Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 2,1-11)
Naquele tempo, houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava presente. Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento. Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”.
Jesus respondeu-lhe: “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou”.
Sua mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei o que ele vos disser!”.
Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros.
Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de água!”. Encheram-nas até a boca. Jesus disse: “Agora tirai e levai ao mestre-sala!”. E eles levaram. O mestre-sala experimentou a água, que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água.
O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho bom até agora!”
Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele.
Com grande alegria, celebramos hoje a solenidade da Padroeira do Brasil, nossa imperatriz e rainha: Nossa Senhora Aparecida. Para entender a importância de tê-la como patrona de nossa nação, é importante recordar seu título inteiro: “Nossa Senhora da Conceição Aparecida”. Trata-se de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, milagrosamente “pescada” em 1717, no rio Paraíba, e escolhida por Deus para proteger nosso país e operar nele grandes milagres.
Por que insistir no fato de que estamos celebrando Nossa Senhora da Conceição? Em primeiríssimo lugar, porque isso está longamente enraizado na nossa história. Sob a proteção da Virgem “sem pecado concebida”, o Reino de Portugal foi fundado para levar a fé aos povos estrangeiros, entre os quais o Brasil, que desde o princípio esteve presente nos desígnios de Deus. Quando a cidade de Lisboa foi conquistada e os árabes foram expulsos de seu território, mandou-se celebrar uma Missa em honra a Nossa Senhora da Conceição. Dali em diante, cada vez mais a Imaculada se tornou a intercessora e o “luzeiro”, por assim dizer, do Reino de Portugal.
Hoje temos a impressão de que todo o orbe católico é devoto de Nossa Senhora da Conceição, mas não foi sempre assim. Na Idade Média, este dogma — de que a Santíssima Virgem Maria foi concebida sem a mancha do pecado original — ainda não havia sido declarado. Mesmo assim, Portugal já cultivava essa devoção; tanto que, após a nação se tornar independente da Espanha, o Condestável Nuno Álvares Pereira (São Nuno de Santa Maria) mandou erigir a igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Viçosa. Logo depois, Portugal foi consagrado a Nossa Senhora da Conceição.
Como isso aconteceu? Em 1646, o rei de Portugal decidiu consagrar todo o Reino — inclusive seus territórios ultramarinos — à Virgem da Conceição. Mas essa decisão foi tomada depois de uma consulta às cortes reais e de uma confirmação do Papa Clemente X, que assentiu, em 1671, ao desejo do rei. Portanto, a consagração a que fazemos referência não foi uma “reuniãozinha” qualquer, mas um ato que uniu as vontades do rei português, da nobreza lusitana e do Pontífice Romano.
Consagrado Portugal a Nossa Senhora da Conceição, começou tanto na sede do Reino quanto no Brasil um grande entusiasmo de devoção pela Santíssima Virgem sob esse título. A devoção já existia, mas aumentou ainda mais, recebeu um grande impulso; e é nesse contexto que alguém, não sabemos quem, aqui no Brasil, usou barro da região de São Paulo e modelou uma pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição — que hoje é a imagem que nós veneramos no Santuário de Aparecida.
Essa imagem sagrada tinha se quebrado; para não ser descartada no lixo, foi jogada no rio; e justamente aí ela foi “pescada” milagrosamente, primeiro o corpo e depois a cabeça, no ano de 1717. Depois, através dela, Deus começou a operar milagres. Eis como começou a devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida — assim apelidada por ter aparecido milagrosamente numa pesca, sem deixar, no entanto, de ser a Virgem “da Conceição”.
