os seus dias aqui, a Virgem Santíssima foi levada para junto de Deus. E nós cremos nessa verdade pois é o que nos ensina a Igreja, por meio da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, do Papa Pio XII [1]. Esse é o documento — datado de 1.º de novembro de 1950 — que oficializa a proclamação desse mistério no qual a Igreja crê há dois mil anos.

É fundamental percebermos que a fé da Igreja não é desprovida de fecundidade, isto é, se a Igreja nos ensina algo, esses mistérios são sempre salvíficos — eles têm enorme importância para a nossa salvação. Por isso, é fundamental refletirmos sobre essa realidade da Assunção de Nossa Senhora.

Primeiramente, temos de considerar o seguinte: há pessoas que têm certa dificuldade de acreditar que a Virgem Maria ressuscitou e subiu aos céus, onde está gloriosa junto de Deus Pai. Isso porque elas não creem que Maria tenha algo de especial. 

Aliás, é isso o que muitos teólogos modernos defendem. Tanto é assim que a Congregação para a Doutrina da Fé precisou enviar uma carta oficial aos bispos do mundo inteiro — datada de 17 de maio de 1979, quando o prefeito da Doutrina da Fé não era Joseph Ratzinger — na qual esclareceu que verdadeiramente a Assunção da Virgem Maria é algo singular. Isso foi necessário porque alguns teólogos estranhamente passaram a ensinar que, de fato, a Virgem Maria ressuscitou depois de ter terminado os seus dias aqui na Terra, mas que isso acontece com todas as pessoas. Esses teólogos estavam a ensinar que a ressurreição é algo “automático” após a morte — o que implica dizer que não haverá ressurreição final no último dia. 

Conforme essa interpretação equivocada, assim que morremos, ressuscitaremos do outro lado. Evidentemente, isso não é um artigo da fé católica. No número 6 da referida carta, a Congregação para a Doutrina da Fé deixa claro que a realidade da Assunção de Maria foi algo único na história da salvação:

A Igreja, ao expor a sua doutrina sobre a sorte do homem depois da morte, exclui qualquer explicação com que se tirasse o seu sentido à Assunção de Nossa Senhora, naquilo que esta tem de único; ou seja, o fato de ser a glorificação corporal da Virgem Santíssima uma antecipação da glorificação que está destinada a todos os outros eleitos [2].

Se, de fato, a Igreja ensina claramente que a Assunção de Maria é algo único, como explicar que isso não acontece com mais ninguém? Em primeiro lugar, é preciso entender que essa não é a única coisa inusitada em Nossa Senhora. Sua vida, no âmbito do mistério da salvação, é quase que realmente única; pois é marcada por uma série de eventos singulares. Por isso, vamos analisar brevemente a vida da Virgem Maria.

Quando da sua concepção, no ventre de Sant’Ana, Maria foi redimida e, portanto, ela não carregou a mácula do pecado original. Milagrosamente, Maria foi salva por meio dos méritos da Paixão de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo — que ainda não havia nascido. É evidente que naquele momento da história Maria era a única redimida; o restante da humanidade precisava ainda ser salvo. É evidente, portanto, que houve uma antecipação da Redenção. 

Com isso, é como se já ali no ventre de Sant’Ana, na pessoa de Maria, estivesse reunida a Igreja antecipadamente. E essa realidade de reunir a Igreja de forma antecipada na pessoa da Virgem Maria se repete, por exemplo, no dia da Anunciação. Nesse contexto, a Virgem Bem-Aventurada recebe o Espírito Santo na Encarnação do Verbo Eterno. Nós lemos nos Evangelhos que, quando Jesus se fez carne, o anjo disse a Maria: “O Espírito Santo virá sobre ti”. Desse modo, Maria é a primeira pessoa da humanidade a receber o Espírito Santo — algo que vai acontecer em Pentecostes, mas nós aqui temos em Maria um “Proto-Pentecostes”. 

