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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
06

Nós sabemos, por fé católica, que aliviar as almas do Purgatório com orações, penitências e esmolas é não somente possível, como constitui para nós um verdadeiro dever, dado que elas nada mais podem fazer em seu próprio benefício. Mas e por nós, essas almas penadas por acaso podem rezar?

Esta questão foi enfrentada de maneira diferente por dois grandes doutores da Igreja: Santo Tomás de Aquino e Santo Afonso Maria de Ligório.

Tomás, o Doutor Angélico, é da opinião de que as almas do Purgatório não podem rezar por nós, e é esta a opinião comum dos teólogos:

Os que estão no Purgatório ainda não gozam da visão do Verbo, para que possam conhecer o que pensamos e falamos. Por isso, não lhes pedimos os seus sufrágios em nossas orações. (S. Th. II-II, q. 83, a. 4, ad 3)

Os que estão no Purgatório, embora sejam superiores a nós devido à impecabilidade, são inferiores a nós quanto às penas que sofrem. Por isso não estão em condição de orar; pelo contrário, é preciso orar por elas. (S. Th. II-II, q. 83, a. 11, ad 3)

Afonso, o Doutor Zelantíssimo, porém, defende a posição contrária argumentando o seguinte:

Pergunta-se: é útil recomendar-se às orações das almas do purgatório? Alguns dizem que as almas do purgatório não podem rezar por nós. São levados pela autoridade de Santo Tomás que afirma estarem aquelas almas em estado de expiação, e, por isso, inferiores a nós. Não se acham em condição de rezar por nós, mas, pelo contrário, necessitam de nossas orações.

Mas muitos outros doutores, como Belarmino, Sílvio, Cardeal Gotti e outros afirmam, com muita probabilidade, que se deve crer piamente que Deus manifesta-lhes nossas orações, a fim de que aquelas santas almas rezem por nós, como nós rezamos por elas. Assim se estabelecerá entre nós e elas este belíssimo intercâmbio de caridade. Não obsta, como dizem Sílvio e Gotti, o que diz o Angélico, isto é, que as almas padecentes não se acham em estado de rezar. Uma coisa é não estar em estado de rezar e outra é não poder rezar. É verdade que aquelas almas santas não se acham em estado de orar. Como diz Santo Tomás, estando no lugar de expiação, elas são inferiores a nós e por isso necessitam das nossas orações. Contudo, em tal estado, bem podem rezar, porque estão na amizade de Deus. Se um pai, apesar de seu grande amor ao seu filho, conserva-o encarcerado por alguma falta cometida, o filho, em todo o caso, não está em condições de pedir alguma coisa para si mesmo. Entretanto, por que não poderá pedir pelos outros? Por que não poderá esperar ser atendido no que pede, conhecendo o afeto que lhe tem o pai? Sendo assim, as almas do purgatório, muito mais amadas de Deus e confirmadas em graça, podem rezar por nós. Mas não é costume da Igreja invocá-las e implorar sua intercessão, porque, segundo a providência ordinária, elas não têm conhecimento de nossas súplicas. Todavia, acredita-se piamente, como dissemos, que o Senhor lhes faz conhecer as nossas preces e, então, cheias de caridade não deixam de pedir por nós. Santa Catarina de Bolonha, quando desejava alcançar alguma graça, recorria às almas do purgatório e era imediatamente atendida. Até dizia que muitas graças, que não havia obtido pela intercessão dos santos, conseguia invocando as almas do purgatório. [1]

Como a Igreja ainda não possui uma definição a esse respeito, cabe a cada fiel optar, livremente, pelo parecer teológico que considerar mais apropriado. Quem opta por pedir a intercessão das almas do Purgatório, porém, não se deve esquecer que essas almas, mais do que intercessoras, necessitam do auxílio e da caridade da Igreja militante. Mesmo se rezamos a elas, não deixemos jamais de rezar por elas.

Referências

  1. A Oração (c. I, n. 16). 4. ed. Aparecida: Santuário, 1992, pp. 29-30.

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