O Brasil nasceu, portanto, debaixo do manto sagrado de Nossa Senhora da Conceição, porque ela foi a eleita de Deus, a escolhida, que esmagou a cabeça da serpente desde o primeiro instante da sua concepção. Esse é o mistério da Imaculada Conceição de Maria. Todos nós, seres humanos, quando passamos a existir no ventre de nossa mãe, estávamos debaixo do domínio de Satanás. Todos fomos concebidos com uma certa escravidão, com uma certa dependência, com um certo jugo de Satanás sobre nós. Esse jugo foi quebrado quando fomos batizados. Tanto que, antes do Batismo, o sacerdote faz um exorcismo sobre a criança; depois, ela é batizada, o Espírito Santo toma posse dela e ela é consagrada a Deus. O que aconteceu conosco só no dia do nosso Batismo, porém, com nossa Mãe bendita aconteceu no instante mesmo de sua concepção, no seio de Sant’Ana. Na alma da Santíssima Virgem, Satanás foi derrotado desde o princípio; ele jamais pôs as garras em Nossa Senhora. Ela é a Virgem Intacta: Satanás jamais teve domínio sobre ela, pois desde o primeiro momento da sua existência ela esmagou a cabeça da serpente.
Diante dessa verdade, então, como não nos confiarmos a ela? Como não recorrer a essa Imaculada Conceição, a essa santíssima Mãe, para que proteja o nosso Brasil nestes tempos tão tremendos em que o jugo de Satanás parece querer imperar sobre a nossa nação? Nos maus costumes, nos pecados, na falta de devoção, na perda da fé, no relativismo e no indiferentismo religioso, nas drogas, no sexo desregrado, nas leis injustas, nas decisões judiciais injustas, na corrupção, na mentira: vejam quanta miséria o nosso país tem passado por nossa culpa, por nossa própria culpa.
Como não voltarmos às origens de nossa verdadeira identidade? Deus sonhou com o Brasil, Deus sonhou com o Brasil quando pediu a Dom Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, que constituísse um Reino para levar o seu nome — o nome de Jesus — aos povos estrangeiros que somos nós, os brasileiros. Deus pensou no Brasil quando, antes mesmo de o Brasil ser descoberto, fez Portugal ter devoção a Nossa Senhora da Conceição. Os reis de Portugal, os professores de Coimbra, todos juravam derramar o seu sangue para defender o dogma da Imaculada Conceição, que ainda não havia sido proclamado. Depois, em 1822, veio a Independência do Brasil, e às vésperas desse acontecimento, o príncipe herdeiro do trono, Dom Pedro I, prometeu consagrar o nosso país a Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
O nosso país nasceu historicamente de Portugal e, quando se tornou independente, nasceu igualmente debaixo do manto sagrado de Nossa Senhora Aparecida. Ao ser proclamada a República, a coroa que a nossa futura imperatriz, D. Isabel, a Princesa Isabel, tinha deixado para Nossa Senhora da Conceição, foi colocada na cabeça de Nossa Senhora Aparecida. Portanto, na nossa República não há um rei, um imperador ou uma imperatriz, mas Nossa Senhora da Conceição Aparecida. É ela, verdadeiramente, a Imperatriz perpétua do Brasil.
Nós temos uma vocação sublime que precisamos viver e honrar. Como nós, brasileiros, podemos viver essa consagração a Nossa Senhora da Conceição Aparecida? Como a podemos viver concretamente? Fazendo com que, para além das palavras, Nossa Senhora seja de fato a nossa rainha, ou seja, precisamos nos consagrar individualmente a ela. Se não temos mais rei nem cortes para consagrar o Brasil, temos os brasileiros que podem consagrar o Brasil consagrando a si próprios.
Entregue, pois, o seu coração a Nossa Senhora da Conceição; para tanto, dê as costas para o pecado. No evangelho de hoje, Nossa Senhora diz: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Para termos Nossa Senhora como nossa Imperatriz e Rainha, precisamos obedecer a Jesus e ter o nosso coração unido ao Coração de Jesus, fazer o que Ele disser. Só dessa forma a serpente será esmagada em nossa nação; só dessa forma seremos verdadeiros filhos e súditos de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Imperatriz perpétua do Brasil.
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