Assim, temos aqui novamente uma singularidade: a pessoa da Virgem Maria é a síntese da Igreja como um todo, cujos filhos receberão o Espírito Santo. Diante da Cruz de Cristo nós vemos a falência, por assim dizer, da Igreja diante da Paixão de Cristo: vemos os Apóstolos fugirem, afastarem-se e, inclusive, traírem Jesus. É, portanto, uma verdadeira tragédia. Aos pés da Cruz, os únicos perseverantes foram os discípulos que ficaram com Maria: São João e algumas mulheres. Mas temos de perceber que as coisas não permanecem dessa forma. 

Acontece que, no Sábado Santo, depois da morte de Nosso Senhor, a fé tanto de São João quanto das mulheres que estavam ao pés da Cruz sucumbe também. E a prova maior de que eles perderam a fé quando da chegada do Sábado Santo é que, no domingo pela manhã, eles se dirigem ao túmulo, à procura do corpo de Nosso Senhor. Eles foram procurar por Jesus entre os mortos. Evidentemente, eles ainda não haviam entendido que Nosso Senhor estava vivo. Assim, no Sábado Santo, uma vez mais a Igreja se reduziu a Maria, porque ela já tinha a fé na Ressurreição — quando ninguém na Terra acreditava nisso, a Virgem acreditava. 

Antes que a própria Igreja creia na Ressurreição, Nossa Senhora já crê. De maneira antecipada, a Igreja está reduzida a Maria no Sábado Santo. Assim, se Nossa Senhora viveu tantas antecipações de forma incontestável, por que nós haveremos de nos escandalizar se ela vive antecipadamente — e de forma incontestável — a ressurreição dentre os mortos? A Virgem Maria Santíssima agora está no Céu, triunfante e gloriosa. Temos, assim, uma singularidade tripla: na Redenção, ela é a primeira redimida; em Pentecostes, a primeira ungida; e na fé do Sábado Santo, ela é a primeira crente verdadeira. Mas é claro que, quanto à realidade da sua Assunção, ela não é a primeira ressuscitada, pois o próprio Cristo já havia ressuscitado.

Dentre os membros da Igreja — e Jesus é o cabeça desse Corpo Místico — ela é o primeiro membro ressuscitado antecipadamente. A Igreja, por meio do seu Magistério, sempre viu essa antecipação da ressurreição de Maria Santíssima como um elemento salvífico, pois sempre interpretou esse fato à luz do livro do Apocalipse, capítulo 12: “Apareceu no céu um grande sinal. A mulher vestida de sol”, isto é, temos aqui uma mulher gloriosa, ressuscitada; “tendo a lua sob os seus pés”, aqui a lua é símbolo da morte, que está calcada sob os pés dessa mulher ressuscitada; “e em sua cabeça há uma coroa de doze estrelas”, São João aqui diz que essa mulher singular simboliza a própria Igreja, alicerçada sobre os Doze Apóstolos. Não admira que nesse contexto Maria simbolize a Igreja de Cristo, e também recapitule a Igreja em si mesma; isso porque já estamos habituados a essa realidade de uma espécie de “redução eclesiológica” na pessoa de Maria — isto é, por vários momentos, a Igreja se reduziu a Maria. 

Assim, nasce o Filho da “mulher vestida de sol”, ocorre a batalha contra o dragão e, então, a mulher cria asas e vai buscar abrigo no deserto (cf. Ap 12, 1-14). Mas é lá que ela trava a batalha contra a serpente, o dragão, a antiga serpente; mas a terra protege a mulher e o dragão então se revolta, saindo para atacar o restante dos filhos da mulher (cf. Ap 12, 15-18). Aqui, o Apocalipse nos mostra essa realidade de que a Virgem Maria, gloriosamente ressuscitada no Céu, ajuda-nos nessa batalha contra a serpente. Ela nos recorda também de que ainda estamos neste mundo, ainda somos a Igreja militante, que luta contra o dragão. 

