Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo João
(Jo 14,1-12)
Na Última Ceia, Jesus, ao se despedir de Seus discípulos, pronuncia palavras graves e importantes, tais como: “Tendes fé em Deus, tende fé em mim também”, “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, “Ninguém vai ao Pai senão por mim”, e ainda: “Quem me viu, viu o Pai”. Tais afirmações ditas acerca de Si mesmo tornam Jesus muito mais que um grande homem ou uma pessoa genial, como querem alguns escritores racionalistas. Diante de frases como as do Evangelho deste Domingo, conclui-se que ou Jesus é um louco ou é verdadeiramente Deus humanado. Uma pessoa mentalmente equilibrada não pediria para ser objeto de fé, a menos que realmente devesse ser objeto de fé, como o é Deus. Por isso, é preciso dar um passo a mais a respeito da pessoa de Cristo.
Como fazer isso? Primeiramente, é preciso implorar a graça divina. Assim como não se pode ser cristão sem rezar, sem dedicar a Deus um tempo real, concreto e objetivo, não se pode dar o passo da fé sem o Seu auxílio. Neste ponto, é preciso ser realmente ousado: não se deve ter vergonha de dobrar os próprios joelhos e de fato falar com Deus, ainda que, em um primeiro momento, se tenha a sensação de estar falando sozinho. Prostrando-se diante de Cristo crucificado, é preciso que se reze: Senhor, eu não quero confessar-Vos apenas com meus lábios, mas com o meu coração e com a minha vida. Vós sois a vida de minha alma e longe de Vós eu nada sou.
Cada vez que nos afastamos de Jesus, pelo pecado, precipitamo-nos no abismo da morte. Por isso, o segundo passo para avançar na fé é mudar de vida, romper com o pecado mortal, sair do caminho que nos leva à morte. Crer verdadeiramente em Nosso Senhor significa assumir que a vida longe d’Ele é uma vida “de zumbi”, “de vampiro”, “de morto-vivo”. Para confessar isso, no entanto, sequer precisamos crer; basta que lancemos um olhar sincero para dentro de nós mesmos.
Inclinemos nossas cabeças. Mais do que isso: inclinemos nossas inteligências, por meio de um verdadeiro sacrifício, reconhecendo que, sem fé, enveredamos por uma trilha de morte e autodestruição. Mergulhemos nossas mentes em Deus, não para a irracionalidade, pois a fé cristã não é irracional, mas para compreender que existe uma razão superior à nossa, uma Inteligência sumamente bondosa e amorosa que criou o universo. Creiamos no amor tão imenso com que o Senhor nos amou, inclinando-Se a nós, importando-Se conosco. Repitamos as palavras do Salmista: “Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho?” [1]. Ajoelhemo-nos diante da Cruz de Nosso Senhor, olhando para Suas chagas e adorando o Amor que morreu por nós. Prostremo-nos diante da humanidade de Cristo, crendo em Sua divindade; adoremos este Homem, acreditando no que diz o Evangelho: “Quem me viu, viu o Pai”.
Deste modo, estaremos no caminho do que indica São Pedro, na Segunda Leitura: “Aproximai-vos do Senhor, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e honrosa aos olhos de Deus. Do mesmo modo, também vós, como pedras vivas, formai um edifício espiritual, um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo.” [2]
O tempo da Páscoa é propício para renovarmos a nossa fé. Para isso, urge que tomemos uma atitude. Não devemos esperar que a fé “tropece” em nossa frente. É preciso que unamos à graça divina a nossa colaboração. Como na famosa história que se conta de São João Maria Vianney. Um dia, ele recebeu em seu confessionário um agnóstico, um homem que não conseguia ter fé. Este rapaz lhe disse: “Padre Vianney, eu tenho umas dúvidas e queria que o senhor as resolvesse para mim”. Ele respondeu: “Eu resolvo, mas, primeiro, quero que você se ajoelhe e confesse.” “Mas, padre, replicou o rapaz, eu não tenho fé em Deus, nem nos Sacramentos, como vou me confessar?” Vianney insistiu: “Ajoelhe-se e confesse-se”. Então, ele se ajoelhou e confessou seus pecados diante de Deus. Depois da absolvição, ele se levantou e o padre lhe perguntou: “Agora, meu filho, quais são suas dúvidas?” O rapaz disse: “Nenhuma, padre. Não tenho nenhuma dúvida”.
Muitas vezes, o que falta para darmos o passo da fé é jogarmo-nos nos braços de Deus. Mesmo com graça suficiente e com a pregação da Palavra, ainda não nos caíram as escamas dos olhos. Para que elas caiam, é preciso que rezemos, rompamos com o pecado e mudemos de vida. Caso contrário, nossa fé, ao invés de crescer, irá vegetar e morrer.
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