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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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É correto afirmar que o céu não é um lugar? Será ele apenas um estado de comunhão com Deus, mas não um espaço físico? Antes de mais nada, é preciso lembrar que o céu tem a ver com corpos, os quais são inegavelmente materiais. Ora, sendo materiais têm a ver com espaço. Portanto, não é possível descartar totalmente a afirmação de que o céu não é um lugar. O homem é uma criatura de Deus, constituída de corpo e alma, assim, sendo o céu a comunhão de Deus com o homem não é possível excluir o corpo.

A comunhão entre o Deus e o homem existe desde agora, na pessoa de Jesus Cristo, cujo corpo foi ressuscitado e transformado, conforme se vê no Evangelho de São Lucas:

"Enquanto ainda falavam dessas coisas, Jesus apresentou-se no meio deles e disse-lhes: A paz esteja convosco! Perturbados e espantados, pensaram estar vendo um espírito. Mas Ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas nos vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés, sou eu mesmo; apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho. E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. Mas, vacilando eles ainda e estando transportados de alegria, perguntou: Tendes aqui alguma coisa para comer? Então ofereceram-lhe um pedaço de peixe assado. Ele tomou e comeu à vista deles." (24, 36-43)

No céu, além do corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, está também o corpo de sua Mãe Santíssima. Sim, ela foi elevada à glória celestial de corpo e alma, conforme se vê na Constituição Apostólica do Papa Pio XII, Munificentissimus Deus, que justamente definiu o dogma da assunção em corpo e alma ao céu, que diz:

"44. "Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial"."

No final dos tempos toda a criação - transformada - estará unida com Deus. Isto afirma o Catecismo da Igreja Católica, em seu número 1060:

"No final dos tempos, o Reino de Deus chegará à sua plenitude. Então, os justos reinarão com Cristo para sempre, glorificador em corpo e alma e o próprio universo material será transformado. Então Deus será 'tudo em todos', na Vida Eterna."

O Catecismo também apresenta, a partir do número 1042 até o 1050, o conceito da palingenesia, ou seja, da nova geração do universo. Existe uma relação entre a felicidade eterna do homem e o universo. Deus criou o homem do barro, soprou sobre ele o seu Espírito, mandou que se multiplicasse e dominasse a terra:

"Então Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra." Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: "Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra." Deus disse: "Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente, para que vos sirvam de alimento." (Gênesis 1, 26-29)

Assim, o mundo é do homem que o deve dominar, segundo a vontade de Deus. Isso não quer dizer, em absoluto, que o homem possa destruir a natureza, porque Deus é o Criador de tudo e, por respeito a Ele, não é possível macular aquilo que Ele fez. Porém, a relação entre Deus e o homem foi perturbada pelo pecado. O mesmo livro sagrado esclarece de maneira metafórica a ruptura ocorrida:

"E disse em seguida ao homem: "Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar." (3,17-19)

A harmonia entre o homem e o cosmos foi perturbada pelo pecado. Ora, Jesus é o Redentor e veio para redimir o todo. Por isso, São Paulo diz aos Romanos:

"Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada. Por isso, a criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus. Pois a criação foi sujeita à vaidade (não voluntariamente, mas por vontade daquele que a sujeitou), todavia com a esperança de ser também ela libertada do cativeiro da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Pois sabemos que toda a criação geme e sofre como que dores de parto até o presente dia. Não só ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos em nós mesmos, aguardando a adoção, a redenção do nosso corpo." (8, 18-23)

Haverá, portanto, 'novos céus e nova terra' (cf. 2Pd 3,13) e, assim, não se pode dizer que o céu - comunhão plena e perfeita com Deus - será algo completamente fora das noções de espaço e lugar. Contudo, por tratar-se de uma regeneração, de uma transfiguração do universo, significa que o conceito de lugar e de espaço, embora tenha a ver com esse novo mundo, não expressa plenamente o que ele será. Trata-se de um mistério.

Após a ressurreição, Jesus entrava e saía de lugares, atravessava portas, comia e bebia, conforme se lê no relato já mencionado do Evangelho de Lucas, portanto, era uma presença, um corpo transformado, diferente da realidade humana. O Cardeal Ratzinger, em seu Manual de Escatologia - Morte e Vida Eterna, na página 235 da edição italiana diz: "Ao céu não se pode dar uma definição topográfica nem pode ser colocado dentro ou fora de nossa estrutura de espaço. No entanto, ele não pode nem mesmo ser separado tentando fazer dele simplesmente um estado, uma situação, não pode ser totalmente separado do conjunto do cosmos. Na realidade, estamos falando aqui de um poder universal que compete ao novo 'espaço do corpo de Cristo', o espaço da comunhão dos santos."

Haverá um novo espaço, um novo conceito de lugar, do qual não se tem experiência, portanto, dizer simplesmente que não há um lugar é inexato, da mesma forma que dizer que há um lugar já experimentado também o é. Diante do mistério a reflexão teológica pode ajudar, porém, para entender realmente o que é o céu é preciso recorrer à comunhão com Deus, com o Corpo de Cristo. Como isso se dará não é possível precisar, mas já se pode experimentar misteriosamente aqui na Terra por meio do sacramento da Eucaristia.

A comunhão eucarística permite uma experiência de um novo conceito de espaço, pois em cada hóstia Cristo está presente como um todo, em cada fragmento é Ele totalmente porque não se trata de uma presença espacial, mas de uma presença substancial. E assim, toca a cada um de maneira espiritual, mas também de forma física.

Na Eucaristia começa a experiência do novo lugar que é o céu e da nova terra, um novo espaço, um novo cosmos. No Pão e no Vinho eucarísticos tem-se o cosmos transformado onde o Cristo, já é agora, o tudo em todos.

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