Nesse mesmo capítulo 12 do Apocalipse, vemos a batalha de São Miguel Arcanjo e do restante dos anjos do Céu contra o dragão. Essa é claramente uma batalha na qual Maria precede à frente dos exércitos juntamente com São Miguel Arcanjo, pois os anjos servem a ela. Desse modo, é importante lermos esse capítulo do Apocalipse à luz da Quaresma de São Miguel, devoção privada que o grande São Francisco propôs para se iniciar precisamente no dia da Assunção da Virgem Maria, 15 de agosto. 

São Francisco achava que, entre a Quaresma e o Advento, era importante ter mais um período para o fiel fazer penitência. Por isso, ele fez essa Quaresma de São Miguel, que tem início com a Assunção e se estende até o dia de São Miguel, 29 de setembro. Portanto, ela começa precisamente com a Virgem Maria — que é a Senhora dos Anjos. A Virgem Maria, ao subir aos céus, foi coroada como Rainha dos Anjos. E aqui, nós gostaríamos de partilhar uma revelação privada ocorrida com o Bem-aventurado Luís-Eduardo Cestac. 

O padre Cestac nasceu no dia 13 de janeiro de 1864. Em determinado momento de sua vida, ele recebeu luzes divinas e teve a graça de ver demônios espalhados por sobre a Terra, causando enorme confusão. Suas visões são praticamente profecias sobre a situação do mundo no século XX. Ao mesmo tempo, ele também teve uma visão da Virgem Maria, mostrando-lhe que, verdadeiramente, o poder dos demônios foi desencadeado sobre o mundo inteiro como nunca antes na história. Desse modo, mais do que nunca, era preciso suplicar à Virgem Santíssima, Rainha dos Anjos, a fim de que ela enviasse as legiões dos santos anjos para combater e derrotar os poderes infernais. 

Podemos ver claramente que essa revelação privada do Beato Luís-Eduardo Cestac é algo que está em perfeita sintonia com a Primeira Leitura deste domingo, retirada dos capítulos 11 e 12 do Apocalipse. Mas ali houve de fato um diálogo entre o padre Cestac e Nossa Senhora. O sacerdote disse: “Minha Mãe, vós sois tão bondosa, por que então não enviais por vós mesma esses anjos, sem que ninguém vos peça?”; ao que a Virgem Maria respondeu: “Não. A oração é uma condição que foi estabelecida pelo próprio Deus para se obter essa graça”. 

Diante dessa revelação surpreendente, nós precisamos suplicar a Nossa Senhora que envie os seus anjos em nosso auxílio. O padre Cestac então disse: “Mãe Santíssima, ensinai-me como quereis que eu vos peça”. Foi quando Maria Santíssima ensinou a famosa oração “Augusta, Rainha dos Céus”, “Auguste, Reine des Cieux”, em francês. Oração esta muito querida pelo padre Pio de Pietrelcina.

Assim, o beato Luís-Eduardo mandou imprimir meio milhão de orações, para que todos pudessem usar essa oração ditada pela própria Mãe de Deus. Primeiramente ele pediu permissão ao bispo Dom Lacroix, bispo de Bayonne, na França. No entanto, depois de obtida a autorização, o padre Cestac teve grande dificuldade para conseguir imprimir a oração, pois a máquina de impressão — do final do século XIX — simplesmente quebrou duas vezes. Era mesmo o demônio que não queria que essa oração fosse espalhada pelo mundo.

