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Homilia Dominical
14 Nov 2014 - 27:26

Servo mau e preguiçoso!

No Evangelho, Nosso Senhor conta a seus discípulos a célebre parábola dos talentos, ao cabo da qual subsistem, de um lado, dois servos bons e fiéis e, de outro, um “servo mau e preguiçoso”. Nesta pregação, Pe. Paulo Ricardo narra com detalhes a condição enfermiça deste último servo. Em que consiste a preguiça e como podemos vencer essa doença espiritual?
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Homilia Dominical - 14 Nov 2014 - 27:26

Servo mau e preguiçoso!

No Evangelho, Nosso Senhor conta a seus discípulos a célebre parábola dos talentos, ao cabo da qual subsistem, de um lado, dois servos bons e fiéis e, de outro, um “servo mau e preguiçoso”. Nesta pregação, Pe. Paulo Ricardo narra com detalhes a condição enfermiça deste último servo. Em que consiste a preguiça e como podemos vencer essa doença espiritual?
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
Mateus (Mt 25, 14-30)

A parábola dos talentos, contada por Nosso Senhor neste Domingo, fala de um patrão que, indo viajar para o estrangeiro, generosamente confiou talentos a seus três servos. Os dois primeiros multiplicaram o que receberam, ao passo que o terceiro “cavou um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu patrão”. Durante o acerto de contas, os servos que tiveram lucro são recompensados como bons e fiéis, mas o último é chamado de “mau e preguiçoso”.

O terceiro servo é mau porque tem um conceito errado e blasfemo a respeito de seu patrão – que, evidentemente, representa Deus. Ele diz: “Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste”. Ora, uma pessoa que colhe onde não plantou e ceifa onde não semeou é injusta. No entanto, é essa a ideia que este servo tem de Deus. E também é a ideia que muitas pessoas têm do Senhor: pensam que, com Suas “exigências excessivas”, Ele não passa de um “desmancha-prazeres”, que nos pede a renúncia das coisas, da família e mesmo da própria vida [1]. De fato, embora não verbalizemos a nossa perplexidade com muitas máximas do Evangelho, pode ser que, infelizmente, vivamos ressentidos com Deus.

Esse ressentimento também pode vir por conta de tragédias e sofrimentos que acontecem em nossa vida, durante os quais somos tentados a perguntar: “Por que eu?”. Quando São João Paulo II sofreu o atentado na Praça de São Pedro, em 1981, algumas pessoas divulgaram a informação de que, em meio ao alvoroço após o tiro, ele teria perguntado: “Por que eu?”. O cardeal e secretário particular do Papa, Stanislaw Dziwisz, negou terminantemente essa notícia: na ocasião, o Santo Padre teria tão somente repetido algumas invocações e orações piedosas.

Na verdade, essa atitude de questionar “Por que eu?” diante das dificuldades é fruto do pecado da soberba. Afinal, com tantas más notícias no mundo – falências, doenças, assassinatos etc. –, o que nos faz tão especiais a ponto de sermos poupados dessas cruzes? Ao recebermos de Deus o chamado a abraçar o sofrimento, a única reação justa deve ser fazê-lo com generosidade, como o “servo bom e fiel”, que vê nos talentos que recebeu de seu senhor uma grande oportunidade de amá-lo. Diante de Deus que nos dá a ocasião de servi-Lo, nossa atitude deve ser a daqueles servos inúteis, que, depois de terem feito o seu trabalho, disseram: “Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer” [2]. Fomos tão amados e agraciados, que qualquer coisa por que passemos nesse mundo nem se compara à glória da vida eterna: “O que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram, nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu” [3].

Então, as dificuldades ordinárias da vida são oportunidades para aumentar a graça de Deus em nossa alma. Dentre elas, existe a graça de merecer. Os protestantes, concordes com a doutrina da sola gratia, de Lutero, acabam por anular a verdade do mérito. Nós, católicos, sabemos que “tudo é graça” – não somos pelagianos –, mas reconhecemos a capacidade de merecer, que também é uma graça, um “talento”.

No sentido naturalista, no qual normalmente se usa a palavra “talento”, ela significa uma capacidade natural, como alguém que tem talento para a pintura, para ser político, para ser atleta etc. No Evangelho, porém, está bem claro que os talentos são uma realidade que se acrescenta à natureza: o patrão deu-os “a cada qual de acordo com a sua capacidade”. A capacidade já está nos servos; os talentos são adicionados a ela. Tratam-se, portanto, das graças de Deus.

Precisamos dos talentos porque, por nós mesmos, não somos capazes de amar a Deus. Então, para fazer-nos participar de Sua vida divina, Ele distribui as Suas graças e pede que correspondamos ao Seu amor – como fizeram os santos, esses servos bons e fiéis que, tendo recebido cinco, dois, um talento, multiplicaram-nos generosamente. Nunca nos elevaremos à estatura de uma Santa Teresa de Ávila ou de um São João Paulo II, é verdade. Mas, essa “desigualdade” também é querida por Deus! Fujamos da tentação socialista de igualar todas as criaturas. Deus realmente dá mais talentos a umas pessoas, justamente porque têm uma missão diferente. É maravilhoso que Santa Teresa tenha recebido graças especialíssimas, que nunca receberemos, pois, assim, ela mesma é uma graça para nós.

Como Santa Teresinha do Menino Jesus escreve, somos uma legião de “pequenas almas” [4]. Talvez tenhamos recebido um só talento. Mas nem por isso devemos invejar aqueles que têm mais. Ao invés, o nosso coração deve ser tremendamente agradecido por aquilo que recebemos e desejar desenvolver os talentos que ganhamos de Deus.

O último servo também é preguiçoso. De todas as preguiças, a maior e mais perigosa é aquela que desconsidera a nossa vocação à santidade, lembrada pelo Concílio Vaticano II [5]. Somos constantemente tentados a reduzir o Cristianismo – que é a religião do sacrifício, do desafio, do amor – à medida do “salário mínimo”, da nossa mesquinhez e egoísmo. Por mais que sejamos “pequenas almas”, temos que exorcizar de nossa vida a preguiça vocacional. Deus pode dar diferentes talentos às pessoas, mas todas, absolutamente, são chamadas a amar e ser santas.

Importa dizer, pois, com Teresa de Lisieux: “Não quero ser santa pela metade. Não me faz medo sofrer por vós, a única coisa que me dá receio é a de ficar com minha vontade. Tomai-a vós, pois ‘escolho tudo’ o que vós quiserdes!...” [6]. Santa Teresinha viveu o amor extraordinário na vida ordinária, no dia a dia. Não foi chamada, como o Padre Pio de Pietrelcina, a receber os estigmas ou fazer grandes milagres. Viveu escondida, no Carmelo, sem que as suas próprias irmãs de comunidade notassem a sua santidade. Tanto que, quando um padre polonês anunciou à Madre Maria Gonzaga o desejo de ver Teresa canonizada, ela gargalhou, pois não tinha enxergado a sua grandeza.

Olhando para o exemplo de Santa Teresinha, deixemos de lado a preguiça vocacional, e multipliquemos os nossos talentos, realizando atos de amor. De nada valem jejuns, sacrifícios, penitências, orações e novenas, se não se fazem com caridade. Faça-se tudo isso, mas por amor a Deus.

Referências

  1. Cf. Mt 10, 37-39
  2. Lc 17, 10
  3. 1 Cor 2, 9
  4. História de uma Alma, Manuscrito B, 5v
  5. Cf. Lumen Gentium, 39-42
  6. História de uma Alma, Manuscrito A, 10v
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