Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 3, 10-18)
Naquele tempo, as multidões perguntavam a João: "Que devemos fazer?" João respondia: "Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!" Foram também para o batismo cobradores de impostos, e perguntaram a João: "Mestre, que devemos fazer?" João respondeu: "Não cobreis mais do que foi estabelecido". Havia também soldados que perguntavam: "E nós, que devemos fazer?" João respondia: "Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!" O povo estava na expectativa e todos perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias. Por isso, João declarou a todos: "Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. Ele virá com a pá na mão: vai limpar sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará no fogo que não se apaga". E ainda de muitos outros modos, João anunciava ao povo a Boa Nova.
*
"Eu vos batizo com água, mas virá aquele que (...) vos batizará no Espírito Santo e no fogo" (v. 16). Diferentemente do batismo de João Batista, que preparava as almas para a chegada de Cristo, o sacramento instituído por Nosso Senhor verdadeiramente confere a graça santificante [1], transformando aqueles que o recebem em filhos de Deus.
É justamente essa filiação a grande fonte da alegria cristã, tema da liturgia deste domingo. "Canta de alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração, cidade de Jerusalém!", diz a Primeira Leitura (Sf 3, 14); "Gaudete in Domino semper. Iterum dico: Gaudete! – Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos", diz a Segunda (Fl 4, 4).
Para compreender exatamente o que significa "alegrar-se no Senhor", todavia, é preciso entender a íntima ligação que há entre a alegria e o amor, pois é justamente desta paixão que nasce aquela outra. Alegra-se quem entra em posse do objeto que ama, e este, por sua vez, determina o tipo de amor que se tem: quem se afeiçoa ao que é terreno e passageiro, terá uma alegria terrestre e efêmera; quem, ao contrário, ama Aquele que é eterno e imperecível, terá uma alegria celeste e permanente. Nosso Senhor aludiu a essas verdades quando disse aos Seus discípulos: "Permanecei no meu amor. (...) Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa" (Jo 15, 9.11).
Para permanecer no amor de Cristo, porém, é preciso guardar os Mandamentos. "Se observardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor" (Jo 15, 10), diz Jesus. Isso significa converter-se, mudar de vida, purificar-se dos próprios pecados.
A esse processo doloroso de passagem da morte para a vida, comparado pelo Evangelho a um parto (cf. Jo 16, 21), segue-se outra batalha também intensa, que é a luta por conservar-se na graça de Deus. De fato, quando uma pessoa se arrepende de seus pecados e se reconcilia com Ele, a Trindade habita dentro de sua alma, amando-a com amor de amizade (cf. Jo 15, 15). Essa inabitação divina é uma realidade extraordinária, a qual todo cristão deve estar disposto a morrer para guardar, pois constitui o sentido de sua felicidade neste mundo – felicidade que, embora não seja plena, já é um antegozo do Céu. Esse "tesouro escondido" da vida cristã é comparado por Tertuliano a "uma lâmpada que ilumina o ambiente": "Quem olha de fora só vê o fogo, mas lá dentro está o óleo da unção".
Neste Advento, abasteçamos as nossas lâmpadas com o óleo da graça divina e tenhamos sempre acesa em nosso coração a chama do divino amor, o único fogo que conduz à alegria e à glória do Céu.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.