Devido à importância dessa oração, vamos recitá-la neste momento a fim de que ela produza em nós frutos espirituais nesta Solenidade da Assunção da Virgem Maria.  Afinal, nós estamos diante de dois mistérios do Santo Rosário: o quarto mistério glorioso, a Assunção de Maria Santíssima aos céus; e o quinto mistério, a sua coroação como Rainha do Céu e da Terra. No dia 22 de agosto, nós celebraremos a memória de Nossa Senhora Rainha; portanto, uma semana depois da Solenidade da Assunção de Maria. O título Rainha do Céu significa que Maria é Rainha dos Anjos. Assim, nestes tempos atribulados nos quais vivemos — em que a Igreja é assediada, de todos os lados, por Satanás —, se queremos obter vitória sobre os nossos inimigos, temos de pedir isso a Nossa Senhora.

Evidentemente, trata-se de uma oração transmitida durante uma revelação privada, na qual ninguém está obrigado a crer. Porém, o conteúdo da oração é muito edificante. Ademais, são palavras que vêm da própria Virgem Maria. Portanto, não há dúvida de que se trata de algo muito bom, bastante piedoso e também fecundo para a nossa vida espiritual. Dito isso, vamos nos recolher e rezar: 

Augusta Rainha dos céus,
soberana mestra dos Anjos,
vós que desde o princípio recebestes de Deus
o poder e a missão de esmagar a cabeça de Satanás,
nós vo-lo pedimos humildemente:
enviai vossas legiões celestes,
para que, sob vossas ordens,
e por vosso poder,
elas persigam os demônios,
combatendo-os por toda a parte,
reprimindo-lhes a insolência,
e lançando-os no abismo.
Quem é como Deus?
Ó Mãe de bondade e ternura,
vós sereis sempre o nosso Amor e a nossa esperança.
Ó Mãe Divina, enviai os Santos Anjos para nos defenderem,
e repeli para longe de nós o cruel inimigo.
Santos Anjos e Arcanjos, defendei-nos e guardai-nos. Amém. 

Essa oração está integralmente à disposição em nosso site — em português e no idioma original, francês. Em alguns livrinhos de oração, pode-se encontrar a tradução dessa oração com alguns detalhes diferentes. Aqui, nós fizemos questão de traduzi-la o mais próximo possível do francês, respeitando as nuances linguísticas, já que foi uma oração ditada pessoalmente por Nossa Senhora.

De todo modo, essas traduções veiculadas por meio desses livrinhos de oração também são bastante fiéis. O que nós verdadeiramente temos de fazer é nos dar conta de que o triunfo da Virgem Maria no Céu é algo salvífico. Isto é, quando nós, neste mundo, celebramos a Assunção de Maria, nós não estamos celebrando, por exemplo, o Teorema de Pitágoras ou algo igualmente misterioso, difícil e abstrato; não se trata de uma teoria fora da realidade, senão de um mistério salvífico. Deus, por meio dos seus mistérios, vem ao nosso encontro e salva-nos; Ele realmente quer o nosso bem. 

Portanto, aproximemo-nos da Virgem Maria confiantemente, realizando aquilo que lemos no Apocalipse. Porque, de fato, nós temos uma grande alegria de nos aproximarmos de Maria e pedir que ela, Rainha dos Anjos, continue a batalhar conosco: nós que somos os restantes dos seus filhos. Essa é a luta que existe desde o princípio; é a inimizade entre a mulher e a serpente, conforme está dito no capítulo 3 do Gênesis. Tal inimizade estende-se até os nossos dias, e podemos ver que a batalha está cada vez mais encarniçada, feroz e cruel; pois quer verdadeiramente nos destruir, levando-nos para o Inferno. 

Contudo, Nossa Mãe, triunfante no Céu, acena para nós. Assim como aqueles poucos discípulos permaneceram fiéis a Cristo aos pés da Cruz, pois estavam na companhia de Nossa Senhora, também nós, que a ela nos consagramos e que nela confiamos — neste momento tão dramático da história da humanidade e da Igreja —, rezemos confiantemente essa oração, suplicando seu auxílio.

Que a Virgem Maria Santíssima, Rainha dos Anjos, ajude-nos, envie os seus anjos para nos defender e interceda por nós junto ao seu Filho.

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